A mistura de 1,5 litro de amoníaco, 150 ml de ácido sulfúrico, 6 quilos de cimento, 1 quilo de carbonato de sódio (barrilha), 300 litros de gasolina e 140 quilos de folha de coca trituradas tem como resultado 1 quilo de pasta base de cocaína. Mas antes de seguir adiante, leia novamente a lista de ingredientes. Pois bem. Não pretendo ensinar ninguém a produzir a droga, a partir desta descrição que está em um documento da Polícia Federal. A receita serve para fazer uma pergunta. Parece razoável a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no Brasil; ou o Food and Drug Administration, nos Estados Unidos, liberarem para o consumo humano um pó branco obtido dessa maneira?
O lobby pela liberação das drogas ignora (ou esconde) que o produto que eles sonham ver nas prateleiras dos supermercados é feito assim. Ah! É claro que em um cenário de legalização, a cocaína seria limpinha. Não mais produzida em “padarias”, como dizem os traficantes, mas processada segundo os mais rígidos controles industriais. Ok. Mas qual seria o custo final? Competiria com a droga proveniente das florestas da Bolívia, Peru e Colômbia?
Aqui um exemplo de algo bem menos complexo para mostrar que a droga legal não é capaz de fazer frente ao tráfico. Em 2011, o Estado do Colorado, nos Estados Unidos, liberou a produção e consumo de maconha. O sucesso parecia tão esplêndido que inspirou outros membros da federação a copiar o modelo. No Brasil – onde o barato é defender a descriminalização da maconha (e outras drogas) como solução para violência e superpopulação carcerária – a experiência americana sempre surge como muleta. “Até nos Estados Unidos…”.
Em entrevista à rede de rádios americana NPR, o promotor do Colorado, George Brauchler, fez uma descrição aterradora da legalização da maconha no seu Estado. O volume de droga ilegal não diminuiu. A quantidade apreendida dentro das divisas do Colorado não só aumentou, como também a droga plantada ali passou a ser traficada para outras partes dos Estados Unidos. A razão é simples: o custo final do produto ilegal é bem menor que o regulamentado. A enxurrada de cigarros contrabandeados que entra pela fronteira do Brasil com o Paraguai serve para exemplificar.
Os traficantes que antes tinham o trabalho duro de trazer a marijuana do México para o lado americano da fronteira agora têm uma base de produção dentro dos Estados Unidos. Nada mais cômodo. Os defensores da legalização da maconha transformaram o Colorado, a Califórnia e o Oregon em versões musculosas da pernambucana Cabrobó – cidade brasileira reconhecida como epicentro da produção nacional de maconha.
O mexicano Andrés Manuel Lopez-Obrador, AMLO como é conhecido, conquistou a presidência do México no ano passado tendo como uma das plataformas o fim da “guerra das drogas”, que segundo ele estava na origem da violência que faz de seu país um dos mais letais do globo.
AMLO assumiu o país em dezembro de 2018, ano mais violento da história do México, com saldo de 33.341 homicídios. No mês seguinte, como em um passe de mágica, anunciou. “Não há mais guerra no México. Estamos em paz”. De janeiro a setembro deste ano, já foram contados 26.000 cadáveres na “paz de AMLO”. É verdade que há uma tendência de redução em relação ao ano passado, mas nem de longe uma situação confortável para se chamar de pacífica.
No mês passado, as ruas de Culiacán, no estado de Sinaloa, foram palco de uma batalha que chocou até os mexicanos já calejados com a violência generalizada promovida pelos cartéis. Dezenas de criminosos fortemente armados enfrentaram as forças de segurança para resgatar o Ovidio Guzmán López, filho do líder do Cartel de Sinaloa, El Chapo. Apesar das negativas do presidente mexicano, as cenas não remetem a outra coisa que não seja guerra.
Aliás, sob a justificativa de preservar vidas, AMLO ordenou libertar Ovidio Guzmán. O chefe do Estado mexicano se rendeu ao chefe do estado paralelo que floresceu no México.
