O falecido Hugo Chávez passou anos desapercebido enganando o mundo fazendo-se passar por um palhaço. Seu sucessor, Nicolás Maduro, por sua vez, faz dezenas de piruetas para ser levado à sério, mas não consegue esconder o fato de que é um completo idiota. Característica que não o torna menos perigoso. O ditador venezuelano e seu bigode são os símbolos mais visíveis do sucesso da revolução bolivariana. O colapso "controlado" da Venezuela. O mergulho do país vizinho na crise econômica, social e institucional não é algo acidental. Chávez e Maduro trabalharam para isso. Não é lícito dizer que o plano correu como planejado. Mas a tragédia venezuelana é, sim, resultado de duas décadas de ações equivocadas, crimes e um esforço descomunal de convulsionar a região e, consequentemente, o mundo. Cada um, ao seu modo, assentou tijolo por tijolo do labirinto bolivariano no qual a Venezuela se encontra.
Enquanto são remotas as saídas para crise, Maduro se esforça para aprofundá-la. No mais recente acesso de verborragia revolucionária, ele declarou diante dos aliados – no picadeiro que responde pelo nome de Assembleia Nacional Constituinte – que está pronto para guerra. Disse conhecer os planos dos presidentes Jair Bolsonaro e do colombiano Iván Duque para desestabilizar a região e que tem a resposta adequada para "arrebentar os dentes" de Brasil e Colômbia.
O discurso faz parte do mesmo espetáculo iniciado por ele no final de 2019 (que por sinal foi tema de minha última coluna daquele ano). Maduro acusou o Brasil e a Colômbia de estarem envolvidos em uma suposta série de ações irregulares dentro de seu território, sendo que a mais flagrante um mal contado caso de roubo de armas em uma instalação militar venezuelana, que terminou com a fuga de insurgentes para o Brasil.
A razão de Maduro falar grosso é que o histórico de aquisições militares da Venezuela é de fazer inveja na região. Entre 2005 e 2012, Hugo Chávez estabeleceu uma conexão direta com o russo Vladimir Putin para remodelar as Forças Armadas de seu país. Na longa lista de materiais destacam-se a aquisição de 100 mil fuzis AK 103 e 104 (as versões modernizadas da arma lendária desenvolvida Mikhail Kalashnikov), 41 helicópteros de transporte e outros 20 de ataque, 24 caças Sukhoi Su30MK2, 5 mil fuzis de franco-atirador Dragunov SDVS, mil lança mísseis Igla-S e sistemas de defesa antiaérea Pechora 2M (curta distância), Buk-M2 (média distância) S-300VM Antey-2500 (longa distância).
A longa lista é de colocar medo. Mas há um ingrediente central. Os russos são famosos por não oferecer um pós-venda de excelência. Quase sempre seus equipamentos (muitos deles excelentes) têm a eficiência comprometida pela falta de assistência técnica. No caso venezuelano, essa característica russa foi amplificada por uma variável local. Chávez comprou tudo a crédito e não pagou a fatura. Morreu e deixou a dívida nas mãos de Maduro justamente em um momento em que a economia do país entraria em colapso como resultado da queda dos preços do petróleo e, principalmente, como resultado dos erros do chavismo.
Sem receber os pagamentos pelas armas, a Rússia avançou sobre os poços de petróleo e, por anos, simplesmente deixou os militares venezuelanos abandonados à própria sorte. Vários helicópteros caíram em operações, resultado na morte de militares e das duas dúzias de caças, três ou quatro apenas são capazes de operar ao mesmo tempo. Os demais estão inativos por terem cedido peças para manutenção de aeronaves operacionais.
No início de 2019, quando Maduro fechou a fronteira com o Brasil, no auge da crise gerada com o plano fracassado de Juan Guaidó de ingressar com ajuda humanitária no país, os venezuelanos posicionaram sistemas antiaéreos S-300 a poucos quilômetros da divisa com o Brasil. Era uma tentativa clara de intimidar as Forças Armadas brasileiras. Os sinais de radar do S-300 chegaram a ser identificados no Brasil. Mas quando a inteligência brasileira foi medir o grau de ameaça, o teatro de Maduro virou piada. O sistema antiaéreo estava incompleto. Apenas a estação de radar estava ali para gerar algum tipo de repercussão.
Algo mais bizarro aconteceu na fronteira com a Colômbia. Maduro mandou estacionar a defesa antiaérea em uma área "sombreada" por montanhas. O equipamento, segundo a avaliação dos colombianos tinha o seu potencial "substancialmente reduzido" pela geografia. Em Washington, um oficial do Pentágono ouvido pela coluna descreveu como desolador o estado das Forças Armadas. Segundo ele, muitas carcaças são posicionadas para criar apenas uma impressão de poder. "Mas são perigosas como maquetes de madeira", definiu. Este era o quadro em fevereiro de 2019.
Por si só, Maduro não estaria mais no comando da Venezuela. Seu regime só se mantém de pé porque ele tem aliados externos (Rússia, China, Irã, Cuba e Turquia) que oferecem suporte necessário para evadir as sanções, lavar dinheiro e contornar os problemas internos.
Recentemente, pessoal militar russo tem sido constantemente visto em operações no interior da Venezuela. A suspeita é que Moscou possa estar tentando recauchutar os equipamentos. Talvez seja essa a razão da tal valentia de Maduro.
Mas, enquanto não se sabe exatamente as reais capacidades militares da ditadura, Maduro, sempre que necessita, como agora que promete arrebentar os dentes de Bolsonaro e Duque, recorre aos velhinhos de seu país (esses sim quase todos desdentados) para dizer que todos os venezuelanos estão dispostos a morrer por ele. Nos últimos anos, foram várias as demonstrações da força dos anciãos. Algo covardemente ridículo. Mas totalmente condizente com o que é a Venezuela chavista e com todos os que a idolatram: covardemente ridículo.
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