Em geral, quem está na quinta série começa a ouvir contos maravilhosos sobre uma ilha no Caribe onde um povo valente sobrevive com galhardia ao assédio do imperialismo capitalista. Um lugar que só não tem o padrão de vida da Holanda, porque o desenvolvimento lhe é privado por um bloqueio desumano. Mesmo assim, aquele povo ostenta alguns dos melhores indicadores sociais do planeta. Passa o tempo e quando chegam nos últimos anos do ensino médio muitos desses estudantes creem piamente que a ditadura mais longeva do Ocidente é uma maravilha. Um idílio que reúne alguns dos melhores indicadores sociais do planeta e um modelo para o mundo. Depois que crescem, alguns deles ficam ricos, viajam de jato privado, e outros até passeiam de Porsche por aí. Mas Cuba... Ah, Cuba... Como é bom tomar mojitos, fumar uns puros e caminhar pelo Malecón de vez em quando sob os auspícios do regime.
Guilherme Boulos tem um vídeo em seu canal em que ele explica por que Cuba é Cuba. Vale o clique. Uma impressão absolutamente subjetiva é a de que nem ele leva a sério o que diz. Logo nos momentos iniciais do vídeo, Boulos não consegue esconder que está fazendo troça com os “engraçadinhos” que ficam enchendo o saco dele com o fato de ele adorar aquela ditadura. Coisa de colegial. Mas talvez não seja. Cuba é de fato o paraíso para alguns.
Nesta semana, balseiros cubanos foram resgatados em alto mar tentando alcançar a costa dos Estados Unidos. Um tipo de gente ingrata que se lança ao mar arriscando a própria vida para viver no país que os oprime. A fonte de todo o mal que condena Cuba ao atraso.
Neste ano, a Guarda Costeira dos Estados Unidos já resgatou mais de 500 cubanos em botes precários e muitas vezes artesanais. Dez vezes mais que em 2020. O que pode explicar o fenômeno? Ingratidão em massa?
Em julho, os cubanos romperam com o silêncio e foram para as ruas protestar. Queriam comida, remédios, mas acima de tudo o direito de poder reclamar. Liberdade de expressão. Os amantes de Cuba correram para dizer que as manifestações eram contra os Estados Unidos.
Quando começaram aparecer imagens de cubanos tocando fogo em imagens de Fidel Castro, o pau cantou. Dezenas foram presos e há gente que pegou dez anos de prisão por ter rasgado um pôster de Fidel.
No Brasil, membros de partidos de esquerda correram para a frente da Embaixada de Cuba em Brasília e do Consulado em São Paulo para protegê-los dos fascistas. Aliás, fenômeno que se repete constantemente na capital federal quando a representação diplomática da Venezuela “está ameaçada”.
Ao contrário dos protestos de julho, que eclodiram de forma espontânea, os cubanos estão armando uma nova rodada de manifestações para o próximo dia 15. Vão tentar, mais uma vez, chamar a atenção do mundo para a tragédia da vida sob a ditadura mais amada do mundo.
Na semana passada, um grupo de cubanos tentou chamar a atenção do papa Francisco. Um fiel que rezava de joelhos com a bandeira de seus país nas mãos foi praticamente enxotado da Praça São Pedro pelos guardas do Vaticano.
As más línguas falam que o papa é comunista. Parece ser maledicência apenas pelo fato de ele ter uma afeição especial por Nicolás Maduro, Evo Morales, Raul Castro e outras cepas do mesmo espectro político.
O pessoal esquece que o representante de Deus na terra é um ser humano. E como tal carrega além de suas virtudes suas milongas.
Por azar de quem luta pela liberdade em Cuba, o regime não se perpetua apenas pela força e opressão. A resiliência da ditadura vem de seu poder simbólico. Ensinam para as crianças em todo o mundo que Cuba é um exemplo. Quase o objetivo. As crianças crescem. E Guilherme Boulos está aí para mostrar o que acontece.