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Leonardo Coutinho

Leonardo Coutinho

Brasil, América Latina, mundo (não necessariamente nesta ordem)

Estados Unidos

Aos inimigos, tudo

Joe Biden, então vice-presidente dos EUA, e Nicolás Maduro se encontram na posse de Dilma Rousseff, em janeiro de 2015. (Foto: Prensa Presidencial/AVN)

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A administração Biden tem uma curiosa predileção pelos inimigos dos Estados Unidos. Na semana passada, a Casa Branca despachou um avião apinhado de funcionários do Departamento de Energia para dar volume ao lado do conselheiro para a América Latina, enviado para representar Joe Biden na cerimônia de posse de Javier Milei, na Argentina. Um gesto de desmazelo para com os argentinos, mas sobretudo com Milei, que dias antes havia visitado Washington reforçando suas intenções de realinhar a proa de seu país novamente para o norte, reduzindo as relações com Pequim.

Mas a administração Biden prefere torcer o nariz e seguir os impulsos partidários que focar nos interesses americanos na região. Milei é incômodo. Incompatível com as agendas do Partido Democrata. Não importa que ele seja um aliado disposto a reduzir, pelo menos na Argentina, a influência do principal competidor global dos Estados Unidos.

Para fins de comparação, em janeiro de 2022, ninguém mais ninguém menos que a vice-presidente Kamala Harris desembarcou em Tegucigalpa para assistir à cerimônia de posse da bolivariana Xiomara Castro. Na matemática geopolítica democrata, Honduras é mais importante que a Argentina? Não, não é. A questão parece não se medir pelo peso que um país ou outro tem na balança da política exterior americana. Entre Milei e Xiomara há um abismo. Embora o primeiro seja amigo, ele é rejeitado. A segunda é inimiga, mas preside um país que exporta imigrantes ilegais para a América e que tem a preferência nos escaninhos políticos da administração Biden.

Ao desprezar Milei e ajudar Maduro, a administração Biden prefere torcer o nariz e seguir os impulsos partidários que focar nos interesses americanos na América Latina

Deram carinho para Xiomara na esperança de que ela se encantasse pelo esquerdismo californiano da vice-presidente Harris. Uma tolice comum de progressista gringo e europeu que acha que comunas latinos são apenas uma versão rústica de seu esquerdismo perfumado.

Assim que os americanos decolaram de volta para casa, Xiomara Castro caiu nos braços de Xi Jinping. Baixou em Pequim para fechar acordos e trocar afagos, e mandou as relações com Taiwan às favas.

Antes esse fosse o maior dos erros. Em setembro, a administração Biden desbloqueou US$ 6 bilhões do regime iraniano, formalmente em troca de cinco reféns. Desde que foi fundada em 1979, e para todo o sempre, a teocracia iraniana tem dos objetivos centrais, sendo muito difícil classificar qual seria o primeiro e qual seria o segundo: aniquilar Israel e os judeus e destruir o “Grande Satã” – no caso, os Estados Unidos.

O Irã, que foi recapitalizado por Biden, é o patrono do Hezbollah, o financiador do Hamas, o fornecedor de drones e foguetes que são despejados na cabeça dos ucranianos, realiza ataques cibernéticos em instalações críticas dos Estados Unidos e seus aliados, e trabalha seriamente para ter uma bomba atômica.

Voltando para a América Latina, há a vexatória complacência de Biden com Nicolás Maduro. O ditador venezuelano é declaradamente o maior inimigo dos Estados Unidos, seus valores e seu povo. Seu regime, que criminalizou a Venezuela, funciona como um entreposto de cocaína que irriga as marras (como são chamadas as gangues) centro-americanas, infla o poder dos cartéis mexicanos e entope as ruas dos Estados Unidos de drogas com os seus efeitos diretos: viciados, pobreza, violência e caos. Para quem não se lembra, Maduro chegou a ter familiares presos em flagrante vendendo diretamente drogas.

Mas, para atender o lobby das petroleiras, que são generosas financiadoras de campanha, relaxou as sanções contra o regime de Maduro. A desculpa era um ato de boa-fé americano para Maduro libertar presos políticos e aceitar a realização de eleições livres. As sanções caíram, Maduro não entregou nada, e ficou por isso mesmo. Enquanto isso, Juan Guaidó foi abandonado às feras, quando o líder opositor minguou diante da inevitável permanência da ditadura na Venezuela. Movimentos semelhantes foram feitos em favor do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva contra o então presidente Jair Bolsonaro.

Do jeito que as coisas vão nos Estados Unidos, parece que há um vibrante programa de ajuda aos inimigos, enquanto os amigos... ah, os amigos... melhor nem comentar

Biden não só abriu as portas do regime venezuelano para os investimentos americanos, mas também brasileiros. A Petrobras não esperou nem um dia sequer para anunciar com satisfação a volta dos investimentos na ditadura amiga e segunda mais querida de toda a América Latina, atrás apenas de Cuba.

Falando na ilha, Biden também derrubou medidas de Donald Trump que endureciam a relação com Cuba. Liberou o turismo e aumentou as cotas de remessa de dinheiro para ilha – duas das principais fontes de dólares para o regime, atrás apenas da escravidão de seus cidadãos exportados como “produtos” para trabalhar no exterior, como ocorreu no Brasil entre 2013 e 2018, no programa Mais Médicos.

Do jeito que as coisas vão nos Estados Unidos, parece que há um vibrante programa de ajuda aos inimigos, enquanto os amigos... ah, os amigos... melhor nem comentar.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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