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Leonardo Coutinho

Leonardo Coutinho

Brasil, América Latina, mundo (não necessariamente nesta ordem)

Apenas provocação?

A perigosa amizade do Brasil com o regime iraniano

O então presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e Lula em encontro em Brasília, em novembro de 2009 (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

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O Irã anunciou que dois de seus navios de guerra atracariam no Porto do Rio de Janeiro. Mas os navios nunca chegaram. A visita, que não aconteceu, causou barulho. O regime dos aiatolás aproveitou o retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao poder para usar o Brasil como trampolim para uma jornada, que oficialmente, é de provocação aos Estados Unidos. O que pode ter acontecido no caminho?

O jornal Folha de S.Paulo publicou uma parte da história. O Irã, que havia pedido autorização para seus navios de guerra atracarem no Brasil entre os dias 23 e 30 de janeiro, teria mudado de ideia e propositalmente postergado o desembarque para que coincidisse com a visita do presidente Lula aos Estados Unidos. O Brasil, segundo a mesma notícia, não aceitou ser sócio na provocação. Uma nova data prevista é de 26 de fevereiro a 3 de março – mais de um mês de atraso em relação ao cronograma original. A história parece esclarecida. Mas só que não.

O que fez o Irã mudar de planos? Ou quais seriam os planos do Irã? Seria mesmo apenas provocação?

Os navios que o Irã mantém neste momento, em algum lugar do Atlântico Sul, próximo às águas territoriais de Argentina, Uruguai e Brasil, são a fragata e um ex-petroleiro adaptado como um porta-helicópteros e que vem a ser a maior embarcação da marinha iraniana. Este segundo é um autêntico posto de combustível flutuante. Capaz de transportar em seus tanques milhões de litros de combustível (originalmente 11 milhões), o navio tem autonomia para navegar meses (os iranianos juram que por dois anos) sem a necessidade de recorrer a fonte externa de abastecimento. Além de autossuficiência, seus tanques são a fonte de combustível para outras embarcações. Assim, os dois navios estão dando a primeira volta ao mundo e incluindo o Brasil no mapa da confusão.

O regime iraniano é especialista em dissimulações. Mas a constante busca por desestabilização por meio do jogo que une propaganda, ameaças e segundas intenções pode não explicar completamente o esforço dos aiatolás e sobretudo o atraso no plano de provocar o Grande Satã.

A resposta pode estar em um par de voos realizados pela Força Aérea dos Estados Unidos apenas uma semana antes da previsão original de chegada dos navios ao Brasil. No dia 16 de janeiro, os americanos enviaram para América do Sul um avião cuja capacidade é identificar na atmosfera atividade nuclear. O avião WC-135R Constant Phoenix 64-14836, também apelidado de “farejador nuclear”, partiu de Porto Rico, passando pela borda das águas territoriais da Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa e parte do Brasil, mais precisamente até as proximidades do Estado do Espírito Santo. Por sinal, o mesmíssimo caminho que as embarcações iranianas planejam fazer para alcançar o canal do Panamá.

O mesmo avião contornou a América do Sul no sentido oposto ao anterior. Coletou dados do Mar do Caribe, da porção norte da costa da Venezuela e das águas da Colômbia, Equador e Peru. Nessa rota, sobrevoou o canal do Panamá, o “ponto alto” da viagem da flotilha iraniana.

O registro da baseline da radiação na América do Sul pode ter se transformado em um problema para os aiatolás. Não é de hoje que eles perseguem o poder de ter uma bomba atômica. Também não é de hoje que o regime chavista e seus xerimbabos regionais dão suporte para os planos nucleares de Teerã.

As medições prévias dos níveis de radiação da Venezuela e da rota sul-americana dos navios iranianos não podem ser tratadas como se fossem um capricho imperialista americano. Assim como não se deve ignorar que o esforço do Irã para ser capaz de colocar seus navios “em qualquer oceano” não deve ser ignorado como parte de suas trapaças visando uma bomba atômica.

O registro dos níveis naturais de radiação de parte da América do Sul pode ser a razão de os iranianos terem mudado o calendário e secretamente ajustado os seus planos. Caso os seus navios estivessem transportando material radioativo ou armas para testes offshore (possivelmente na Venezuela), os Estados Unidos poderiam identificar as anomalias na atmosfera em comparação com o padrão medido na região de forma preventiva.

Nem tudo que o regime iraniano faz é, de fato, o que parece ser. A confusão é uma de suas armas mais eficientes. Mas, nesse caso, potencialmente nuclear, eles estariam diante de um dilema. Se depois de anos de movimentos nas trevas eles conseguiram desenvolver um aparato nuclear que está pronto para os testes, com o uso da Venezuela (ou qualquer outro lugar na América do Sul e no Caribe) como base offshore para uma explosão nuclear, os vestígios da bomba poderão ser “farejados”.

O falecido Hugo Chávez moveu mundos e fundos para desorganizar o mundo. Ajudar o Irã a se tornar uma potência nuclear era um de seus objetivos. Chávez morreu em 2013 e deixou o caminho pavimentado para muitos de seus projetos em curso. Seu sucessor, Nicolás Maduro, apesar de menos capaz que seu criador já falecido, tem se saído muito bem no trabalho de dar sequência ao plano.

É, evidentemente, muito fácil tratar tudo isso como teoria da conspiração, pelo aspecto absurdo e quase fantástico que envolve as ações dos bolivarianos e seus patronos extrarregionais. Mas é justamente isso que eles querem que as pessoas pensem sobre os seus planos. Foi assim que Chávez, por exemplo, chegou aonde chegou e fez o que fez. Visto como excêntrico e palhaço, ele marchou adiante e com ele muita gente que está no poder. Seja na Venezuela, seja fora dela.

A política externa petista nutre amizade e um perigoso nível de cumplicidade “Sul-Sul” com regimes e governos que, sob o pretexto da multipolaridade, não medem muitos os esforços para tocar fogo em algumas partes do mundo. Portanto, a tolerância do Brasil – ou o apoio, embora aparentemente o governo Lula tenha pedido ao Irã para ter um pouquinho de compostura – à militarização da região por parte de potências que estão do outro lado do mundo não tem como ter um resultado positivo nem para o Brasil, nem para o seu entorno.

A tal altivez da “diplomacia Sul-Sul” na busca cega pela alternativa aos Estados Unidos pode fazer com que o Brasil se torne um comparsa de ações ilegais, clandestinas e potencialmente explosivas.

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