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A África do Sul denunciou Israel junto à Corte Internacional de Justiça (CIJ). Os sul-africanos acusam os israelenses de genocídio. Segundo eles, as ações militares iniciadas desde o ataque brutal do Hamas em 7 de outubro de 2023 evoluíram para um esforço deliberado de varrer os palestinos do mapa.
Os números apresentados pelo Hamas são de arrepiar. Falam de mais de 23 mil mortes e quase 2 milhões de pessoas afetadas, sejam eles obrigadas a se deslocar internamente, a se refugiar no exterior, ou vivendo em escombros. É com esse argumento que se pede o fim das hostilidades e a punição de Israel.
A querela é carregada de simbolismo e parece ter sido milimetricamente desenhada para a ocasião. A palavra “genocídio” não existia até 1944. Ela foi criada justamente para definir o plano de Adolf Hitler de aniquilar os judeus. De origem grega, o termo cunhado pelo advogado polonês Raphael Lemkin (1900-1959) definiu com precisão o esforço nazista de eliminação de um povo, sua cultura e seu DNA. Em escalas diferentes vimos isso se repetir em conflitos étnicos na África e nos Bálcãs.
Os autores da demanda são negros que representam um país que até muito pouco tempo atrás viveu sob a infâmia do apartheid. Nada como o lugar de fala. Por isso, a escolha da África do Sul para enfrentar Israel não é algo banal. Membro dos Brics – grupo que, não custa lembrar, tem o Brasil, a Rússia e a China como membros fundadores e que recentemente abriu as portas para novos membros como o Irã –, a África do Sul está emprestando sua legitimidade para uma ação ilegítima.
Genocídio é o que o caçula dos Brics, o Irã, defende e luta para que aconteça. A destruição completa do Estado de Israel e de todo e qualquer judeu
A definição de genocídio é clara. Muito clara. Não é por acaso que ela surge exatamente depois do Holocausto. Mas chamar os judeus de genocidas tem um impacto tremendo. E poucos poderiam fazer isso. A África do Sul preenche bem os requisitos. Por trás dela vêm países como o Brasil de Lula, que “apenas” ratificam a posição.
Genocídio, por definição, são atos cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Ele se dá por meio do assassinato massivo, imposição de medidas que impeçam a reprodução física dos membros do grupo ou a aculturação que inclui a transferência de crianças de um grupo para outro (algo que a Rússia, que também é dos Brics, está fazendo com os ucranianos).
A “reeducação” que a China (também membro dos Brics) impõe à minoria islâmica dos uigures, que, trancafiados em campos de trabalhos forçados, são obrigados, entre outras coisas, a repensar o seu modo de vida e religião, se enquadraria na definição.
Genocídio é o que o caçula dos Brics, o Irã, defende e luta para que aconteça. A destruição completa do Estado de Israel e de todo e qualquer judeu. É uma loucura política que se aproveita de ingredientes místicos associados ao julgamento final.
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O Hamas, que é um grupo terrorista que promoveu uma série de atrocidades contra os judeus, também é genocida. Genocida mesmo. Exatamente como o conceito diz. Mas alguém diz isso? Não. Há uma tolerância absurda ao antissemitismo, em nome do coitadismo advindo da causa palestina.
Celso Lafer, que foi ministro das Relações Exteriores do governo Fernando Henrique Cardoso, chegou a escrever uma carta para o embaixador Mauro Vieira, o preposto do chanceler de fato Celso Amorim. Lafer alerta sobre os danos para o Brasil endossar uma chicana internacional. A instrumentalização da CIJ contra Israel.
Entendo que Israel errou feio na sua reação ao Hamas. Seguiu a trilha de migalhas de pão que os terroristas armaram para justamente inverter a lógica. Em poucos dias os islâmicos deixaram de ser os animais ferozes para se transformar nas vítimas. Não importando os seus crimes, os reféns até hoje sob seu poder, os estupros, torturas e a chuva de foguetes que quase todos os dias foram lançados sobre os israelenses. Se não fosse o sistema de defesa aérea de Israel, os estragos e mortes seriam descomunais.
É verdade que, mesmo se Benjamin Netanyahu tivesse agido com mais inteligência e menos fúria, Israel estaria igualmente sob ataque da opinião pública. Não faço a menor ideia de como fazer, mas acho que Netanyahu e seu gabinete deveriam ter buscado um caminho do meio. Ele poderia, por exemplo, ter usado os próprios palestinos contra o Hamas, que, além de não ser uma unanimidade naquele momento, era um elemento de violência de que muitos palestinos queriam se livrar.
O Hamas, que é um grupo terrorista que promoveu uma série de atrocidades contra os judeus, é genocida mesmo. Exatamente como o conceito diz. Mas alguém diz isso? Não
Mas não. Preferiu atacar mesmo sabendo que os covardes do Hamas se escondem atrás de civis. Eles se nutrem da morte de civis. O sangue palestino é a melhor e mais poderosa arma da organização terrorista. Ele irriga a sua máquina financeira e de propaganda.
Se há algo a ser debatido sobre as ações de Israel em Gaza – e há –, a discussão pode se dar no que se refere às leis da guerra. Nada além disso. A África do Sul está se prestando a um papel de constranger Israel.
Será que alguém algum dia questionará os genocidas do Hamas na CIJ? Não. Nunca. Sabe por quê? Não é possível. A corte julga Estados. O Hamas não é um. Sem exagero, dá para dizer que os terroristas têm mandato, imunidade e apoio para pregar e trabalhar pelo genocídio.
A guerra de Israel é bem mais ampla, profunda e complexa que o conflito bélico em Gaza. Netanyahu sabe muito bem disso. Mas, assustadoramente, ele está lutando mal, muito mal, uma guerra na qual quem vencerá não é necessariamente quem tem as melhores armas.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos