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O uso de celulares em sala de aula tem gerado intensos debates no Brasil, principalmente em relação ao impacto que esses dispositivos podem ter no desenvolvimento de crianças e adolescentes. A Proposta de Lei 104/2015, que trata da proibição do uso de celulares nas escolas públicas e privadas, reacende a discussão sobre os limites necessários para preservar a saúde mental e o rendimento escolar.
Diversos estudos apontam os impactos negativos do uso excessivo de telas. O uso prolongado de celulares está associado à liberação descontrolada de dopamina, um neurotransmissor relacionado ao prazer. Isso gera uma sensação de recompensa instantânea que pode, com o tempo, dificultar a concentração, a capacidade de lidar com frustrações e o desempenho escolar.
Outro efeito colateral significativo é a dificuldade de retenção de informações. A exposição constante a notificações, redes sociais e jogos digitais torna o ambiente escolar menos atrativo e leva os alunos a terem menor engajamento com o aprendizado. Pesquisas mostram que crianças expostas precocemente às telas têm maior probabilidade de apresentar problemas como déficit de atenção, dificuldades em interações sociais e aumento nos níveis de ansiedade e depressão.
Quando estava no ambiente escolar, lembro que a maior atração era uma mesa de ping-pong, até quem não sabia jogar ficava em volta acompanhando o jogo. Estudei em colégio público, lá não tinha a estrutura dos colégios particulares dos meus filhos, mas nós tínhamos criatividade para brincar, trazíamos objetos de casa para poder brincar de elástico, arremesso ou bafo.
O uso de telas impede a socialização e diminui o interesse por atividades físicas, fico muito preocupada com a sociedade que estamos criando com esse excesso desmedido.
Sei que a responsabilidade não é única da escola, pelo contrário, é mais ainda dos pais, só que a escola é um ambiente descontrolado, sem supervisão dos pais que costumam se preocupar com a quantidade do uso da tela e o conteúdo que podem acessar. Meus filhos são controlados em casa, o mais velho foi ter celular e videogame com 16 anos, o mais novo já tem iPad, especialmente para se comunicar com o pai, mas os jogos são controlados, tendo apenas 30 minutos de tempo por dia, salvo permissões pontuais que libero pelo meu celular mediante a realização da lição de casa ou outra tarefa doméstica.
Canais do YouTube são bem preocupantes, pois alguns Influencers infantis apresentam conteúdos nada valorosos, assim, em casa somente pode assistir o que aprovo previamente. Mesmo assim não é fácil, se dependesse exclusivamente de mim ele usaria apenas o telefone fixo.
Quando o meu filho ganhou o iPad notamos uma alteração no comportamento, pois não queria mais fazer lição de casa e brincar com seus brinquedos e vizinhos. Por isso passei a usar o limitador de tempo. A verdade é que vamos nos adaptando com a realidade e tentando acertar para que no futuro eles não sofram.
Esse exemplo é de uma família que tem estrutura para se preocupar com os reflexos do uso de telas; agora, fico imaginando uma família composta por uma mãe e cinco filhos, em que ela precisa trabalhar 8 horas por dia e perde mais 2 horas no transporte, tendo que limpar a casa e pagar todas as contas sozinha. Como ela poderá fazer qualquer controle e não se socorrer ao celular para conseguir minimamente se comunicar com os seus filhos? Seria mesmo o excesso de tela uma preocupação principal para esse modelo de família?
O Estado deve se ater às famílias que não tem essa estrutura, então, além do controle nas escolas, se deve preocupar em conscientizar os pais e alunos sobre a necessidade do controle das telas, visando, especialmente, a saúde mental e o futuro cognitivo dessas crianças.
As telas nos dão acesso a muito conhecimento, sem dúvidas a internet é muito mais eficiente do que a Barsa, mas deve ser usada de forma controlada pelas crianças, pois além do conteúdo positivo, elas podem acessar conteúdo não recomendado para a idade, bem como ser vítimas de criminosos virtuais.
Em resumo, o PL 104/2015, com o substitutivo apresentado pelo deputado federal Diego Garcia, prevê:
- Uso do celular proibido em todas as etapas da educação básica (educação infantil até o ensino médio) em sala de aula, no recreio e nos intervalos de aula;
- Uso permitido para fins pedagógicos sob orientação de educadores, ou para promover acessibilidade de alunos com deficiência;
- Uso permitido em situações de estado de perigo, estado de necessidade ou caso de força maior;
- Todos os alunos poderão portar o celular, mas sem utilizá-lo.
Esse modelo apresentado, a meu ver, atende tanto questões pedagógicas, quanto outro problema que poderia surgir com a proibição total do celular: a impossibilidade de provar a doutrinação política nas escolas, algo hoje tão recorrente.
Assim, a previsão acrescida de que o aluno poderá portar o celular na mochila e utilizá-lo como medida de proteção, possibilita que alunos e pais não percam uma ferramenta de denúncia contra possíveis casos de doutrinação política ou práticas inadequadas em sala de aula.
Se pudéssemos sugerir mais uma medida para evitar esse malefício que, infelizmente, algumas direções escolares e professores não tem o bom senso para não fazer, poderíamos propor a instalação de câmeras nas salas de aula, com a obrigação de fornecimento de imagens e áudio aos pais. Essa tecnologia permitiria que os responsáveis acompanhassem as aulas em tempo real ou sob demanda, por meio de um aplicativo vinculado à escola. Isso promoveria transparência no processo educativo, dedicando o ambiente escolar exclusivamente ao aprendizado.
O avanço tecnológico é inevitável, mas isso não significa que crianças e adolescentes devam ter acesso irrestrito às telas. Pelo contrário, a formação digital deve ser orientada e controlada pelos pais e pelas escolas. É essencial que os educadores trabalhem em conjunto com as famílias para criar uma cultura de uso consciente da tecnologia, respeitando as etapas de desenvolvimento das crianças e priorizando o ensino presencial e interativo.
A PL 104/2015 surge como um passo importante para garantir que o ambiente escolar seja preservado como um espaço de aprendizado e formação cidadã. Proibir o uso de celulares nas escolas é uma medida que deve ser complementada por políticas públicas que reforcem a importância da interação social, do contato humano e do aprendizado sem distrações tecnológicas.
O Estado deve promover a proteção à saúde mental das crianças, sem esquecer da necessária conscientização da família, através de palestras, cartilhas e outros meios de publicidade preventiva, para que todos juntos, estejam imbuídos na formação de uma sociedade melhor.
Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima