Foram os institutos de pesquisa? Sim. Os especialistas/analistas que se fiaram cegamente nesses mesmos institutos? Também. Mas ninguém saiu mais destroçado desse primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil que os assessores dos governos europeus e dos Estados Unidos. Todos, sem risco de ser injusto, orientaram seus passos com os olhos em um cenário eleitoral, ao que hoje se revela, desenhado muito mais pelo que se desejava do que pelo que se via.
A configuração do segundo turno entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio da Silva mostra que a política externa do Ocidente precisa ajustar a mira urgentemente. A aposta de que Lula já estava eleito revela que, em geral, a leitura que a diplomacia e os assessores presidenciais fazem do Brasil é construída sobre pilares de papel. Informações que leem e veem na imprensa, que por sua vez se fiou na “ciência” dos institutos de pesquisa. Institutos que só seguem fazendo o que fazem porque são superestimados pela imprensa. Um sistema de retroalimentação que quando erra (e como erra) faz com que os destinos se reproduzam em um nível inacreditavelmente elevado.
Os europeus mantiveram distância sanitária do Brasil em punição ao presidente Bolsonaro. Seria algo passageiro e depois tudo voltaria ao normal. A administração Biden atingiu níveis superlativos de negligência. Escanteou a relação com o Brasil ao ponto de colocar em risco os próprios interesses dos Estados Unidos na região. Uma aposta com tons de birra colegial que, além de improdutiva, pode deixar sequelas irreparáveis.
Ao fechar as portas para o Brasil, permitiram que outras tantas fossem abertas. E no caso de um conjunto de países sem nenhum apreço pela liberdade, democracias e uma infinidade de outros valores civilizatórios. China, Rússia e Irã, por exemplo, estão nadando de braçadas.
Enquanto as democracias ocidentais apostavam contra Bolsonaro, países sem nenhuma simpatia com os Estados Unidos e Europa fortaleceram sua diplomacia, ampliaram os negócios e “sequestraram” algumas lideranças políticas e empresariais com base em um vínculo de interesses e dinheiro bem difíceis de romper.
Em caso de vitória de Jair Bolsonaro, os assessores dos governos dos Estados Unidos e dos países europeus terão que parar de se comportar se tivessem recém-saído de um grêmio estudantil daqueles comandados pelo PCdoB e entender que a relação com o Brasil vai além da simpatia com o presidente de turno.
A vitória de Lula, por sua vez, esconde uma contradição. Embora Joe Biden, Emmanuel Macron e seus colegas da União Europeia nitidamente preferirem Lula, o petista não os tem no topo de suas prioridades da relação bilateral.
Aquele mesmo trio de países antiocidentais, que ganhou terreno com o desterro imposto ao Brasil, será quem mais avançará na região com o petismo. Dessa vez sem nenhum tipo de artifício para ocultar o avanço deles de e seus interesses sobre o Brasil.
Seja com Lula ou com Bolsonaro – se os Estados Unidos e Europa não mudarem a política de afastamento do Brasil, em um cenário de segundo mandato do atual presidente – a relação do Brasil com eles será mais ou menos como naquele de sofrência da falecida Marília Mendonça, que diz: “Quem eu quero, não me quer. Quem me quer, não vou querer. Ninguém vai sofrer sozinho. Todo mundo (nos caso a relação com os EUA e Europa) vai sofrer”. Menos é claro a China e a Rússia.
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