O principal cientista nuclear iraniano morreu depois que o carro em que viajava pelos arredores da capital Teerã foi metralhado. Mohsen Fakhrizadeh era o Maradona do programa nuclear iraniano. Ele comandava as pesquisas que o regime dos aiatolás considera fundamental não apenas para sua sobrevivência, mas também para destruição do Estado de Israel. Há 40 anos, os iranianos perseguem o sonho da bomba atômica.
Em janeiro deste ano, a morte do general Qasem Soleimani, em um bombardeio no Iraque, foi motivo de muito choro e ranger de dentes dos iranianos. Analistas nos quatro cantos do planeta caíram no conto do regime que dizia que a história seria reescrita a partir daquela tragédia militar. O mundo não acabou.
Em menos de um ano, o Irã perdeu seu maior general e agora seu principal cientista. As duas peças são conectadas, pois Fakhrizadeh não dava expediente para melhorar a vida de compatriotas gerando energia farta e mais barata. Ele era um dos nomes mais importantes do regime teocrático que joga com uma profecia escatológica que prevê que, para o juízo final chegar e todos os crentes (no caso só os muçulmanos) possam gozar dos benefícios da vida eterna, é preciso destruir Israel.
Em 1979, quando os aiatolás expulsaram o xá Reza Pahlevi e deram início a ditadura teocrática que segue comandando o país, as obras da primeira usina nuclear iraniana foram abandonadas. Nos anos 80, as instalações foram bombardeadas pelo Iraque. Inviabilizada, a usina de Bushehr virou a compulsão dos aiatolás. Era o sonho de Soleimani e uma das missões de Fakhrizadeh. A tecnologia empregada naquela instalação produziria um tipo de rejeito fundamental para construção da arma nuclear. Teerã então entregou a missão para os russos que atravessaram décadas sem conseguir fazer funcionar a usina, cujo projeto original é alemão.
Em 2007, entretanto, Teerã mudou o jogo. Em uma visita a Caracas, o então presidente Mahmoud Ahmadinejad pediu ao venezuelano Hugo Chávez a intermediação para conseguir na Argentina uma cópia dos projetos da Usina de Atucha, uma usina “gêmea” a de Bushehr. Chávez prometeu ajudar.
Nunca se provou que o governo que Cristina Kirchner traficou os segredos nucleares para Teerã. Mas um fato temporal é perturbador. Apenas três anos após aquele encontro entre Chávez e Ahmadinejad em Caracas, o Irã conseguiu colocar para funcionar a instalação nuclear que nos 31 anos anteriores era o maior desafio tecnológico para os planos atômicos dos aiatolás.
Bem, sem o mapa do caminho os iranianos não teriam avançado em três anos o que não foram capazes de fazer em trinta.
Em 2010, em um delírio da diplomacia altiva de Celso Amorim, o governo Lula se meteu na esparrela de tentar costurar, com a ajuda da Turquia, um acordo nuclear com Irã. Os aiatolás estavam em plena construção de uma usina com documentos certamente contrabandeados de Buenos Aires, enquanto Lula achava que ganharia o Nobel da Paz negociando com os mestres das dissimulações. Uma idiotice que tinha tudo para dar errado, pois o que o Irã queria – e os turcos e brasileiros ajudaram – era apenas ganhar tempo.
Naquele ano, prestes a inaugurar Bushehr e fazendo fanfarra com a turma de Lula e Amorim, os iranianos esperneavam para não enviarem para depósito no exterior os 1.200 quilos de urânio pobremente enriquecido que eles tinham em poder. Cinco anos depois, quando Barack Obama fechou o acordo com os iranianos, os estoques de urânio já ultrapassavam as 10 toneladas. Entre a alucinação lulista e a realidade firmada por Obama, o Irã fez seu programa prosperar nas sombras. E, claro, o enriquecimento do urânio já havia atingido outro patamar.
Recentemente, a Agência Internacional Atômica, que é vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), revelou uma das evidências mais fortes de que os aiatolás jamais interromperam seu programa clandestino. Segundo a agência, o Irã tem violado sistematicamente os acordos. Fatos que são há tempos denunciados pelos governos de Israel e dos Estados Unidos, que na administração atual rompeu os acordos com o Irã, por considerar que os persas jamais os cumpriram.
O atendado de que vitimou o cientista-chefe do programa nuclear iraniano tem mais potencial para elevar a temperatura na região que a morte de Qasem Soleimani. A morte de Fakhrizadeh é um sinal claro de que o seu programa nuclear está (literalmente) na mira.
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