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O ex-presidente da Bolívia e líder cocaleiro Evo Morales é uma estrela bolivariana. Morales é também alvo de recorrentes denúncias dos crimes de pedofilia, corrupção de menores e até mesmo de estupro. Quando Morales era presidente sempre conseguiu se esquivar. Mas a vida não anda fácil para ele. Não param de surgir histórias de menores de idade que eram mantidas – no que parece ser uma espécie de harém – no entorno do então presidente. As investigações indicam que o ex-presidente da Bolívia engravidou pelo menos uma adolescente, então com quinze anos.
Evo Morales se diz vítima de perseguição política. Lawfare, como a turma gosta de dizer. Pobrecito...
O líder cocaleiro, como bom bolivariano, não poderia deixar de dizer que as investigações e processos contra ele são a prova de que seu sucessor (e ex-aliado) Luis Arce é um serviçal da Casa Branca.
Morales deixou o poder em 2019, em um autogolpe depois que ele se enrolou em uma tentativa de fraude eleitoral. Antes disso, o cocaleiro governou a Bolívia de forma a transformar o Estado em uma espécie de extensão de sua organização.
Passou treze anos no poder fazendo o que bem entendia. As denúncias de pedofilia eram recorrentes, mas não iam a lugar algum. Quem se atrevesse a incomodar sentia o peso da vingança de quem é o Estado. No caso da Bolívia, um estado criminalizado.
A fotografia que ilustra esta coluna traz Evo Morales abraçado com o ditador Nicolás Maduro. O venezuelano é investigado por crimes contra a humanidade e é procurado pela Justiça dos Estados Unidos por tráfico de cocaína.
O regime de Maduro é assassino. Tem em sua folha corrida algumas centenas de mortes de opositores, prisões políticas, torturas e milhares de vítimas feridas em ações de repressão
Em 2022, a Organização das Nações Unidas relatou que uma missão enviada à Venezuela documentou 77 casos de vítimas que sofreram tortura, abuso sexual e tratamentos “desumanos”, “cruéis” e “degradantes”, como literalmente descreveram os inspetores.
Nicolás Maduro não é o único “facilitador do tráfico”, vamos dizer assim, a posar na mesma foto. Ao lado dele está Raúl Castro, o gerontocrata que, na ocasião em que a fotografia foi feita, era o ditador de Cuba. Nos anos de 1980, Raúl e seu irmão Fidel Castro transformaram Cuba em um gigantesco entreposto de cocaína colombiana.
Sob a desculpa de usar o tráfico de drogas como arma contra os Estados Unidos, Fidel e Raúl Castro se engajaram fortemente no tráfico de cocaína, fundando o primeiro Estado Narco da América Latina. Estado Narco, é como defino o estágio final da destruição institucional de um país em função do crime. Trata-se de um estágio terminal que vai além do conceito clássico de narcoestado.
Enquanto os narcoestados são penetrados e influenciados pelos interesses dos criminosos, os Estados Narcos são os operadores do crime em si. Realizam o tráfico valendo-se dos aparatos estatais. Além disso, colocam a infraestrutura, as forças armadas e o poder público para justificar, promover e facilitar as ações criminosas que passam a ser, em grande medida, políticas de Estado.
Aliás, foram os irmãos Castro que introduziram Hugo Chávez no universo do tráfico de cocaína sob o pretexto de ação revolucionária. Padrinho do ditador venezuelano morto em 2013, os cubanos também são os patronos do Cartel de los Soles – a organização criminosa chefiada pela cúpula chavista e os comandantes militares.
Um pouquinho mais à esquerda, entre o presidente Lula e a ex-presidente Dilma, está o ditador Daniel Ortega. Além de violador dos direitos humanos e dono de uma lista de crimes que passam pela tortura e desaparecimentos de opositores, Ortega também tem na sua folha corrida o “tráfico revolucionário”.
O ditador nicaraguense é acusado de oferecer refúgio e infraestrutura para as operações de tráfico rumo ao México e aos Estados Unidos. Além disso, também está envolvido até o pescoço com as máfias que fazem tráfico humano.
Lá no fundão estão Miguel Díaz-Canel, atual líder do regime cubano; Delcy Rodríguez, vice-ditadora da Venezuela; e Bruno Rodriguez, ministro das Relações Exteriores de Cuba. No miolo estão cupinchas, xerimbabos e adoradores de ditaduras.
O presidente Lula e a ex-presidente Dilma estiveram no centro do maior esquema de corrupção da história recente. Os crimes expostos pelas investigações da Lava-Jato foram reconhecidos por muitos e provados de forma consistente de várias maneiras. Mas tudo se perdeu nos meandros das falhas procedimentais que o vazamento do Telegram serviu para justificar.
As condenações anuladas, penas prescritas e impunidade sistêmica serviram de argumento para criar a tese da inocência e até a negação de atos criminosos em si. Era tudo miragem. Com isso, todos viram as vítimas. Aliás, sempre é assim.
No final, eles sempre são as vítimas.