Nesta semana, o assassinato de três mulheres e seis crianças, entre as quais dois bebês de 8 meses de idade, que foram queimados provavelmente vivos, voltou a jogar luz sobre a triste realidade do México. Traficantes picotaram a tiros os carros, nos quais viajavam as vítimas, e depois os incineraram. Houve quem conseguiu sobreviver ao ataque correndo pelo mato. Foram perseguidos e feridos.
As vítimas eram da mesma família – pertencentes a um núcleo de mórmons que se instalou no México nos anos vinte do século passado. Os assessores de AMLO tentaram explicar a brutalidade dizendo acreditar que as vítimas foram confundidas com traficantes rivais. Ou seja: não existe guerra no México, mas grupos de traficantes tomam de assalto cidades inteiras. São capazes de subjugar as forças do Estado. Fazem o próprio presidente se render frente ao crime. Atacam SUV com mulheres e crianças supostamente por pensar serem bandidos rivais. Mas no México não há uma guerra.
O presidente Donald Trump ofereceu ajuda militar para responder à barbárie dos cartéis. Mas AMLO agradeceu e disse: “um outro governo não pode intervir em nosso território”. Para o presidente mexicano, “o pior que pode acontecer depois disso é uma guerra”. Ele segue achando que já não existe uma. AMLO tem se mostrado propenso a liberar a produção e comércio de drogas como forma de enfraquecer o tráfico. A desculpa de sempre. Vai começar pela maconha e ver o que dá.
No Brasil, o debate sobre a legalização de drogas sofre do mesmo vício (com o perdão do trocadilho). Legalizar para vencer os traficantes. Não existe lugar no mundo onde isso se comprovou. Uruguai? Holanda? No país sul-americano, a violência explodiu em níveis inéditos. No paraíso do maconheiros, a Holanda, o consumo legal veio acompanhado de tráfico humano, surgimento de cartéis locais a corrosão da segurança pública.
No Brasil, o PSOL carrega a bandeira da descriminalização do porte de drogas. Líderes da legenda entraram na Justiça para impedir comerciais sobre o pacote anticrime do Ministério da Justiça. Outros membros recorreram ao Judiciário para garantir o direito à propaganda de maconha nas redes sociais. O partido não esconde o que chama de preocupação com os direitos humanos dos dependentes químicos. Defendendo políticas de redução de danos que consideram que os viciados teriam uma certa capacidade de eles mesmo buscarem ajuda quando necessário.
Somente em um hospital de São Paulo, em 2018, eram realizados em média de 30 partos mensais em mulheres usuárias de crack. Essas crianças, que eram expostas à droga ainda no ventre materno, nascem dependentes químicas. Sofrem os mesmo efeitos de abstinência dos usuários adultos, com o agravante de que são apenas recém-nascidos. Nunca escolheram nada na vida.
Suas mães, na maioria das vezes são portadoras de doenças sexualmente transmissíveis como AIDS e sífilis. Sob efeitos de drogas e muitas vezes para conseguir mais drogas, elas são incapazes de pensar na necessidade de proteção nas relações sexuais. Mas na corrente daqueles que creem que os viciados têm que ter o direito garantido de serem viciados, essas pessoas têm todas a capacidade de decidir quando buscar ajuda.
Há guerras em curso no México de AMLO e Brasil do PSOL. Mas não são guerras contra o tráfico, como ambos insistem a acreditar. As tragédias mexicana e brasileira têm um fio condutor em comum. Os bebezinhos viciados do Brasil ou os carbonizados do México são vítimas do autoengano e da ideologia.
A guerra em curso é a dos traficantes. Para quem vai mandar mais. Precisamos realmente lutar contra eles, mas não vai ser liberando o consumo. Assumir que também é uma guerra de todos nós.
Perda de contato com a classe trabalhadora arruína democratas e acende alerta para petistas
Bolsonaro testa Moraes e cobra passaporte para posse de Trump; acompanhe o Sem Rodeios
BC dá “puxão de orelha” no governo Lula e cobra compromisso com ajuste fiscal
Comparada ao grande porrete americano, caneta de Moraes é um graveto seco