O ex-presidente Lula na reunião de fundação do Foro de São Paulo, há 30 anos.| Foto: Arquivo Foro de São Paulo
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O ex-presidente colombiano Álvaro Uribe passou a cumprir prisão domiciliar por determinação da Suprema Corte de seu país. O agora senador é acusado de ter manipulado testemunhas em uma investigação incentivada por ele mesmo, em que pedia apuração da acusação de que ele seria um dos patronos de grupos paramilitares que brotaram na Colômbia nos anos de guerra contra as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

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Cabe lembrar que quando presidente Uribe esteve perto de impor uma derrota militar aos narcoguerrilheiros que, em seis décadas de atividade, deixaram um rastro de 260 mil mortes na Colômbia. Sua mão pesada contra as FARC o transformou em objeto de culto para maioria dos colombianos, mas o converteu em inimigo número 1 para os guerrilheiros e seus aliados de esquerda – inclui-se aqui alguns regimes como o de Cuba e da Venezuela.

Em 2008, após mandar para os ares um acampamento das FARC no lado equatoriano da fronteira com a Colômbia, Uribe entregou, em mãos, para o então presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, um conjunto de 85 emails recuperados no computador do líder guerrilheiro morto no bombardeio. Uribe repetiu o gesto com outros presidentes, dando-lhes o conjunto de informações que se referiam aos seus países; ali Uribe estava mostrando para Lula as provas de que o PT, os petistas e o próprio governo mantinham relações umbilicais com os terroristas. Deve ter sido uma conversa difícil.

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Lula, porém, voltou para casa e nada fez. A existência dos documentos sobre o Brasil só foi conhecida meses depois, graças a um vazamento para imprensa colombiana. Uribe entendeu que entre o Estado formal colombiano e os narcoterroristas que exerciam o controle e o papel de Estado paralelo, Lula, o PT e a diplomacia brasileira preferiam os segundos.

Os documentos contam uma história intrigante. No início do governo Lula, as FARC não tinham uma relação de proximidade com o PT. Seus membros se queixavam da falta de prestígio frente ao novo governo e acusavam os petistas de se comportarem como donos do Foro de São Paulo.

Isso mesmo, as FARC choramingavam querendo mais espaços na agremiação de esquerda e acusavam o ex-assessor da Presidência, Marco Aurélio Garcia, de ser um empecilho para organização na relação com o PT, que queria, segundo relatos das FARC, expulsar os colombianos do Foro.

Se o Foro de São Paulo é uma reunião da esquerda mofada, por que uma organização terrorista, que lavava milhões de dólares provenientes do tráfico de drogas, estava tão preocupada em seguir associada? Não era o odor da incontinência urinária de Fidel Castro que os atraía. Eles precisavam de legitimidade. E o que é isso? Caminhando lado a lado com os principais partidos e movimentos da esquerda latino-americana, eles se mostravam menos feios. Diluíam sua péssima reputação com os demais. E o já falecido Marco Aurélio Garcia havia entendido isso. A presença das FARC no Foro de São Paulo pegava mal, justamente em um momento em que o PT havia acabado de chegar ao poder.

Então os colombianos recorreram ao ditador cubano Fidel, que mandou todo mundo ficar quietinho e parar de encher o saco dos traficantes. Aliás, um adendo sobre algo que não consta nos arquivos entregues por Uribe: foi para ajudar as FARC que o ditador cubano alistou o amestrado Hugo Chávez no que hoje se conhece como a maior rede estatal de tráfico de cocaína, o Cartel dos Sois.

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Mas então o que é o Foro de São Paulo? Apenas uma agremiação? Sim e não. E a confusão em torno do que vem a ser o movimento tem sido útil para seus membros. As FARC lutaram para manter assento no grupo e para usufruir do benefício da visibilidade associada ao reconhecimento da tal “esquerda latino-americana” e, por tabela, mundial. Mas a presença formal das FARC na lista dos membros do Foro de São Paulo não mudaria em um milímetro o tamanho da organização dentro do Foro. Sabe o motivo? O Foro de São Paulo existe e barbariza há trinta anos.

Mas o real Foro de São Paulo passa longe de ser um convescote que ao final é registrado em atas, que muitos acreditam ser uma espécie de pedra roseta para decifrar os planos de dominação da esquerda. O que o Foro apronta não está gravado.

As reuniões do Foro são eventos. Propagandas que geram confusão, aumentam e nutrem a mística da entidade que as FARC tanto prezam em fazer parte. O que o Foro de São Paulo faz de mais sinistro não tem agenda pública, holofotes ou é aberto para uma multidão de militantes bocós que penduram em seus pescoços revolucionários um crachazinho de membros do evento. Isoladamente, as reuniões do Foro de São Paulo não passam de um parque temático. Por isso geram tanta distração.

Quando Fidel Castro chamou Hugo Chávez para conversar e a Venezuela passou a ser um hub de tráfico de cocaína conectando com eficiência e escala industrial as FARC aos cartéis de drogas do México, isso era, na verdade, o Foro de São Paulo em ação.

Quando em 2011, o ex-presidente Lula se reuniu com o então embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arveláiz, para desenhar o plano que levou o marqueteiro João Santana a trabalhar na campanha de Hugo Chávez, pago com dinheiro roubado do BNDES, por meio da Odebrecht, era o Foro de São Paulo mostrando o que sabe fazer de melhor.

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Os protestos violentos no Chile, Peru, Colômbia e Equador, registrados recentemente trazem as digitais do Foro de São Paulo. Em novembro de 2019, esta coluna tratou do assunto. No caso colombiano ficou claro como as FARC(que fique claro: não deixaram de existir depois do acordo de paz) foram a fonte de mobilização dos protestos. Isso é o Foro de São Paulo.

A dificuldade em compreender o que vem a ser o Foro de São Paulo deriva do fato de que a maioria das pessoas não consegue aceitar que o cerne da organização não tem nada a ver com política ou com o que elas tendem a acreditar ser esquerda. Um monte de gente bem-intencionada em busca de justiça social. Pois é...

O pacote que Uribe entregou para Lula veio cheio de informações interessantes sobre esses bandidos. Uma delas falava sobre como o então ministro José Dirceu conectou as FARC com o PT. Mandou um de seus assessores mais próximos construir a diplomacia paralela que abriu para os traficantes as portas do Itamaraty em sua fase altiva.

Os guerrilheiros ganharam ajuda financeira de parlamentares (não fica claro se originária de verbas de gabinete) e contam que “sempre” estiveram presentes no Brasil, com mais de duas dezenas de representantes. Mas sempre se incomodaram de serem questionados sobre as relações deles com o tráfico. Questões que o próprio PT fazia antes de amasiar-se com os colombianos.

O Foro de São Paulo é um parque jurássico. Ok. Se sua existência tivesse limitada apenas aos eventos públicos, ele seria uma grande caricatura dos movimentos de esquerda que incluem além do PT de Lula, o PDT, de Ciro Gomes e o PCdoB, de Flávio Dino. Três presidenciáveis.

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Mas o Foro de São Paulo que importa não é uma agremiação. O que ele busca é muito mais profundo. É algo que certa vez José Dirceu definiu: “Vamos tomar o poder. O que é diferente de ganhar uma eleição”.