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O bitcoin e os bares de Facundo Guerra

Facundo Guerra abre um bar. Nas primeiras semanas, só os jornalistas de gastronomia, só os DJs e os paulistanos mais hipsters conhecem. O lugar é lindo, tem drinks incríveis, espaço de sobra e garçonetes cheias de tatuagens.

Satoshi Nakamoto cria o bitcoin. Nos primeiros anos, só os caras de TI, só os libertários e os investidores mais informados conhecem. O conceito é revolucionário, a moeda custa centavos; há espaço de sobra para outras invenções.

Logo depois o novo bar de Facundo Guerra recebe os “wannabes”, a massa de quase-descolados. O hipster do trabalho domina o almoço ao contar para os colegas sobre o nova balada de São Paulo. Grupos de amigos marcam encontros por lá. Tem muita gente falando sobre o lugar – não dá pra não ir.

O bitcoin aos poucos desperta a atenção da turma que só investe no fundo DI. Grupos sobre bitcoin invadem o Facebook. O nerd do trabalho domina o jantar na casa da namorada ao responder todas as perguntas que o sogro tem sobre o assunto. Tem muita gente falando sobre criptomoedas – não dá pra não investir.

Não demora para o bar de Facundo Guerra ficar insuportável de cheio. Há fila de 40 minutos para entrar. Lá dentro não tem mesas sobrando: é preciso pagar caro para beber em pé. As pessoas começam a se perguntar se realmente vale a pena frequentar aquela balada.

Não demora para as criptomoedas ficarem insuportáveis de caras. No ápice da bolha, quem está fora precisa pagar caro demais para entrar, quem está dentro se pergunta se o investimento realmente vale a pena.

Semanas depois, ninguém mais aguenta falar sobre criptomoedas ou sobre o bar do Facundo Guerra. O público do bar e o preço do bitcoin despencam. Só os hipsters que descobriram a balada seguem frequentando; só os libertários e nerds que descobriram o bitcoin continuam investindo.

Alguns bares de Facundo Guerra duram mais que os outros – o que também acontece com as criptomoedas. O Riviera lembra o bitcoin: na esquina da Paulista com a Consolação, terá sempre uma importância, uma força gravitacional. Outros (Volt, Mirante 9 de Julho) são meteóricos: como iota e ripple, dão o que falar numa semana, mas na seguinte ninguém mais se lembra deles.

O bitcoin vive neste mês o momento de ressaca: é legal, é interessante, mas já teve dias melhores. Não é mais novidade.

Mas espere um momento: Facundo Guerra abriu um novo bar! Desta vez, no subsolo do Theatro Municipal. O lugar é incrível: no meio de arcos e galerias por onde passaram cantoras de ópera. Como assim você ainda não conhece?

E uma nova notícia apareceu sobre bitcoin. Há rumores de que a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos deve aprovar fundos de índice baseados em contratos futuros da moeda. Se isso acontecer, o preço volta à estratosfera. Como assim você ainda não investiu?

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