Tendências globais no desenvolvimento de lideranças

Assumi, no início de 2023, a tarefa de coordenar nacionalmente o Polo de Lideranças do Sistema SEBRAE. Uma de minhas atividades iniciais que me autoimpus foi a de buscar conhecer as principais tendências globais no tema desenvolvimento de lideranças. Afinal, é fundamental conhecer as referências internacionais e incluí-las no plano de trabalho do Polo. Compartilho, neste artigo, algumas das principais tendências que identifiquei até o momento.

Para melhor compreender as tendências é importante responder a um questionamento que permeia todo esse tema. Por que liderança tem se tornado um assunto tão relevante no mundo? A resposta a essa pergunta passa por entender que liderança contempla a habilidade de motivar e inspirar as pessoas. Também envolve a habilidade de entender e responder as pressões de um ambiente cada vez mais complexo, com mudanças ocorrendo de forma cada vez mais rápida, seja na economia, seja nos comportamentos. Nesse cenário, líderes devem desenvolver um conjunto de competências que os ajude na condução de processos de mudança, enfatizando a adaptabilidade e formas de responder a essas situações complexas. O líder do futuro deverá entender mais o que ocorre no ambiente externo a sua organização se quiser se manter à frente dos processos de mudança.

Diante desse cenário, dois pontos merecem mais atenção. O primeiro é que o aumento da velocidade das mudanças, da complexidade e volatidade do ambiente gera uma demanda crescente por novas lideranças pelas organizações. O segundo ponto é a crise gerada pelo desengajamento dos colaboradores das organizações para as quais trabalham em função de que o fator lealdade organizacional é percebida de forma diferente para as novas gerações de colaboradores.

Principais tendências identificadas no desenvolvimento de lideranças

1) O relatório da Delloite 2015 sobre tendências do capital humano global sugere que as organizações devem adotar um processo contínuo de desenvolvimento de lideranças em todos os níveis e não somente no alto escalão. O desenvolvimento de mais colaboradores transforma a organização pela introdução dos benefícios da liderança efetiva e supre as necessidades dos níveis mais altos da governança corporativa com novos talentos da casa

2) O aumento na ênfase da liderança com maior capacidade de interpretação dos fatores do ambiente externo exige desenvolvimento de lideranças com consciência do ambiente econômico e social na qual a organização está inserida. Entender as tendências e modelar mercados e tecnologias, desenvolver previsões além de reagir a elas. É necessário ter capacidade de entendimento e apreciação da diversidade cultural dos negócios, dos diferentes setores de diferentes partes do mundo. A liderança também envolve cooperação, reciprocidade e estabelecer alianças com outras organizações.

3) A emergência das estratégias coletivas de liderança: essa abordagem de desenvolvimento de liderança afasta-se da figura icônica de um líder. O modelo de liderança coletiva propõem que um time de lideranças que exemplificam as qualidades que formam um líder moderno atenderão melhor às demandas da volatilidade, incertezas, complexidade e ambiguidade do ambiente de negócios. Propõem a transformação da cultura da hierarquia e do comando e controle para uma cultura de adaptação, agilidade e networks interdependentes, o que é mais apreciado pelos jovens colaboradores mais talentosos.

4) A emergência do líder millennials (primeira geração a crescer na realidade das mudanças rápidas das novas tecnologias) nas linhas das organizações: eles estão trazendo seus valores e atitudes para dentro do mundo corporativo. Não acreditam tanto em hierarquia, procuram relações mais horizontalizadas. Os colaboradores millennials são agressivos sobre o desenvolvimento de suas carreiras, sendo que uma de suas expectativas é de se desenvolverem como lideranças efetivas.

5) Uma definição ampliada sobre o que é "quem" pode ser um líder: definitivamente, liderança não pode ser entendida como posição formal dentro da organização, mas sim a atuação bem-sucedida nos mais diversos papéis. São responsabilidades e atitudes que definem o líder, independentemente da posição que esteja dentro da organização.

6) Inovação em métodos de desenvolvimento de liderança: a adoção de uma abordagem mais ampla, na qual um indivíduo participa no design de seu próprio processo de desenvolvimento, usando ferramentas e métodos a sua própria escolha. A ênfase na inovação também se deve aos millennials com seus valores anti-hierárquicos e habilidade em tecnologias. As tecnologias representam um papel central em inovação, com mais conteúdo sendo entregue através de tecnologias móveis, que estão disponíveis em todos os lugares.

7) Transferência da responsabilidade do desenvolvimento para o próprio empregado: as pessoas se desenvolvem mais rapidamente quando são responsáveis pelo seu próprio progresso de desenvolvimento. Isso torna o desenvolvimento de lideranças mais fácil.

As sete tendências apontadas nesse artigo refletem o impacto direto no ambiente de negócios gerado pela velocidade das mudanças no mundo globalizado, pela incorporação das novas tecnologias e inovação que transformam o ambiente de negócios em algo mais complexo e volátil, bem como na mudança do comportamento social praticado pelos millennials não esgotam o assunto, mas reforçam a necessidade de que os processos de desenvolvimento de lideranças efetivas tenham um olhar muito mais atento ao que está acontecendo no ambiente externo das organizações