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Quando rasgou o texto do discurso que o presidente Donald Trump acabara de proferir diante das mais altas autoridades do país, a democrata Nancy Pelosi acusou o golpe que ela e seus colegas de partido amargariam no dia seguinte. O processo de impeachment que ela conduziu, como presidente da Câmara, seria rejeitado e arquivado pelo Senado. Exatamente como estava previsto desde o momento zero do processo, no dia seguinte ao Trump foi inocentado e saiu maior do que entrou no processo.
Há quem diga que Pelosi reagiu à grosseria de Trump que a deixou com a mão no ar ao recusar-se a apertá-la quando chegou para o seu discurso presidencial. Alguns mais criativos veem como uma reação afirmativa de uma mulher vítima do machismo. Mas o fato que parece ter ficado patente, na rigidez do rosto da congressista e em seu ato eternizado pelas câmeras, é que ela, assim como o partido Democrata, jamais aceitou o fato de que Trump é também o presidente deles. O presidente de todos eles.
Qualquer semelhança com o Brasil – onde, em 35 anos de redemocratização a esquerda só considerou legítimas as eleições dos ex-presidentes Lula e Dilma – não é mera coincidência. Do primeiro ao último dia dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, o mantra petista era o de "Fora FHC". Depois veio o "Fora Temer" e atualmente a mais variada lista de palavras de ordem que, já na campanha de 2018, deu largada com o infantil "Ele não".
Goste ou não, Democracia é isso. É saber se submeter a um governo eleito por uma maioria na qual não necessariamente o indivíduo faz parte. O PT, PCdoB e depois o PSOL têm profundas dificuldades com isso. E os Democratas estão replicando isso nos Estados Unidos. O conceito de "submissão", entretanto, não carrega em si a subjugação e a violência. Este, por sinal, é um dos elementos basilares que separam a Democracia dos regimes totalitários. A oposição é um elemento saudável e fundamental nas democracias. Em alguns aspectos, ela deveria ser tão organicamente conectada à situação, que teria o poder de "superego". Sendo a fonte críticas e o freio necessário.
O tipo de oposição que quer ver tatuada uma suástica na testa dos rivais, ou não os considera "merecedores" da dignidade humana é uma aberração que demostra a incapacidade de os "defensores da democracia" viverem em uma.
Voltando aos Estados Unidos. Trump viveu uma semana de vitórias, muitas delas construídas sobre a cegueira Democrata. No discurso do State of the Union, ele apresentou as bases de sua campanha de reeleição. Falou para a sua base. Deu atenção especial para o eleitorado negro e tocou no coração dos latinos ao ovacionar o venezuelano Juan Guaidó, depois de ter ignorado a presença dele na América, por quase uma semana. Mesmo quando parecia estar falando para fora, como no caso da Venezuela, Trump estava olhando para dentro. Mais especificamente para os votos da Flórida. Tudo indica foi um sucesso.
É pura especulação. Mas a tensão no rosto de Nancy Pelosi ao rasgar o discurso ao final tenha sido a combinação do atordoamento diante do fato de que além de saber que o impeachment seria enterrado no dia seguinte, Trump acabava de exibir a musculatura que poderá lhe garantir mais quatro anos na Casa Branca.
No mesmo dia em que festejava sua absolvição, o republicano viu o fracasso das prévias democratas, que tem revelado, de forma cada vez mais explícita, a precariedade da oposição americana. Então favorito, Joe Biden amargou um quarto lugar em uma lista de postulantes lideradas pelo maluco beleza do Bernie Sanders, uma versão hardcore do Eduardo Suplicy.
Com a economia bombando, Trump fecha a semana com a notícia de 225.000 novos empregos gerados no primeiro mês deste ano e uma boa notícia disfarçada de má. A taxa de desemprego nos Estados Unidos subiu levemente. Mas como então? Significa que gente que antes nem se animava a procurar trabalho resolveu sacudir a poeira e voltou a disputar pelos postos que estão sendo abertos. Enquanto a Nancy Pelosi trinca os dentes e rasga os discursos, Trump avança.
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