Combatentes do Hezbollah em cerimônia, janeiro de 2018| Foto: khamenei.ir
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Imagine a situação em que o seu vizinho é extremamente generoso e comprometido com a comunidade. Entre as várias bondades, ele ajuda os velhinhos a atravessar a rua. Faz compras para eles e as desinfeta para evitar que eles adoeçam e morram de Covid-19. Um sujeito tão bacana, mas tão bacana, que o fato de ele circular com um carro roubado, com placa clonada, e estocar quantidades industriais de cocaína no porão de sua casa não importa. Afinal, ele é tão bondoso que a droga entre e sai de sua residência sem que um grama fique na vizinhança ameaçando a segurança, a saúde e a integridade das pessoas que ele ajuda. Não se trata de um breve perfil de chefes de morro do Rio de Janeiro ou de qualquer outra favela onde essa ilusão prospera. Estou falando do Hezbollah – a milícia xiita que nasceu no sul do Líbano e virou uma das ferramentas de exportação de instabilidade do Oriente Médio a América Latina.

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O Hezbollah é um híbrido de partido político, organização filantrópica, exército irregular e grupo terrorista. Seus operadores estão por trás de uma série de atentados, entre os quais o que mandou pelos ares a Associação Mutual Israelita de Buenos Aires (Amia), em 1994. Até os ataques de 11 de setembro de 2001, a explosão de um carro bomba em Buenos Aires foi o maior ataque terrorista perpetrado por um grupo radical islâmico nas Américas.

Mas o mesmo Hezbollah que explode gente também cuida de órfãos e viúvas. Também mantêm grupo de escoteiros, pagam cestas básicas e, acredite, até bolsas de estudos para seus eleitos colarem em seus currículos selos de universidades importantes, como Harvard. Até Harvard.

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O Hezbollah reúne uma variedade de perfis de gente disposta a morrer em nome de Deus e pela crença em um paraíso de luxurias no qual, segundo algumas interpretações teológicas, os eleitos são beneficiados com ereção eterna e seis dúzias de mulheres, sempre dispostas ao sexo. Como se não bastasse, todas elas têm a propriedade de regenerar o hímen tornando-se virgens perpétuas. O paraíso almejado por eles inclui, também, rios de água cristalina, leite e mel em abundância. As escrituras não incluem mais detalhes, mas imagino que o combo venha acompanhado de muita música, churrasco e outros prazeres. Nada a ver com a modorra da vida eterna na visão Ocidental, convenhamos.

Mas, enfim, enquanto a promessa divina não se cumpre, o Hezbollah tem uma amostra de paraíso em plena América do Sul. Sendo que a porção mais paradisíaca do céu latino-americano está no Brasil.

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Desde a sua fundação nos anos de 1980, os militantes do Hezbollah vivem pelos países da região quase sem serem incomodados. Eles se acomodaram, na tentativa de serem invisíveis, entre os compatriotas que já estavam instalados décadas antes no Brasil, onde construíram comunidades harmônicas e integradas com a sociedade brasileira. Silenciosamente, os radicais montaram suas redes de contrabando, lavagem de dinheiro, tráfico de cocaína para o financiamento das atividades do grupo lá no Líbano.

As investigações do já citado atentado contra a Amia identificaram que o financiamento da operação veio da paranaense Foz do Iguaçu, cidade que tem uma das mais pujantes e vibrantes comunidades libanesas no Ocidente. Justamente por ser um lugar de gente pacífica, trabalhadora e integrada, os criminosos do Hezbollah tentam se mimetizar usando este ambiente de integração como escudo para suas ações ilícitas.

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A Justiça do Paraguai devolverá para o Brasil um dos maiores nomes do Hezbollah na América Latina. Assad Ahmad Barakat, reconhecido operador financeiro e logístico do grupo terrorista na região será deportado depois de ter cumprido sua pena no país vizinho. Ele escolheu o Brasil como destino. Afinal, quem não quer ir para o paraíso?

Barakat faz parte de uma lista de membros do grupo terrorista na região. Ele atua, segundo o governo americano, como um operador financeiro do Hezbollah no Brasil. Em 2011, com o apoio do ex-delegado federal e então deputado pelo PCdoB, Protógenes Queiroz, Barakat vendeu no Congresso brasileiro a tese de que as investigações sobre as ações do Hezbollah eram islamofobia. Uma guinada para quem dez anos antes, com total crença na impunidade, tenha reconhecido que enviava sim dinheiro para os terroristas libaneses.

São Paulo e Curitiba, cidade sede desta Gazeta do Povo, também são alvos desta infiltração do Hezbollah. Até 2011, o irmão do arquiteto do atentado conta a Amia vivia tranquilamente na região central da capital paranaense. O iraniano chegou a receber secretamente a visita do irmão terrorista, que só não foi preso porque o governo Lula, por alguma razão desconhecida, demorou a processar as informações da Polícia Federal. Mohsen Rabbani, como se chama o terrorista buscado pela Interpol, fugiu impunemente valendo-se de documentos falsos oferecidos por Hugo Chávez.

O retorno de Barakat ao Brasil é o sintoma de que enquanto as autoridades seguirem negando-se a tratar o Hezbollah como exatamente o Hezbollah é, seus operadores seguirão fazendo do país um autêntico paraíso na terra.

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