O Procurador-Geral da Venezuela, Tarek William Saab, disse em entrevista que Lula foi cooptado pela CIA.| Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado; Ricardo Stuckert/PR
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O procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, é um dos personagens mais caricatos do regime. Dono de uma expressão congelada devido aos altos teores de botox e adepto ao uso de calças com uns três números a menos e camisas que, de tão atochadas, parece que as costuras vão explodir. Ele não se faz de rogado ao exibir em suas redes suas sessões de depilação, exercícios físicos e, grosseiramente, com a ajuda de Photoshop, a “imensidão” da própria genital. Notório executor das ordens de perseguição, prisão e tortura contra os opositores do regime Saab é um forte candidato a punições futuras por crimes contra a humanidade.

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Nesta semana, ele resolveu atacar o presidente Gabriel Boric, do Chile; e Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil. Em um convescote com um apresentador da TV estatal venezuelana, Saab disse que Boric e Lula foram cooptados pela CIA. Pois é, a CIA...

Para o chavista, Lula está a serviço da inteligência americana, a mesma que “montou a Lava-Jato para mandá-lo para prisão”, tirando assim o próprio Lula da disputa presidencial de 2018 e implodindo uma crise que afetou as maiores empreiteiras do país. A mesmíssima CIA que “treinou Sérgio Moro”, “deu golpe na Bolívia”, “quer matar Maduro”, “inventou uma guerra por procuração na Ucrânia”. 

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Saab recorreu ao velho recurso de colocar todas as culpas do mundo nos americanos e resolveu meter Boric e Lula no mesmo escaninho. Mas será que é para levar a sério? Claro que não. Oficialmente, Saab foi desautorizado pelo regime de Maduro, que disse que o procurador-geral falava por si e não pela ditadura. Uma saída diplomática que ignora o fato de que um funcionário como Saab jamais falaria por si.

No teatro chavista, o que importa é que Lula é um amigão que está precisando de oxigênio. A má reputação de Maduro e de sua ditadura estão causando prejuízos para Lula e seus aliados

Nada mais simbólico que o impacto negativo na campanha apoiada pelo PT em São Paulo. As questões ligadas à Venezuela são um dos pontos que mais afetam negativamente a esquerda que tenta esconder seu affair com o chavismo.

O insólito é que a fala amalucada de Saab encontrou mais eco no polo diametralmente oposto ao dos petistas mais radicais. Desde que a administração Biden passou a não esconder sua preferência por Lula e consequentemente a sua aversão ao “Trump dos Trópicos”, atores da direita passaram a vender a tese de que Lula e Biden eram uma coisa só. Ou que Lula “é um serviçal do americano”.

Um negócio tão esdrúxulo que ignora fatos como o emprego dos Brics como uma força antiamericana sob o comando de China e Rússia, e tendo o Brasil como uma espécie de estafeta que cumpre as missões mais subalternas.

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É evidente que os democratas mandaram mil e um recados de apoio a Lula. Quem não lembra das constantes cartas e declarações de grupos de congressistas que cobravam pressão sobre Jair Bolsonaro?

Houve a famosa visita do diretor da CIA William Burns que, segundo a cobertura da imprensa, teria pedido ao presidente brasileiro para não melar o processo eleitoral. Depois dele, veio Jake Sullivan, o conselheiro de segurança nacional dos EUA. Além de agenda com o próprio Bolsonaro, um dos principais assessores de Biden se reuniu com o secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência, ministro da Defesa e outros assessores do Planalto.

O engajamento da administração Biden parece ter se intensificado depois que uma delegação de “mais ou menos vinte brasileiros” – conforme relato de um deles publicado pela revista Piauí – desembarcou em Washington, em julho de 2022, para pedir para que a Casa Branca impedisse um golpe de estado no Brasil. 

A ruma de gente que percorreu gabinetes no Congresso, ganhou audiência no Departamento de Estado, foi recebida por assessores seniores da Casa Branca, reuniu-se com embaixadores estrangeiros que representam seus países na Organização dos Estados Americanos (imagine só a lista...) também bateu ponto na Comissão Interamericana de Direitos Humanos prevendo que precisariam ter boas relações por lá para processar os golpistas.

Imaginem a cena. Petistas, psolistas e comunistas de carteirinha de mãos dadas, com amostras das minorias em risco no Brasil a tiracolo, genuflexos e implorando para os Estados Unidos salvá-los de Jair Bolsonaro. Do outro lado, um monte de gringo encantado com o exotismo tropical e com a oportunidade de salvar a democracia de uma terra selvagem?

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Deve ter sido maravilhoso.

O fato é que, apesar da espuma, as preferências dos Estados Unidos geraram mais manchetes na imprensa que interferência real em favor de Lula. O lobby – de certo modo até ilegal – que as organizações brasileiras e seus prepostos nos Estados Unidos fizeram tinha outro objetivo. Eles estavam tentando contratar um seguro. Tentar amainar qualquer sentimento golpista que florescesse e tentar garantir que os Estados Unidos liderariam um movimento que isolasse o Brasil em caso de “golpe”.

Bolsonaro perdeu a eleição, Lula tomou posse e uma semana depois ganhou de presente a baderna de 8 de janeiro de 2022. O resultado: não houve golpe algum e Washington não se envolveu em nada. Mas na ferradura que simboliza a polarização política, o bolivariano Tarek Saab e o mais fervoroso dos direitistas se encontram.