Os jornais americanos circularam nesta quinta-feira (19) com a mesma manchete. A aprovação, na Câmara dos Representantes, da admissibilidade do impeachment do presidente Donald Trump. Talvez esta tenha sido a notícia mais esperada pelos jornalistas americanos (e muitos brasileiros) desde o anúncio da vitória de Trump em novembro de 2016. Para eles, Trump assumiu fadado a cair.
Ainda na transição, em dezembro de 2016, brotaram, simultaneamente nas páginas do The New York Times e The Washington Post, as primeiras evidências de que a Rússia havia interferido nas eleições americanas em favor, é claro, do então candidato republicano. Desde então, milhões de dólares dos contribuintes americanos foram torrados em investigações que chegaram à conclusão de não existiam provas que permitissem atestar o conluio entre Trump e os russos.
Na segunda semana de janeiro de 2017, dias antes de sua posse, Trump foi alvejado por um dossiê apócrifo de 35 páginas que entre vários malfeitos descrevia o que seriam suas perversões sexuais. O documento, que rodou por várias redações antes de ser divulgado pelo site BuzzFeed, enredava ainda mais o presidente-eleito com a conspiração russa, não durou muito. Descobriu-se ter sido montado por um pessoal muito bem remunerado que prestava serviços de consultoria para campanha de Hillary Clinton e o partido Democrata, conforme confessou um dos autores do dossiê fajuto.
Trump assumiu a presidência sob a ameaça permanente de impeachment. Havia até quem apostasse que o seu vice, Mike Pence, o substituiria ainda no primeiro ano de governo. Um dos sintomas foi a fila de representes estrangeiros que procuravam o vice fazendo circular em Washington que "todo mundo" já havia entendido que era uma questão de (muito pouco) tempo para o afável ex-governador de Indiana tomar as rédeas do país. Algo que Pence nunca demonstrou esforço para que acontecesse. Aliás, ele jamais se deixou encantar por essa teoria.
Foi assim que rodaram as engrenagens da oposição e da imprensa nesses quase três anos de administração. Na cabeça deles, Trump esteve e sempre estará a um passo do impeachment. Mas a vontade conversa com a realidade?
Para fins didáticos, a manobra que resultou na admissibilidade do impeachment de Trump pode ser comparada aos sem número de pedidos de impeachment que o PT apresentou nos tempos de FHC e ao esforço extraordinário que a legenda do ex-presidente Lula, PSOL e seus amigos fazem desde a eleição passada para abreviar o governo de Jair Bolsonaro. Não há racionalidade alguma. É demarcação de posição entre os políticos profissionais e pura reação emocional e afetiva da massa. Quem não gosta do Bolsonaro não vai passar a gostar. Assim como quem odeia o Lula é quase impossível de voltar a votar ou seguir a seita petista. É do jogo. E nos Estados Unidos também é assim.
Trump é odiado pelos democratas simplesmente por ele ser o Trump. Algo é certo: por mais que o presidente seja bom de briga nas redes sociais e confronte algumas das bandeiras caras da esquerda americana, ele seria achincalhado da mesma forma ainda que ficasse caladinho dentro do salão oval fazendo a América grande novamente. Ao mesmo tempo, Trump é amado justamente por ele ser o que é. A ideia que tanto assombra a esquerda, mas que alenta quem apostou nele para comandar o país. Esse segundo grupo foi ridicularizado nas eleições e até agora. Um erro que cegou e cega muita gente que tenta "interpretar" a América e tem sido replicado em terras brasileiras.
A mensagem dos rivais dos democratas predomina e faz parecer que o presidente americano vive com a corda no pescoço. Mas no mundo real, a coisa é bem diferente. A aprovação dele nunca esteve abaixo de 40%. Aliás, a movimentação na Câmara dos Representantes irritou muitos americanos, mesmo aqueles que jamais vestiram o bonezinho vermelho da campanha republicana.
Nem todo mundo que é crítico ao presidente Trump se comporta da mesma forma que esquerdista brasileiro que acredita em tudo que o partido vende como verdade. Há uma forte rejeição ao esforço constante de derrubar o presidente no tapetão. Com processos longos e custosos que, com o mínimo de serenidade é possível ver que, são fadados ao fracasso.
O resultado disso é que as pesquisas indicam que o apoio ao presidente tem subido significativamente entre os cidadãos. Mais do que querer ver o Trump pelas costas, muitos contribuintes americanos querem ver seus impostos corretamente empregados. Até agora, os democratas só se mostraram bons de barulho e de desperdício de tempo e dinheiro. Talvez isso explique o fato de que 51% dos americanos entrevistados rejeitem a ideia do impeachment.
Quando o presidente Jair Bolsonaro fez a sua primeira visita oficial aos Estados Unidos, em março desde ano, a imprensa americana passou a chamá-lo de Trump dos trópicos. Uma comparação nada elogiosa, se tratando da forma que o presidente americano é tratado pela esmagadora maioria do noticiário. Talvez valesse a comparação de que Trump tem o seu PSOL temperado. Quase fio, mas tão estridente quanto o brasileiro.
Engolfados em uma eleição que está batendo à porta, os pessolistas americanos, mesmo sabendo que muito dificilmente o impeachment será aprovado no Senado, jogaram todas a fichas em um processo que eles calculavam poder desgastar a imagem do presidente. Para a plateia foi um sucesso. Mas com a economia bombando e o presidente de bem com seu eleitorado, é possível que tudo não passe das manchetes que quinta-feira.
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