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Jovens palestinos mascarados preparam objeto inflamável para ser atirado em território de Israel, perto da fronteira entre Gaza e Israel, 18 de janeiro de 2020
Jovens palestinos mascarados preparam objeto inflamável para ser atirado em território de Israel, perto da fronteira entre Gaza e Israel, 18 de janeiro de 2020| Foto: SAID KHATIB / AFP

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou uma proposta de paz para o conflito entre Israel e Palestina. Uma proposta. Este é nome que deve ser dado ao anúncio que, diferentemente das tentativas anteriores, não envolveu discussões ou acordos com as partes envolvidas. Ou pelo menos uma delas: a palestina. Depois de anunciada, a oferta americana foi instantaneamente bombardeada. "Como os Estados Unidos podem oferecer um plano de paz sem plano de paz, ou acordo sem acordo?" Foi mais ou menos assim a toada das críticas ao "pacote fechado" oferecido por Trump. Mas sinceramente, acordo e discussões para quê?

Todas as versões anteriores fracassaram. As lições das cartilhas de resolução de conflitos internacionais foram esgotadas e o script do direito internacional foi seguido nas mais diversas sendas possíveis. Deu certo? Não. E os planos de Trump também não darão. E a razão não é falta de diálogo.

Os palestinos não querem paz. Um dos ingredientes que tornam o conflito insolúvel: a crença de que ele faz parte dos planos de Deus. Os líderes das organizações que atuam no lado palestino da questão não consideram uma coexistência com Israel. O posicionamento não é apenas político. Tampouco resultado de cicatrizes incuráveis de décadas de agressões mútuas. Na visão deles, a destruição do Estado de Israel é necessária para a redenção da humanidade, ou seja, o juízo final. E como parte desse projeto, a destruição dos próprios judeus. Os clérigos que fazem a cabeça dos barbudos que comandam as massas palestinas veem isso como parte de uma profecia escatológica que descreve o fim dos tempos.

Nos textos históricos islâmicos há uma lenda que trata do fim do mundo. Segundo ela, um imam chamado Mahdi – que há mais de 1.000 anos perambula pela terra – expulsará os invasores da Palestina. Este ato que viria precedido de um caos generalizado é um dos passos preliminares e necessários para o fim do mundo.

Dentro de uma perspectiva religiosa, muito intensa nos aiatolás do Irã e entre os seus xerimbabos do Hezbollah, o fim de Israel é algo sem o qual o dia de pegar as malas e partir para o Paraíso jamais acontecerá. Portanto, para aqueles muçulmanos que exercem uma leitura estrita dos preceitos e tradições islâmicas, a destruição de Israel é uma espécie de antessala do reino dos céus. E por mais bizarro que possa parecer, embora religião e política caminhem juntas por aquelas terras áridas, a primeira predomina sobre muitos dos elementos que estão em jogo.

Vale ressaltar que, assim como nem todo católico vai à missa ou observa os dias santos e sacramentos, não são todos os muçulmanos que fazem a leitura estrita da religião. Portanto, é errado pensar que todo muçulmano compartilha do mesmo radicalismo do falecido Soleimani ou do furioso Hassan Nasrallah, o chefão dos terroristas do Hezbollah.

A Sharia (lei islâmica) governa essas organizações. O poder da religião se sobrepõe ao político. Isso é mais claro no Irã que em qualquer lugar naquela parte do mundo. Embora não seja possível visualizar essa influência com a mesma clareza na Palestina, quem coloca dinheiro na "resistência" palestina pensa assim.

Não faz muito tempo, o então presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, não escondia sua visão sobre Israel. "Um tumor cancerígeno" que precisava ser extirpado. Amigão de Hugo Chávez, do ex-presidente Lula e do bloco bolivariano que se instalou no poder na América Latina, Ahmadinejad foi o primeiro a expor, sem filtros, a essência da política externa dos aiatolás para região. Ela não tem outro norte que senão os preceitos religiosos.

Há uma lista sem fim de analistas que se queixam da unilateralidade dos Estados Unidos em propor uma solução para região que não contemple o ponto de vista dos palestinos. Mas, realmente, há algo a ser feito quando deus faz parte ou é o problema?

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