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US$ 7 bilhões de prejuízo: o que aprender com os piores traders da história

Aos 36 anos, Liu Qibing era uma estrela entre os jovens operadores do Escritório de Reservas Estatais da China. Com sorte para prever os movimentos do preço dos metais, fez o governo chinês ganhar mais de 300 milhões de dólares na London Metal Exchange ao apostar na alta do preço do cobre entre 2003 e 2005.

Em 2005, Liu achou que o cobre estava caro demais e decidiu apostar na queda. A China anunciaria o aperto da política monetária, e o operador acreditava que esse anúncio impactaria no preço dos metais. Mas o cobre continuou subindo.

Liu poderia ter realizado a perda e saído do mercado sem grandes prejuízos. Mas confiava demais em si próprio e não queria dar uma má notícia aos chefes. Resolveu dobrar a aposta para compensar as perdas. Mas o cobre continuou subindo. Estávamos no início da alta das commodities que culminaria em 2010.

Liu decidiu triplicar a aposta. Em novembro, quando a tonelada do cobre disparou para 4100 dólares, o operador sumiu do Escritório de Reservas Estatais deixando um prejuízo estimado em 1,2 bilhão de dólares para o governo chinês.

Como Liu Qibing, o francês Jérôme Kerviel causou um prejuízo de 7 bilhões de dólares ao banco Société Générale, em 2008. Apostou 73 bilhões de dólares (mais que o PIB do Uruguai) em contratos futuros de índices. E o inglês Nick Leeson causou a falência do Barings Bank em 1995, ao perder 1,4 bilhão de dólares no mercado de opções.

O roteiro desses investidores desastrosos é similar. Depois de alguns negócios bem-sucedidos, o jovem trader é tomado pelo excesso de confiança. Quando o negócio começa a azedar, ele se nega a realizar a perda – e toma a decisão contrária de se arriscar ainda mais. Cria assim uma espiral que só termina com prejuízos bilionários.

Em “Adaptative Markets”, livro sobre a influência da evolução do comportamento humano no mercado financeiro, o professor de finanças Andrew W. Lo descreve essa bola de neve de decisões erradas:

Uma perda inicial faz o operador iniciante entrar em pânico. Em vez de limitar o prejuízo realizando a posição, ele toma o caminho menos dolorido psicologicamente e aumenta sua aposta, na esperança de que o mercado mude e reverta as perdas. Esse é um erro de novatos, chamado de “dobrar a aposta”, o exato oposto de “reduzir suas perdas”. Mas às vezes dobrar a aposta funciona, e o operador se sente aliviado por ter evitado o abismo.

Se isso acontece, ele aprende a lição errada: vale a pena dobrar a aposta diante de prejuízos. A próxima vez que ele perder dinheiro – e sempre há uma próxima vez – ele dobra a aposta de novo. Mas desta vez isso não funciona – e o prejuízo fica ainda maior. O que fazer? Realizar a perda já não é uma opção, porque sua decisão de ter dobrado a aposta certamente causará sua demissão, na melhor das hipóteses.

 O que levou esses investidores a prejuízos bilionários não foi nenhuma anomalia psicológica, mas a tendência humana de aversão à perda. Diante de lucros, tendemos a evitar imprevistos; diante de prejuízos, aumentamos o apetite ao risco. Por isso uma das recomendações mais repetidas para os analistas, operadores e especuladores é tomar a atitude contrária: “reduza suas perdas e aproveite os lucros”.

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