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Leonardo Coutinho

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Brasil, América Latina, mundo (não necessariamente nesta ordem)

Terrorismo

Novos acusados reforçam como o Brasil foi usado como base para atentado em Buenos Aires

Muro em Buenos Aires, em janeiro de 2020, com os nomes dos mortos no atentado contra a Associação Mutual Israelita (Amia), em 18 de julho de 1994 (Foto: EFE/Juan Ignacio Roncoroni)

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No próximo dia 18 de julho, os argentinos relembrarão os 29 anos do atentado contra a sede da Associação Mutual Israelita de Buenos Aires (Amia). Naquele dia, uma van carregada com 200 quilos de explosivos foi detonada em frente à instituição, deixando um rastro de destruição, 86 mortos e mais de 300 feridos. Nesta semana, as autoridades argentinas apresentaram novos nomes de acusados de envolvimento na trama. São velhos conhecidos por seus vínculos com o grupo terrorista libanês Hezbollah e seu patrono maior, o regime teocrático do Irã.

As investigações indicam que a Amia foi pelos ares como parte de um plano de vingança do Hezbollah contra Israel. Na realidade, há uma rara confissão de autoria depositada nos arquivos da diplomacia argentina. No dia 28 de maio de 1994, 51 dias antes do atentado, a Embaixada da Argentina no Líbano transmitiu um telegrama descrevendo o conteúdo de um sermão proferido pelo sheik Mohammad Hussein Fadlallah, então líder espiritual do Hezbollah. O sheik Fadlallah não usou meias palavras para protestar contra a prisão do terroristão Mustafa Dirani, então chefe de segurança da milícia Amal, organização que naquele momento era pilotada pelo Hezbollah.

Segundo o telegrama, Fadlallah proclamou: “A resistência tem muito oxigênio. O inimigo disse que tem tentáculos grandes, mas os combatentes muçulmanos provaram depois do assassinato de Abbas Mousawi que suas mãos podiam chegar até a Argentina”, fazendo uma referência a um outro atentado ocorrido em 1992, também em Buenos Aires. Menos de dois meses depois, a “mão do Hezbollah” alcançava mais uma vez um alvo judaico na América do Sul.

Nesta semana, os argentinos enviaram para a Interpol uma lista de quatro nomes de libaneses que são acusados de envolvimento no atentado. Eles se juntam a outros oito nomes que têm pedidos de captura expedidos, mas ninguém ousou cumprir.

A nova lista traz nomes com vinculação direta com o Brasil. São libaneses que tiveram negócios e/ou vivem no Brasil e alguns deles até são brasileiros por meio da naturalização. Uma confirmação de que parte importante da logística dos atentados na Argentina se deu em solo brasileiro, conforme já está descrito neste link.

O libanês Hussein Mounir Mouzannar, que faz parte da lista argentina, teve uma empresa em Joinville (SC) e em 2019 teve um pedido de naturalização negado pelo Brasil. Atualmente, ele vive em Mingua Guazú, uma cidade nos arredores de Ciudad del Este, na Tríplice Fronteira. Segundo os argentinos, Mouzannar foi quem providenciou os documentos falsos para construir a identidade paraguaia para Salman Raouf Salman, considerado um dos principais nomes da rede logística do atentado e que faz parte da nova lista de pedidos de captura internacional.

Salman Raouf Salman, que também é libanês, passou a viver no Brasil sob o nome falso de Salman El Reda. Registros de organizações locais indicam que ele viveu livremente no Brasil até os anos 90 e depois fugiu para o Líbano. Os contatos e negócios de Raouf Salman seguem ativos na região.

O terceiro nome da lista é Farouk Abdul Hay Omairi, que é um dos nomes mais celebrados pela minoria radical que penetrou a comunidade xiita de Foz do Iguaçu. Segundo a denúncia, Omairi usava sua agência de turismo como uma espécie de sucursal do Hezbollah, trabalhando para construção de identidades falsas, emitindo bilhetes aéreos e fazendo operações de câmbio.

O nome de Omairi entrou no radar das forças de segurança em 1988, quando um membro do Hezbollah foi preso na Costa do Marfim com explosivos, detonadores, granadas e um lança-foguetes. Na agenda do terrorista, apareciam o nome de Omairi, seu endereço e telefone no Brasil. Ao lado, a inscrição “bom irmão”.

A pista não foi o suficiente para tirar Omairi de circulação e, tampouco, interromper suas atividades. As investigações mostram que Omairi manteve intensa comunicação com os acusados do atentado nos dias que antecederam a explosão da Amia. Em 2006, ele foi incluído em uma lista de pessoas sancionadas pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos e naquele mesmo ano, ele foi preso no Brasil acusado de tráfico de cocaína. Por sinal, uma das atividades que o Hezbollah realiza no Brasil em consórcio com o PCC. Omairi está em liberdade e vive em Foz do Iguaçu.

O quarto nome da lista, Abdallah Salman, é irmão de outro acusado, Salman Raouf Salman, e vive no Líbano. Quando atuou na rede logística liderada pelo irmão para realização do atentado contra a Amia, ele vivia em Foz do Iguaçu, em um apartamento do quarto andar do Edifício Brasília, no centro de Foz do Iguaçu.

Os arquivos da investigação iniciada pelo procurador federal Alberto Nisman, assassinado em 2015, um dia antes de apresentar uma denúncia contra autoridades argentinas por encobrimento das investigações, permite ver que a lista de envolvidos não para neste novo grupo denunciado. Além de novos nomes, o Brasil vai ficando cada vez mais exposto na trama por ter sido (e ainda ser) usado como um paraíso pelo Hezbollah, que para o Brasil é uma organização oficialmente legítima e não terrorista.

Ninguém pode negar que o Brasil é um paraíso.

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