O presidente Joe Biden deu a palavra para Vladimir Putin discursar em um evento da Otan, em Washington, D.C. Mas, na realidade, quem esperava pela vez de falar era o ucraniano Volodymyr Zelensky.
Quem nunca deu uma “escorregadinha” dessas, não é mesmo?
Em março deste ano, por exemplo, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva chamou o presidente francês Emmanuel Macron - que estava sentado bem à sua frente - de (Nicolas) Sarkozy. Todo mundo fingiu que não aconteceu nada e bola para frente.
Nos Estados Unidos também deveria ser assim. Mas os deslizes de Biden têm outro peso. O presidente americano, que também é candidato à reeleição, está sob tiroteio pesado – ressalte-se de seus aliados – diante das claras evidências de seu declínio cognitivo. Seus correligionários democratas já não escondem mais o desconforto e pedem abertamente que Biden retire a candidatura em favor de outro democrata “mais competitivo”.
A imprensa americana, que se fazia de cega, resolveu carbonizar o presidente. Desde o fatídico debate da última semana de junho, em que Biden foi colocado à prova diante de seu rival Donald Trump. Ficou impossível negar que o presidente não está bem. Desde então, não há um dia em que não sejam publicados editoriais, reportagens, cartas e apelos de amigos na tentativa de convencer o presidente americano de se aposentar no final de seu mandato. Mas Biden segue irredutível.
Se o presidente Biden não está 100%, quem está preenchendo as lacunas, sejam elas consciência ou até mesmo de exercício do poder? Uma pergunta incômoda, mas que tem sido recorrente não só nos Estados Unidos, mas em outros países. Nenhuma resposta passa longe da primeira-dama Jill Biden.
Nenhuma imagem é mais ilustrativa que aquela do final do debate que não deixou dúvidas sobre o estado do presidente. Enquanto Trump deixou o palco imediatamente, com passos firmes em direção à lateral esquerda do local, Biden permaneceu estático atrás do púlpito. Precisou ser conduzido por Jill, que o pegou pela mão e o levou para cumprimentar os entrevistadores.
O que teria feito Biden se não tivesse sido resgatado por sua mulher? Teria ficado por ali mais tempo? Teria cumprimentado o vazio? Teria vagado sem rumo, como fez na Itália e foi graciosamente ajudado pela primeira-ministra Giorgia Meloni?
As páginas no noticiário americano mostram como a primeira-dama Jill entrou em campo para manter o marido no jogo. Ninguém mais do que ela tem o poder de convencê-lo a deixar a disputa, mas a primeira-dama faz exatamente o contrário. Jill Biden tem dobrado a aposta e defende que seu marido siga em frente para a disputa de novembro, negando qualquer debilidade - ou até mesmo a realidade.
Ela passou a assumir compromissos de campanha que evidentemente deveriam ser cumpridos pelo presidente-candidato. Nas últimas semanas, passou a ser presença ativa em eventos em estados fundamentais, onde Biden precisa vencer para levar a eleição.
Jill puxou comícios nos Estados da Carolina do Norte, Flórida e Geórgia, liderou eventos com militares e veteranos e passou a representar o marido em ações de arrecadações de fundos para a campanha. Cada vez mais presente e influente, levantou uma outra suspeita ou preocupação. Até que ponto vai a influência de Jill sobre as decisões do marido.
Como uma “espécie de ministra sem pasta”, desde o início do mandato, sempre se soube que ela exercia poder e influência nas decisões do marido. Mas qual é o peso de Jill nas decisões da Casa Branca, com um presidente sobre o qual pesam fortes suspeitas de que está cada vez menos capaz de pensar por si?
Os defensores do casal presidencial argumentam que não há nada de anormal a primeira-dama ser uma influente conselheira do marido. Mas os críticos colocam um porém e acusam Jill de extrapolar este papel, se tornando ambiciosa e “demasiadamente apegada” à função. Ainda que isso custasse em manter, no comando dos Estados Unidos, um presidente decrépito.
Tudo pode mudar com a pressão dos doadores de campanha. O jornal The New York Times noticiou que vários deles decidiram congelar os fundos destinados aos democratas se o partido insistir no nome de Biden para a disputa eleitoral de novembro. Sem dinheiro, as ambições de Jill (se elas de fato existirem como muitos suspeitam) não terão sobrevida.
E como será no Brasil em 2026? Janja, a “ministra sem pasta” de Lula, manda muito. Ela dá pitaco em todas as áreas, desde o resgate de cavalo em enchente, passando pela propaganda do governo e chegando na política econômica e fiscal. Quem não se lembra da explicação sobre o “imposto das blusinhas”?
Quando esteve em Washington, no ano de 2023, Janja voltou admirada por Jill. Chegou a pedir um gabinete para ela, igualzinho ao da primeira-dama americana. Foi barrada em suas pretensões pelos auxiliares do presidente. Mas perdeu apenas a formalidade do poder.
Apesar de não ocupar um cargo formal, Janja assopra no ouvido do marido e suas vontades muitas vezes atropelam os planos dos ministros, gerando incômodo, controvérsias, ressentimentos e acusações, que são vazadas para o colunismo social-político que dá voz ao petismo na imprensa tradicional.
Não existe um paralelo claro entre Jill e Janja, mas não é prudente ignorar o que pode acontecer em 2026, em uma eleição onde Lula, cada vez mais envelhecido e debilitado, se apresenta como candidato à reeleição.
Jill, que sempre foi discreta, veio à luz em uma batalha de vida ou morte para salvar a imagem do marido como um líder experiente e confiável. A depender do ponto de vista, ela está lutando para salvar seus privilégios e poder, ou está em uma missão para manter o legado de Biden.
Janja nunca foi discreta. Amante dos holofotes, não se furta em se promover. Hoje ela é assim. Como será em 2026, sendo, como já definiu Lula, o “farol” que o guia?
Jill não é Janja. E Janja não é Jill. Mas uma coisa não deve ser negligenciada.
Assim como Jill tem hoje o poder de definir os rumos dos democratas na campanha americana, Janja terá uma influência descomunal sobre Lula em 2026. Ainda mais sobre o Lula de 2026
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