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A semana foi marcada por uma onda de ataques ferozes à imprensa, por parte de membros do governo, lideranças petistas, seus porta-vozes nas redes sociais e sites-assessoria que prestam serviço ao antifascismo, vamos dizer assim.
No caso, a vítima da vez foi o jornal O Estado de S.Paulo e sua editora-executiva Andreza Matais, chefe direta dos jornalistas que revelaram que a primeira-dama do Comando Vermelho no Amazonas, condenada por prestar serviços à organização criminosa chefiada pelo marido, passeava lépida pelo Congresso e por dois ministérios.
A “dama do tráfico”, como o Estadão a batizou, chegou a ter passagens pagas pela pasta dos Direitos Humanos para ir a Brasília se queixar das agruras impostas pelo sistema prisional aos subordinados de seu maridão, que tiveram o azar de serem presos.
Lula foi eleito acreditando-se que ele era o salvador da democracia. Mas ele nunca disse qual “democracia” pretendia defender
A reportagem do Estadão seria absolutamente ordinária se não fosse a reação do governo e de quem esperneia por ele.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, entrou em parafuso. Acostumado com os afagos recebidos nos primeiros meses do governo – em que virou uma espécie de popstar, com suas lacradas treinadas em sessões de media training que fizeram sucesso diante de parlamentares bolsonaristas atordoados –, ele inexplicavelmente se sentiu ofendido. Embora o jornal e sua equipe jamais tenham relacionado o seu nome à “dama do tráfico”, deu-se início a uma operação que obrigou o PT a voltar a ser o PT, para tirar o foco do ministro.
O partido e seus aliados jamais souberam lidar com a imprensa livre. Muitos jornalistas acham que foi a ala manicomial do bolsonarismo que inventou a estupidez e covardia de ficar perseguindo as pessoas, vasculhando a vida delas e fazendo ameaças ou xingamentos por estarem em desacordo com reportagens algumas vezes corretas, outras vezes nem tanto.
Um engano fatal. Muito antes disso PT e PCdoB já faziam isso com muito mais eficiência e brutalidade. Essas legendas e seus membros resolveram posar de fofinhos nos anos do governo Bolsonaro, pois para eles era útil se comportar assim para reforçar a ideia de que o Brasil sem o PT no poder havia se transformado em uma terra de políticos selvagens que estavam prestes a devorar a democracia.
Lula foi eleito acreditando-se que ele era o salvador da democracia. Mas ele nunca disse qual “democracia” pretendia defender. Ainda como presidente eleito, sua equipe de transição negociou com Jair Bolsonaro o fim da proibição da entrada de Nicolás Maduro e dos membros de seu regime no Brasil. Lula não aceitava a ideia de ser empossado sem a presença de Maduro. O ditador venezuelano não apareceu, mas mandou uma comitiva com longa ficha de violações de direitos humanos para representá-lo.
Mas não demorou para Maduro aparecer e Lula se confraternizar com ele e soltar uma expressão que se tornaria famosa: “democracia relativa”. Lula também está movendo mundos e fundos para ajudar Cuba e se juntou aos autocratas. Fez o seu mise-en-scène de votar contra a Rússia em comitês sem nenhum efeito prático, ao mesmo tempo em que trabalhava contra a Ucrânia. Como votou contra Vladimir Putin na ONU, fica o argumento de que o Brasil é neutro. A “neutralidade relativa”.
À medida que a reação autoritária ao caso “dama do tráfico” evolui, e Lula se mantém em silêncio, ficam mais claros os compromissos de Lula com a democracia. Ou melhor, com a “democracia”
Mesmo truque que vale para a maioria das ações da polícia externa do petismo. Finge ser neutro em público, mas por trás das cortinas...
Mesmo antes de ser eleito, Lula se mostrou completamente comprometido com as autocracias. Irã, China, Rússia, Nicarágua, Cuba e Venezuela formam a lista de regimes escolhidos como aliados pelo petista. Ele nunca escondeu.
Seu partido e seus ministros estão dando ao Brasil um aperitivo do que é viver sob o tacape de seus aliados. À medida que a reação autoritária ao caso “dama do tráfico” evolui, e Lula se mantém em silêncio, ficam mais claros os compromissos de Lula com a democracia. Ou melhor, com a “democracia” – assim mesmo, com aspas.