O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito prometendo salvar a democracia. Há quem tenha se escorado nessa missão nobre, autoatribuída por Lula, para higienizar a consciência para votar nele, mesmo sabendo que as gestões petistas ficaram conhecidas por terem gerado e parido o maior escândalo de corrupção da história. Beleza. Lula está eleito, mas ainda não deixou claro qual é o seu compromisso com a democracia. Será que a missão se resumia a derrotar Jair Bolsonaro?
Qual apreço Lula, sua turma e partido têm para com a democracia? Os sinais que os petistas estão emitindo desde a equipe de transição e fora dela são desanimadores. Para pensar a política externa brasileira, por exemplo, Lula escalou pesos-pesados do petismo mais radical. Na largada, colocou a diretora do Foro de São Paulo, Monica Valente, e o secretário de relações internacionais do PT, Romênio Pereira, para engrossar o caldo do time que adora a tal diplomacia “ativa e altiva” e tem paixão pelo eixo Sul-Sul.
Valente e Pereira são fãs incondicionais de ditadores latinos como o venezuelano Nicolás Maduro, os gerontocratas cubanos e o nicaraguense Daniel Ortega. No ano passado, a dupla causou constrangimento ao publicar uma nota oficial parabenizando o companheiro Ortega pela vitória em simulacro de eleição, que foi marcado pela prisão dos opositores e violência contra quem ousou protestar. A nota foi tirada do ar, para evitar danos eleitorais.
Nesta semana, a Embaixada da Venezuela no Brasil – cujo todo “corpo diplomático” perdeu esse status junto ao Itamaraty e basicamente é composto de imigrantes ilegais – realizou uma cerimônia em homenagem ao deputado federal Paulo Pimenta, do PT do Rio Grande do Sul. Declarados personas non gratas pelo governo brasileiro, eles deveriam ter ido embora do Brasil em 2020, mas Pimenta entrou com uma ação no STF e garantiu a permanência deles aqui.
Pimenta também foi quem liderou uma reação violenta em uma tentativa de retomada da embaixada pelos diplomatas (esses sim reconhecidos pelo governo brasileiro) indicados por Juan Guaidó. Ao estilo black bloc, Pimenta reuniu um pessoal do PSOL, MST e PT para dar uns sopapos em cidadãos venezuelanos dentro da embaixada deles. Tudo por amor já declarado a Maduro e à revolução bolivariana.
Em Cuba, o regime já começou a se preparar para a sonhada retomada da exportação de mão de obra médica. A imprensa estatal, que fazia contagem regressiva para eleição de Lula e não escondia os planos de enviar os médicos para o Brasil, entrou em modo repouso. Fontes médicas da ilha dizem que é pura dissimulação. Não querem chamar a atenção para não atrapalhar um possível retorno que, ao que tudo indica, seria via intermediários como o Consórcio Nordeste – uma agremiação de governadores de esquerda que surgiu em 2019 para fazer oposição, ou, como dizem, resistência, ao então recém-empossado Jair Bolsonaro.
Para ajudar Cuba, os governos petistas rasgaram as leis brasileiras e permitiram que o nosso país se transformasse em uma extensão dos braços do regime comunista dos Castro. Mais de 15 mil médicos passaram pelo Brasil em um regime em que 70% dos salários deles era confiscado para nutrir os cofres do regime. Mas como Cuba é um símbolo socialista, a escravidão não é escravidão. O abuso não é abuso. Os crimes não são crimes.
Tolerância companheira que tem feito com que a esquerda relativize e principalmente glamorize regimes ditatoriais. Algo profundamente incompatível com quem nutre o menor compromisso com valores democráticos.
Ditadura é ditadura. Seja ela de esquerda, de direita ou religiosa.
Lula já demonstrou no passado uma fluidez vexatória no compromisso com a democracia. Deportou cubanos que esperavam ser acolhidos em meio a um pedido de asilo. Sob o pretexto de construir a paz, ajudou o Irã a ganhar tempo para acelerar seu programa nuclear, tentou amordaçar a imprensa e torrou centenas de milhões de dólares dos contribuintes brasileiros em empréstimos concedidos com quase nenhuma garantia para ditaduras latino-americanas e africanas, por meio do BNDES.
Lula tem a chance de fazer um ajuste na rota. A questão, entretanto, não é mais sobre chance. É preciso saber se Lula deseja mudar. Os sinais até agora indicam que não.
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