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José Dirceu citou Polônia e Hungria ao falar da possibilidade de reeleição de Bolsonaro, mas não considera que ditaduras de esquerda sejam regimes autoritários
José Dirceu citou Polônia e Hungria ao falar da possibilidade de reeleição de Bolsonaro, mas não considera que ditaduras de esquerda sejam regimes autoritários| Foto: EFE/Joédson Alves

Em sua aparição mais recente nas redes sociais, o petista José Dirceu usou países com clara erosão democrática para se referir ao risco de Jair Bolsonaro ser reeleito e com os “superpoderes” de uma maioria no Congresso. Para Dirceu, que já foi presidente do PT, ministro de Estado e foi condenado como chefe da quadrilha do Mensalão, Bolsonaro pode repetir o que foi feito na Polônia e Hungria, onde os governantes tomam medidas cada vez mais autocráticas. A lista de Dirceu é curtinha, só inclui os dois países do Leste Europeu, por se tratar de “ditaduras de direita”.

A decisão não pode ser enquadrada como esquecimento ou oportunismo. O líder petista não considera como autocráticos regimes ditatoriais que perseguem, prendem e matam em nome da revolução socialista ou do comunismo. Cuba? China? Venezuela? Nicarágua? Coreia do Norte? Não há necessidade alguma de estender mais a lista de países que contam com a solidariedade petista, pois, afinal, “são resistência”, como muitas vezes são tratados militantes e documentos oficiais dos partidos provenientes do mesmo meio de cultura onde se reproduzem legendas e ideias como as do PT.

Dirceu cita um terceiro país, mas com ressalvas. Para ele, o presidente turco Recep Erdogan não pode ser colocado no mesmo balaio do húngaro Viktor Orbán ou do polonês Mateusz Morawiecki. Para Dirceu, Erdogan “fez o que tinha que fazer” depois de um golpe militar. Expurgou quem tinha que expurgar.

Como se vê no vídeo, a palavra expurgo causou excitação. “Essa palavra expurgo, eu gosto. Eu gosto”, disse o apresentador. “Eu sei, por isso já atenuei”, emendou Dirceu.

Não se pode inferir se a celebração do expurgo se refere ao passado distante, quanto Stálin (que é a referência ideológica da turma) liderou um processo de perseguição política, ideológica e cultural que resultou na morte de pelo menos 750 mil pessoas. Muitas delas companheiros revolucionários que concordavam com os rumos impostos pelo ditador, artistas, militares (entre os quais alguns generais, almirantes e mais de uma centena de comandantes).

Tampouco pode-se afirmar que se referiam aos expurgos como os comandados por Fidel Castro, que mandou para o paredão o seu maior general e alguns de seus amigos revolucionários, para limpar a imagem de que o regime fazia uso do tráfico de cocaína como fonte de receita e estratégia militar. O narcotraficante Fidel matou seus comparsas para proteger a própria biografia.

Também não dá para saber se estão celebrando os expurgos recentes que o amigão Daniel Ortega tem promovido em seu país. Além de perseguir padres, bispos, jornalistas e opositores, o ditador não poupa sequer ex-companheiros revolucionários que se atreveram a questionar seus atos de violência e perseguição política.

Fica mais sombrio ainda pensar que eles podem estar falando deles mesmos. De como eles lidaram, lidam ou lidarão com companheiros incômodos.

Por fim, não se pode excluir uma visão de futuro. Um projeto, ao que parece, irá passar bem longe das fileiras petistas. A referência ao processo turco dá as pistas. Dirceu e sua turma acham que, num eventual terceiro mandato de Lula, o expurgo é o caminho para se sedimentar no poder. Alguns poderão entender como vingança. Outros, como revanche. Mas, ao final, será um expurgo. Apenas um expurgo.

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