Senhoras e senhores, já perceberam como a Rússia está sempre bem-posicionada quando alguns eventos críticos se passam no Brasil? Pode ser coincidência? Pode. Mas a casualidade tem se repetido bastante. Em junho de 2013, quando Edward Snowden, ex-prestador de serviços da Agência de Segurança Nacional (NSA, conforme a sigla em inglês), revelou a espionagem massiva que os Estados Unidos faziam de seus aliados, o Brasil foi possivelmente o país que mais duramente reagiu às revelações. A então presidente Dilma Rousseff não aceitou as explicações de Barack Obama e o retaliou. Cancelou uma visita de Estado que faria aos Estados Unidos e jogou fora um contrato de US$ 4 bilhões que estava prontinho para ser firmado na visita, marcando o reaquecimento das relações com os americanos com a aquisição de 36 caças F-18.
A reação de Rousseff não só abortou o negócio com os americanos. O efeito imediato das revelações de Snowden foi a pavimentação da pista para que os russos tentassem aterrissar seus caças Sukhoi-35 no Brasil. Pouca gente prestou atenção nisso, mas ao mesmo tempo que dava guarida para Snowden, Putin escalou seu pessoal para convencer a presidente brasileira e comprar seus caças. Depois de assinar acordos de R$ 2 bilhões para a importação de baterias antiaéreas russas, o ministro da Defesa Celso Amorim comprou a ideia e trabalhou arduamente para que o Brasil fizesse uma operação de leasing com Moscou para trazer as aeronaves de combate russas para o Brasil.
Os emissários de Putin não conseguiram ludibriar os militares brasileiros, que já conheciam a péssima reputação do pós-venda russo. As aeronaves vendidas por eles têm manutenção precária e quase sempre estão presas ao chão, impossibilitadas de voar. O exemplo desastroso dos venezuelanos que se equiparam com helicópteros e aviões russos era indiscutível. Além daqueles que caíram por falta de reparos, vários outros equipamentos foram impedidos de voar por falta de peças de reposição. E apesar dos esforços de Putin e seus ministros, a venda dos Sukhoi-35 ficou no quase.
E hoje, oito anos depois, já se conhece o desfecho da história: os americanos foram verdadeiramente punidos e não conquistaram o negócio e o Brasil fechou com os suecos. Os primeiros caças Gripen já foram entregues e um deles já está no Brasil.
Seria interessante alguém perguntar para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva qual foi o teor de sua conversa com Putin poucas horas antes de se entregar para Polícia Federal em abril de 2018. Enquanto a micareta petista estava reunida nos arredores do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o petista atendia a uma chamada do presidente russo – que, há quem diga, teria recomendado a Lula não se entregar. Tentar empurrar o caso mais para frente, pois tinha como desmontar. Não dá para confiar em relato de petistas, que sempre atribuem superpoderes a Lula. Mas um dia, quem sabe, o presidente resolve contar como foi o papo.
No ano seguinte, em junho de 2019, a ex-presidente Dilma Rousseff e a deputada federal Gleisi Hoffman desembarcaram em Moscou em uma viagem cercada de discrição. O passeio da dupla antecedeu em uma semana os vazamentos das mensagens trocadas por Sergio Moro e os procuradores da Lava-Jato em um aplicativo russo, o Telegram.
Aquelas mensagens publicadas pelo site The Intercept foram não só o início da derrocada da Operação Lava-Jato, como a base para a sua implosão e de quase todas as sentenças condenatórias já proferidas em consequência daquelas investigações.
Os mesmos petistas que adoram dizer que o ex-ministro Sergio Moro é um agente treinado pela CIA também contam coisas mirabolantes da passagem das duas pela Rússia. Um petista graúdo que orbita a vida de Rousseff espalhou no meio jurídico a versão de que, ao receber Dilma de braços abertos, Putin teria lhe antecipado sobre a tormenta que estava por vir. A história dos hackers de Araraquara nunca foi convincente. Mas acreditar no causo, como costumam dizer na terra do petista fofoqueiro, é meio demais. Mas supondo que seja verdade (apenas supondo), a Lava-Jato teria sido alvo de uma espionagem massiva e de Estado. Algo que parece ter saído da obra de Ian Fleming.
Haja imaginação, não é mesmo?
A Rússia tem alimentado a fogueira que mantém alta a temperatura da crise em Belarus. Putin precisa de uma Europa caótica para criar com mais facilidade espaços de vazio de poder ou de ilegitimidade para que ele possa operar seus interesses sem amarras locais, legais, morais ou militares.
Ao estender a mão para o ditador Alexander Lukashenko, Putin reproduziu e aperfeiçoou a receita usada na Venezuela de Maduro. O caos foi tamanho que os impactos são sentidos no Brasil. Responsável pelo envio de mais de 20% do potássio usado para fertilizar as lavouras no Brasil, Belarus ficou impedida de exportar sob sanções.
Dependente e estrangulado, o Brasil recebeu uma oferta de ajuda. O embaixador da Rússia bateu nas portas corretas e ofereceu o seu país para remediar a crise. A superativa ministra da Agricultura, Teresa Cristina, foi a Moscou buscar respostas para a crise de insumos para o setor. Voltou de lá encantada e com a promessa de salvação da lavoura. Além de se comprometerem com os embarques de fertilizantes para o Brasil, os russos prometeram aumentar. Além disso, juraram retomar as negociações para comprar uma unidade de produção de fertilizantes no Mato Grosso do Sul.
A Rússia não faz o que faz por amor. A recém-anunciada visita de Jair Bolsonaro a Vladimir Putin não será só de cortesia. Os acordos que serão anunciados ou assinados por lá darão a dimensão do tamanho da fatura.
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