Em 2006, quando o então presidente da Bolívia nacionalizou a extração de petróleo e a produção de seus derivados, ele avançou sobre refinarias estrangeiras, entre as quais, duas da Petrobras. Na linha o petróleo e o gás “son nuestros”, ele prometeu aos bolivianos reverter para eles 100% da riqueza gerada pelo negócio, antecipando até o seu ventríloquo Hugo Chávez, que no ano seguinte faria o mesmo.
A Bolívia está assentada sobre reservas gigantescas de gás natural. Quando Morales assumiu a presidência, no mesmo ano em que ele nacionalizou a produção, encontrou tudo prontinho e acreditou que era só mudar as regras para bamburrar. O país tinha um contrato vantajoso com o vizinho Brasil, que garantia receitas monumentais por anos a fio.
Morales, que tem origem no sindicalismo cocaleiro, entregou o negócio para sindicalistas e membros do seu partido. O resultado não poderia ser diferente. Sem investir na prospecção de novas reservas, apenas cinco anos depois da nacionalização, os estoques provados de gás entraram em declínio.
O sucateamento da indústria de gás da Bolívia é tão acentuado que, em sete anos, estima-se que o país não será capaz de produzir o suficiente para atender sequer a sua demanda interna. Em 2030, os bolivianos, portanto, deixarão de ser exportadores para passar à condição de importadores de gás.
As projeções não indicam que a Bolívia se beneficiará de um boom econômico-industrial. A demanda será quase a mesma. O que está acontecendo por lá é a morte rápida de uma indústria próspera que foi entregue para os compañeros de Morales.
A Bolívia traçou um caminho idêntico ao da Venezuela. Hugo Chávez assumiu a presidência em 1999 com a produção de petróleo nas alturas e o preço da commodity no chão. Viu os preços subirem como nunca, resultando em uma dinheirama sem precedentes que serviu para ele financiar governos de esquerda, organizações criminosas e o terrorismo internacional. O boom petroleiro está intrinsecamente ligado ao sucesso do empreendimento bolivariano. Mas também adiou a descoberta de um problema que está na origem da tragédia política, econômica e social que implodiu a Venezuela.
Sob Chávez, entre 1999 e 2012, e com Maduro nos últimos dez anos, a produção petroleira da Venezuela caiu ano a ano, tendo chegado a níveis inferiores aos medidos na primeira metade do século passado. Sem investimentos, pilhada por corrupção e à deriva sob o comando de inaptos, a indústria petroleira da Venezuela encolheu ao ponto de o país que tem as maiores reservas de petróleo do planeta precisar importar combustível, pois é incapaz de produzir o suficiente para o consumo de sua população.
O colapso da produção de gás na Bolívia não será capaz, sozinho, de empurrar o país para o mesmo padrão de crise que se abateu sobre a Venezuela. Mas é seguro afirmar que a Bolívia de hoje é muito mais frágil que a Venezuela antes de colapsar. Um novo vizinho em debacle pode gerar instabilidade, migração descontrolada e avanço do crime, considerando-se que, depois do gás, o tráfico de cocaína muito certamente é a principal atividade econômica da Bolívia.
Sem ser capaz de produzir gás para atender seu mercado interno, a Bolívia, obviamente, não poderá mais atender o seu principal cliente, o Brasil. Isso significa que, enquanto políticos brasileiros passam a mão na cabeça dos seus colegas bolivianos, o mercado brasileiro se avizinha de uma crise no fornecimento de energia. Todos no Brasil, direta ou indiretamente, pagarão pelos erros dos bolivarianos de La Paz.
No Brasil, a Petrobras está constantemente sob assédio estatal. Focando apenas nos exemplos mais recentes, a companhia foi alvo da pilhagem revelada pela Operação Lava Jato. Esteve sob intervenção do governo Bolsonaro, que mexeu na política de preços, e agora está sob a mira do petismo, que quer que a receita da companhia cubra os custos do populismo eleitoral que ajudou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltar ao poder – e não deixa de ser parte importante da estratégia para que ele permaneça.
Tratar a Petrobras como uma fábrica de dinheiro (seja para corrupção, política – ainda que legítima – ou para malabarismo político-eleitoral) é um erro já testado, como se vê nos casos da Bolívia e da Venezuela.
É sempre bom destacar que Brasil é Brasil, Bolívia é Bolívia, Venezuela é Venezuela. Mas nunca é demais lembrar que o Brasil não está muito longe. Nem na geografia, nem na mania de repetir erros.
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