Maduro sempre usou simulacros de eleição para dar uma cara de democracia ao seu regime.| Foto: Miguel Gutiérrez/EFE
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O ditador venezuelano Nicolás Maduro organizou mais uma cerimônia de posse para fazer parecer que a Venezuela vive sob normalidade democrática. A solenidade, que marcará o início de seu terceiro mandato ilegítimo, é um ato complementar ao circo que ele montou em junho passado, quando convocou o povo para votar em um simulacro de eleição.

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Quase todo mundo já entendeu que Maduro forjou uma vitória eleitoral para se manter no poder. Mas olhando em retrospecto, ele não fez nada de diferente do que vem sendo feito por ele e sua gangue.

Em 2012, já moribundo, Hugo Chávez foi eleito em uma eleição com resultados suspeitos, tendo Maduro como vice. Depois disso, Chávez desapareceu. Foi internado em Cuba, onde morreu em consequência do câncer, sem nunca ter tomado posse efetivamente.

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Embora os chavistas tenham aparecido com um termo de posse assinado, ninguém nunca viu sequer uma fotografia do ato que teria confirmado Chávez como presidente. Há sérios indícios de que tudo foi armado para evitar novas eleições.

Com a morte de Chávez, Maduro assumiu interinamente e organizou uma “eleição” para justificar sua permanência no poder. Repleta de denúncias de fraude e abusos, ela passou a ser contestada pelo povo que foi para as ruas.

Maduro e suas milícias esmagaram os manifestantes em uma onda de violência sem precedentes naquele país.

Em 2019, Maduro renovou-se no poder, depois de outra eleição ainda mais controversa, na qual até a empresa que forneceu as urnas eletrônicas denunciou inconsistências entre os resultados apurados e os apresentados pelo regime.

Maduro sempre usou simulacros de eleição para dar uma cara de democracia para seu regime, ao mesmo tempo que não só manipulava os resultados, como perseguia, prendia e até matava seus opositores.

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Agora ele está de volta, fazendo o que sempre fez e ainda assim muita gente faz cara de surpresa.

O povo venezuelano está se preparando para mais uma vez ir às ruas pedir pela volta da democracia.

Maduro não dá a mínima. Chama todo mundo de golpista e promete mandar para cadeia a quem insistir no “golpe”

Em 2017, por exemplo, quando foi o auge da crise, centenas foram presos e mortos. Maduro não só reprimiu como usou o argumento do golpismo para endurecer o regime.

Por meses, foram registrados protestos diários em centenas de localidades pelo país. Mas o que aconteceu? Os descontentes foram massacrados pelos grupos armados do chavismo. Seja por meio das forças oficiais, seja por meio de paramilitares e grupos de crime organizado que recebem e dão suporte ao regime.

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Há muita expectativa para o fim do regime. Muitos comparam com a queda repentina de Bashar al-Assad, na Síria. Outros apostam que o americano Donald Trump afugentará o ditador venezuelano.

Já escrevi outras vezes neste espaço que não há solução fácil para Venezuela. Não basta derrubar Maduro. Com ele terá que ir um regime inteiro que tem pilares no crime transnacional organizado e o suporte de países que não estão dispostos a abrir mão de seu proxy local.

China, Rússia e Irã construíram na Venezuela uma base avançada de seus interesses no Ocidente. Algo que, por exemplo, Cuba jamais foi.

O regime socialista dos Castro serviu de inspiração e de propaganda. Mas jamais teve a magnitude da Venezuela com Chávez e Maduro. O regime ampliou a desordem regional em níveis jamais alcançados, mesmo pelas guerrilhas financiadas pela extinta União Soviética e animados pelos cubanos.

Desde Pequim e Moscou, os autocratas-mor puxam as cordas do regime venezuelano, que turbinou os cartéis de drogas do México, transformou a América Central em um inferno de violência, amplificou a capacidade de tráfico de cocaína para Europa e África. Além disso, minaram a confiança na democracia e desafiaram de forma bem-sucedida a liderança regional dos Estados Unidos.

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Nicolás Maduro não ganhou eleição algbuma. Me atrevo a dizer que jamais ele ganhou de fato uma. Mas isso nunca importou. Maduro sempre venceu e segue vencendo porque o jogo dele é outro. Se dá conforme regras que os outros são obrigados a cumprir e ele sempre pode ignorar ou mudar.

Torço para a Venezuela voltar um dia para as mãos dos venezuelanos. Um dia.