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Na Nicarágua, de Daniel Ortega, religiosos estão sendo torturados na prisão. O mais famoso deles é o bispo Rolando José Álvarez Lagos. O prelado foi condenado a 26 anos de prisão, em um processo legal bizarramente fraudulento, por “disseminar fake news” e “atentar contra a democracia”.
Poucos dias antes do Natal passado, outro bispo também foi enjaulado: Isidoro del Carmen Mora Ortega, que não custa relembrar é bispo católico, preso por rezar. O crime dele foi fazer uma prece em público pelo seu colega Rolando.
O Papa Francisco – pastor que tem uma peculiar predileção pelos lobos as ovelhas – não se move muito sobre o tema. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva – que nada tem a ver com a religião e os direitos humanos, mas tem forte poder de influência sobre Ortega – também fica em silêncio.
Desde 2018, quando Ortega rasgou o último trapo da fantasia de democrata, centenas de opositores e críticos foram presos. Nada menos que 200 deles foram condenados ao desterro, sendo expulsos de seu país com a cidadania cassada. Nos primeiros meses dos protestos contra as fraudes de Ortega, no não tão longínquo 2018, foi registrada a incrível cifra de 355 pessoas assassinadas pelas forças de segurança.
Para se ter a exata dimensão do que vem a ser isso, imagine se essas 355 pessoas tivessem sido mortas na cidade do Rio de Janeiro, que tem um número de habitantes próximo ao da Nicarágua inteira. Seguindo com o cenário hipotético, essas mortes teriam se dado em meio a protestos populares contra o governo, seja ele local, estadual ou nacional – independentemente da ideologia?
O Brasil teria sido pintado globalmente como uma ditadura atroz. Mas porque a Nicarágua conta com tanta complacência. A vida dos nicaraguenses importa menos que a dos brasileiros?
Ninguém morreu na repressão aos protestos na Argentina, mas o anarcocapitalista Javier Milei já ganhou fama de antidemocrático e ditador.
A lista das democracias relativas latino-americanas e a violência contra seus críticos passa pela Venezuela – que sob Nicolás Maduro matou 250 manifestantes, nunca foi chamada de genocida ou fascista. Pelo contrário. Sempre contou com a solidariedade pública dos amigos.
Na fotografia acima está reunida uma patota que bate, prende, tortura e mata.
Aqueles que sobrevivem padecem no exílio ou são varridos da vida pública, vivendo em seus países sob a borduna dos autocratas
Nem todos chegam a fazer isso. São cúmplices pelo silêncio, às vezes aplausos e, em muitos casos, acobertamento por meios de vernizes políticos, que tentam dar tons democráticos à regimes completamente autoritários. A relativização da democracia se tornou, possivelmente, o mais brilhante de todos os itens da maquiagem.
Há ainda os acólitos. Gente sem poder algum para o exercício de suas tensões autoritárias, mas se regozija por colaborar. Seja mentindo, inflamando, escamoteando, difamando... Não faltam atribuições para o puxa-saquismo muito remunerado que orbita os autocratas.
Quem diz o contrário é fascista.
Sou um fascista na concepção desse pessoal. Só Deus sabe o quanto me orgulho de ser chamado de fascista por gente que rasteja para ditadores, assassinos, traficantes e assemelhados.
Fascismo, por sinal, virou xingamento. Ou melhor, voltou a ser xingamento. Nunca me esqueço que os comunistas batizaram o muro, que marcou a divisão do mundo em dois blocos, de “barreira antifascista”.
“Fascista”, na propaganda deles, era o Ocidente, o capitalismo e as democracias. A liberdade era coisa de fascista. O muro de Berlim caiu e não mudou nada.
No mundo dos democratas relativos, quem leva a democracia ao pé da letra está lascado. Ser chamado de fascista é o menor dos castigos.