O Wall Street Journal fez uma excelente reportagem sobre os ICOs – “initial coin offering”, os lançamentos de ações de empresas na forma de criptomoedas. O jornal analisou 1450 ofertas de moedas e descobriu que 271 são pura picaretagem. Entre as fraudes, há projetos que não existem, textos copiados de outros sites e identidades e fotos falsas dos fundadores das empresas.
Um exemplo é a Denaro, que prometia aos investidores criar um “ecossistema de pagamentos que faz a ponte entre as criptomoedas e o mercado tradicional”. A moeda, que arrecadou 8,3 milhões de dólares em março, tinha Jeremy Boker como um dos fundadores.
Quem é Jeremy Boker? Bem, é simplesmente um personagem. Sua identidade é falsa, seu currículo é falso, sua foto é na verdade do banqueiro polonês Jenish Mirani.
O jornal descobriu 121 casos parecidos – sem o nome dos coordenadores ou com identidades falsas dos membros da equipe. A Premium Trade, por exemplo, usou fotos de bancos de imagens para ilustrar seus cinco fundadores imaginários. A foto de Andrew Ravitsky, suposto fundador, também é a do Dr. John Watsan no site de um curso de cardiologia.
Em outras 111 moedas, o “white paper”, documento que descreve a missão da empresa e a remuneração dos investidores, tem plágios de outros projetos.
A LoopX diz na descrição do projeto que “ao longo desta jornada, encontramos grandes parceiros e mentores que estão fortemente comprometidos e entusiasmados para trabalhar com a nossa visão sempre à frente”. O trecho, na verdade, foi copiado e colado do site de outra startup, a UTrust.
Até fevereiro, quando desapareceu da internet, a LoopX tinha obtido 4,5 milhões de dólares de investidores. Ao todo, os 271 ICOs que o Wall Street Journal identificou como fraudes já arrecadaram mais de 1 bilhão de dólares.
Em alguns casos, o golpe acontece diversas vezes. Dias depois do site da Denaro sair do ar, surgiu na internet um projeto muito parecido – o da Pluto Coin (nome comum a outras criptomoedas). Tinha o mesmo “white paper” da Denaro, as mesmas fotos dos coordenadores, mas com nomes diferentes.
A tecnologia dos ICOs é promissora – deve revolucionar o mercado de capitais e pode ajudar empresas (e governos) a conseguir recursos com investidores do mundo todo. Há projetos sérios e milionários nesse ambiente – mas, como mostrou o Wall Street Journal, não faltam contos do vigário do século 21 nesse novo mercado.
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