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Lula e Putin no Palácio do Planalto, em 2004.
Lula e Putin no Palácio do Planalto, em 2004.| Foto: Jefferson Rudy/EFE

“(Os ucranianos) não entendem essa defesa que o senhor faz às vezes do Putin”. Ponderou um repórter ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a negativa do Brasil de participar da cúpula que buscou construir um acordo de paz, na guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia.

“Eu não faço a defesa do Putin. O Brasil foi o primeiro país a criticar a Rússia pela invasão da Ucrânia. O que não faço é ter lado. O meu lado é a paz. O meu lado não é ficar do lado do Zelensky contra o Putin, ou do lado do Putin contra o Zelensky”, respondeu Lula, exercitando a autoestima.

O presidente Lula foi honesto. Profundamente honesto. Dizer que ele está “defendendo Putin” é uma distorção de seu papel.

 Lula se tornou uma caixa de ressonância do autocrata russo

É algo tão profundo e intenso que, ao chamar de “defesa”, não faz jus ao real significado do engajamento de Lula, sua diplomacia, seu governo e o Brasil nas fileiras de Putin – seja em sua guerra de agressão contra a Ucrânia, seja no projeto macro de desmantelar o Ocidente. O tal “mundo multipolar” ou aliança “Sul-Sul”.

Na Suíça, onde foi participar de uma reunião de subseção sindical, da Organização das Nações Unidas, que atende pelo nome Organização Internacional do Trabalho (OIT), Lula ignorou os apelos dos líderes ocidentais para se sentar em uma conferência sobre a paz na Ucrânia. Segundo ele, o Brasil não participará de nenhuma decisão unilateral, ou seja, que não envolva os dois lados da guerra. Algo que parece fazer sentido, mas não tem sentido algum.

Lula trata o caso como se fosse uma guerra em que os dois lados estão interessados na guerra em si. Ele ignora o fato de que o conflito é o resultado de uma agressão. Uma invasão.

O papel da Ucrânia é de defesa. Seu território está sob ataque desde 2014, quando Putin abocanhou a Crimeia. A guerra atual é resultado de um novo passo do imperialismo de Putin, que resolveu intervir na autonomia dos ucranianos, sob o pretexto da prevenção.

Valendo-se da lógica de Lula, cujos conflitos mais complexos podem ser resolvidos em mesa de bar, bastava o companheiro Putin retirar suas tropas e seguir a vida. Os ucranianos não esperam nada além disso, mas o presidente brasileiro acha que não é bem assim. Putin precisa ser ouvido e suas pretensões atendidas.

Lula nunca disse isso, mas eu tomo a liberdade de interpretar que, para ele, o fim da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia é pela rendição dos ucranianos. Uma capitulação completa aos desígnios de Putin.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi ao Congresso reforçar a mesmíssima posição de Putin. Ops, Lula. Disse que o Brasil não tem lado em nenhuma das guerras em curso, e que a posição de Lula é muito clara. “O presidente, antes mesmo de assumir, condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia.” E para corroborar com a tese, relembrou que o Brasil é “parça” da China na apresentação de uma proposta de diálogo. Proposta essa que já reúne mais de quarenta países. É o tal “Eixo da Paz”, conforme o supra-chanceler Celso Amorim batizou os adeptos da proposta. Além de China e Brasil, o grupo reúne Venezuela, Nicarágua, Cuba, Irã, Bolívia, Bielorrússia, e por aí vai...

Lula não aderiu à causa russa apenas no campo político e diplomático. A encarnação dos ideais de Putin se mostra na prática. Lula vetou a exportação de ambulâncias blindadas para a Ucrânia, fechou as portas para operações de vendas de munições de tanque para Alemanha – que as repassaria para a Ucrânia – sob a justificativa de que não alimentaria a guerra. 

Beleza, mas...

Em 17 meses de governo (os dados vão até maio), o Brasil transferiu para a Rússia US$6,9 bilhões pela importação de diesel. Para se ter uma ideia do que isso representa, o valor é mais de 12 vezes o total pago na soma dos 10 anos anteriores (2012-2022). No mês passado, nada menos que 97,8% das importações brasileiras de diesel vieram da Rússia.

Ressalto que o negócio envolve vários atores privados. Mas não há como negar o fato de que, além de a Petrobras ser uma importante importadora, o governo não moveu um milímetro para restringir a virada do mercado nacional em favor da Rússia. Há sinais de que fez o contrário.

Essa é a isenção de Lula. Essa é a isenção do Brasil.

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