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Leonardo Coutinho

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Brasil, América Latina, mundo (não necessariamente nesta ordem)

Venezuela

Hugo Carvajal: frango, rato e raposa

(Foto: EFE/Emilio Naranjo)

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O então capitão Hugo Chávez, com seu 1,73 metro de altura, estava longe de ser um homenzarrão. Mas quando conheceu seu xará Hugo Carvajal, que foi seu subordinado na academia militar, não teve pena: batizou-o com um apelido que se tornaria mais forte que o seu próprio nome. Pollo, ou frango. Além de raquítico, aos olhos daquele que viria a ser presidente da Venezuela, Carvajal tinha as feições que lembravam as do galináceo. E Chávez tinha razão.

El Pollo superou o bullying e se transformou em aliado, amigo e devoto de Chávez. Fez parte do plano fracassado de golpe liderado por Chávez em 1992 e desde então de todas as operações que levaram Chávez ao poder em 1999 e criminalizaram o Estado venezuelano, mesmo aquelas depois da morte de Chávez.

Apesar da cara e da compleição que lhe renderam o apelido de frango, seu estilo de trabalho o fazia mais próximo aos ratos.

Quem compartilhou com Carvajal a coxia do teatro chavista o descreve como um personagem central para o regime. Em seus depoimentos para a Agência Antidrogas dos Estados Unidos, o ex-guarda-costa de Chávez, Leamsy Salazar, contou que em março de 2013 testemunhou o embarque de toneladas de cocaína em lanchas militares, sob a coordenação do general.

O nome do Carvajal, que foi chefe da inteligência militar, também aparece diretamente envolvido em operações de envio de armas para os guerrilheiros das Farc, na Colômbia e com operações de lavagem de dinheiro envolvendo os terroristas libaneses do Hezbollah, que sob os auspícios do Irã, transformaram a Venezuela em uma espécie de base offshore para suas operações na América Latina.

Em 2014, ele foi preso assim que desembarcou em Aruba em uma operação a pedido da Justiça dos Estados Unidos. Foi a primeira vez que um alto líder do regime chavista havia caído nas mãos das autoridades americanas em uma ação internacional.

O ditador Nicolás Maduro, que assumiu o poder depois da morte de Chávez em 2013, chegou a cogitar uma operação militar contra a ex-colônia holandesa. Naquele momento, a prisão de El Pollo era vista como a pavimentação para a de todos os demais do regime.

Maduro evocou a “imunidade diplomática” de Carvajal, que meses antes havia sido enviado para Aruba com o cargo de fachada de cônsul da Venezuela. O problema era que as autoridades locais nunca aceitaram formalmente a nomeação. Ou seja: embora tivesse passaporte diplomático, não era cônsul de nada e a discussão se as imunidades vinham com a concretização das funções passou a ser travada nos dias que sucederam a prisão.

Apenas quatro dias depois, Pollo Carvajal chegava glorioso a Caracas. Liberto do “sequestro” dos americanos e com a experiência de que todos os seus pares deveriam colocar as barbas de molho. As autoridades americanas estavam no encalço deles.

No mês passado, Pollo Carvajal voltou a ser preso. Desta vez na Espanha, onde ele tinha o status de foragido da Justiça desde 2019, quando ele ganhou liberdade condicional depois de ter sido flagrado tentando entrar no país com um passaporte falso.

Os trechos dos depoimentos de Pollo Carvajal, vazados pela imprensa espanhola, sugerem que suas características de frango podem estar falando mais alto que sua alma de rato. Mas vale um alerta. Hugo Carvajal é muito mais do que isso. E ele tem dado sinais de que, mais que um frango, no fundo ele pode ser a raposa.

As declarações de Pollo Carvajal – que falam de malas e malas de dinheiro desembarcando na Argentina, o suporte financeiro da Venezuela para a fundação do espanhol Podemos e até uma contribuição não detalhada para o PT no Brasil – não podem ser tratadas descoladas de uma carta que ele divulgou no final de setembro.

Nela, ele é absolutamente transparente. Não quer de jeito algum ser extraditado para os Estados Unidos. Espertamente, ele tem entregado para os juízes espanhóis e seus assessores o trabalho de traficar para o mundo exterior informações que o tornam imprescindível na Espanha. Uma estratégia que parece não ter funcionado, já que a sua extradição já foi aprovada.

Mas o El Pollo não deixa de se comportar como raposa. Ele dá seus recados e pistas de um plano B, em caso de a extradição se confirmar. Ele não vai cantar. Quer se converter em uma peça de propaganda. Um preso político em território americano. Vai virar uma peça de propaganda que vai contar com a adesão de meia dúzia de ativistas yuppies sediados em Nova Iorque e Washington, D.C., e um esquadrão de gente muito bem paga para mover o lobby e a lorota do lawfare, a mesmíssima esperteza que, no Brasil, serviu de lastro para estratégia de defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

El Pollo não é Lula. E os Estados Unidos ainda não são como o Brasil. Os resultados da estratégia de atacar o sistema judicial americano desde dentro têm uma rota e resultados difíceis de serem antecipados. Mas não são impossíveis.

Em sua carta, ele jura que nunca dedicou sua fidelidade ao regime, mas ao país. Fala com precisão que seus conhecimentos e matérias de jornais não servem de nada para liberar a Venezuela que ele se propõe a defender. E a defasa, neste caso, é contra os Estados Unidos, que ele chama de inimigo.

A euforia em torno dos cacarejos do El Pollo é justificada. Em seu mundo, a mentira e a manipulação só funcionam se têm uma boa base de verdade. Por fim, nunca é demais duvidar, ainda mais de uma criatura que tem aspecto de frango, alma de rato e astúcia de uma raposa.

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