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Leonardo Coutinho

Leonardo Coutinho

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Denúncia da HRW

Com as minas terrestres de Putin, a guerra na Ucrânia não terá fim – mesmo quando a paz voltar

Minas terrestres antitanque encontradas na estrada para Chernigov, no norte da Ucrânia (Foto: EFE/EPA/ANDRZEJ LANGE)

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Quando começa uma guerra convencional, esta em que se vê soldados de um lado e de outro trocando tiros entre si, é sinal de que a batalha já vinha sendo travada muito antes no campo político, diplomático, informacional, religioso e econômico, apenas para citar algumas das dimensões que antecedem a opção pela força bruta. Essas várias formas de lutas, que sempre são combinadas, minam de tal maneira o campo de combate que tornam quase irreversíveis os danos causados entre as partes envolvidas na contenda.

Mas há um tipo de movimento que vai além das sequelas no âmbito das relações internacionais e que segue matando anos a fio, mesmo depois da volta da paz. Há evidências consistentes de que a Rússia está usando minas terrestres na Ucrânia. Um tipo de arma proibida e traiçoeira, que mata e mutila.

A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch emitiu um alerta de que foram localizadas minas russas capazes de atingir quem estiver em um raio de 16 metros do aparato enterrado no solo. Minas terrestres são armas que são abandonadas nos campos de batalha e seguem matando de forma indiscriminada, de soldados a crianças que simplesmente têm o azar de pisar nelas.

Existe um tratado internacional, datado de 1997, que proíbe integralmente o uso de minas, a sua produção, armazenamento e venda. A Rússia jamais se uniu aos 164 signatários do contrato.

As minas desenterradas no solo ucraniano são uma perfeita tradução da covardia e maldade. Quando seus sensores são acionados por quem pisa nelas, uma carga explosiva ejeta uma cápsula no ar que sofre uma segunda explosão, espalhando fragmentos de metal que estraçalham o que está ao seu alcance.

A Human Rights Watch documentou o uso de minas de origem russa em mais de 30 países, incluindo na Síria, na Crimeia (2014-2015) e na Líbia – todos esses conflitos com o envolvimento das forças russas.

Essas minas não desapareceram com o fim da guerra. Elas seguem matando.

Bem do lado do Brasil, na Colômbia, está um exemplo aterrador. O Comitê da Cruz Vermelha denunciou que em 2020 foi registrado o maior número de vítimas de minas terrestres desde a assinatura dos acordos de paz de 2016 com as Farc, a guerrilha membro do Foro de São Paulo que quis implantar um regime comunista na Colômbia e por mais de seis décadas tocou o terror no país, provocando a morte e o deslocamento forçado de milhões de pessoas.

A Cruz Vermelha reportou nada menos que 486 casos, mais de uma explosão por dia. O saldo da tragédia foi de 392 mutilados e 50 mortos. Quarenta deles eram menores de idade.

As minas pessoais na Colômbia são resquícios da guerrilha, mas também são parte de uma cruel atualidade. Os traficantes têm quem venda esse tipo de arma para eles. Usam minas para proteger as áreas de cultivo de folhas de coca. Não há muitos provedores desse tipo de arma no mundo. E ganha uma matrioska quem adivinhar de onde elas podem vir por meio do mercado negro de armas.

A guerrilha da Colômbia foi encerrada em meio a um processo com muita festa, mas poucos resultados. As Farc chegaram à política formal ao mesmo tempo em que suas “dissidências” seguiram cuidando dos negócios do crime. O tráfico de cocaína é o principal deles.

A “paz na Colômbia” é tão absurdamente sem sentido que, em 2021, a Cruz Vermelha contabilizou 53 mil pessoas que foram obrigadas a se mudar de suas vilas e cidades para fugir dos conflitos e das minas. Um aumento de 158% em relação a 2020.

Em meio século de conflito armado, cerca de 120 mil pessoas desapareceram na Colômbia, correspondendo a quase quatro vezes mais que o registrado durante as ditaduras da Argentina, Brasil e Chile. Mas as Farc sempre foram as queridinhas da companheirada. Membros do Foro de São Paulo, que sempre as colocou ao lado de partidos como o PT e o PCdoB.

A Cruz Vermelha soltou um alerta de que 2022 pode ser ainda mais sangrento. Apenas entre janeiro e fevereiro deste ano, 110 pessoas já foram atingidas por essas minas.

Um segundo relatório, produzido pelas autoridades de segurança de Estado, mostra que entre 1988 e 2012, mais de 12 mil colombianos foram atingidos por minas e 2.119 morreram. De 2012 a 2021, ao todo 2.686 militares morreram ou foram mutilados. Vítimas, em tempos de paz.

Na Ucrânia, Putin não só minou a institucionalidade do país, tentando transformá-lo em um vizinho falido e vulnerável. Putin está minando o solo e seguirá matando, mesmo quando toda essa barbaridade deixar de chamar a atenção do mundo.

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