O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlüt Çavuşoğlu, em encontro em Brasília com o ministro do Turismo do Brasil, Carlos Brito, na última segunda-feira| Foto: Roberto Castro/MTur
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Na última segunda-feira de abril, enquanto o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlüt Çavuşoğlu, era recebido pelo seu homólogo brasileiro Carlos França, no Itamaraty, o embaixador da Turquia em Montevidéu era convocado para dar explicações sobre a passagem de seu chefe dois dias antes pelo Uruguai. Çavuşoğlu iniciou uma turnê que incluiu o Brasil, Equador, Colômbia, Panamá e Venezuela. Çavuşoğlu deixou um rastro de indignação em sua visita oficial ao Uruguai.

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Ao ser confrontado com manifestantes que faziam um ato de memória e repúdio ao genocídio dos armênios, perpetrado no início do século passado pelo então Império Turco-Otomano, o ministro Çavuşoğlu, com um largo sorriso no rosto, fez um gesto identificado como uma das marcas do grupo ultranacionalista Lobos Cinzentos, que entre as várias barbaridades, justifica o massacre dos armênios.

O presidente Luis Lacalle Pou não gostou. Além de classificar como lamentável o comportamento do turco, mandou um recado para Ancara, que tem se esforçado para firmar um acordo de livre-comércio com os uruguaios. “Avançar as questões comerciais com qualquer país do mundo não significa compartilhar políticas internas ou externas”, disse Lacalle Pou, mostrando que o pequeno Uruguai é um gigante na defesa dos valores democráticos.

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O comportamento abominável de Çavuşoğlu não causou constrangimento algum no Brasil. Além de não ter ofuscado o brilho da visita, não impediu que o turco ganhasse de bônus uma audiência com o presidente Jair Bolsonaro. Um prestígio que nem sempre é dado a outros chanceleres de passagem pelo Brasil.

O comportamento repugnante de Çavuşoğlu nem seria necessário para colocar o affair com a Turquia como parte das anomalias recentes no Itamaraty. Há tempos, a Turquia tomou o caminho das autocracias e opera em favor de outras tantas. A Venezuela de Maduro, por exemplo, tem no regime de Recep Tayyip Erdoğan uma de suas principais bases de operação de lavagem de ativos. Muito do ouro contrabandeado pelo regime passa pela Turquia.

Em um intervalo de dois meses, o Brasil passou a ter uma companhia de gente muito esquisita. Amasiou-se com a Rússia na questão da invasão da Ucrânia, escondendo a relação por meio de abstenções atrás de abstenções em votações contrárias aos interesses de Moscou.

No final de fevereiro, como se não bastasse, o Brasil atuou em favor das ações terroristas do Irã no Iêmen. Se absteve em uma votação no Conselho de Segurança da ONU que impôs um embargo de armas aos houthis do Iêmen. O grupo radical xiita que, apoiado pelo Irã e Hezbollah, iniciou uma guerra civil no Iêmen onde tenta derrubar o governo de orientação sunita.

As sanções vieram depois que se constatou que, com o apoio do Irã, os terroristas houthis realizaram vários ataques de drones e mísseis contra os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita como parte de um esforço de escalar o conflito na região.

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A posição de “neutralidade” do Brasil levou os governos dos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Israel a se manifestarem junto ao governo brasileiro para tentar entender as razões de o Brasil ter subido no muro naquela votação. Bateram na porta do presidente como se ele fosse o responsável pelas derrapagens.

Pouca gente prestou atenção, mas dez dias antes de se omitir em favor dos aiatolás iranianos no Conselho de Segurança, o Brasil enviou a então ministra Tereza Cristina ao Irã para negociar o aumento na remessa de fertilizantes. O mesmo pretexto que jogou o Brasil no colo de Putin.

A “diplomacia dos fertilizantes” do Brasil tem levado o país a transitar em uma linha muito tênue entre a diplomacia e o que é a puradefesa de interesses estrangeiros. Nada é mais evidente nesse sentido que os esforços brasileiros contra as “sanções” que os Estados Unidos impuseram ao Irã e à Rússia. O noticiário brasileiro está cheio de reclamações sobre elas. O próprio ministro França diz estar se esforçando para derrubá-las.

Mas não existe sanção alguma aos fertilizantes russos e iranianos. É inexplicável o chefe da diplomacia seguir dizendo o que diz e levando o presidente a repetir.

É evidente que, embora as sanções não alcancem os fertilizantes, elas criam dificuldades por atingirem bancos e empresas de transporte, atrapalhando as operações. Mas as operações de pagamentos realizados entre o Brasil e o Irã nunca foram um problema incontornável. Os dados da balança comercial estão disponíveis para comprovar o vigor das relações do Brasil com o Irã.

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Depois de décadas de sanções, os iranianos montaram uma imensa infraestrutura que lhes permite driblar as dificuldades. No caso do Brasil, o regime mantém uma rede de empresas registradas em nome de cidadãos iranianos e de brasileiros, mas que são pertencentes ao Estado teocrático, que são responsáveis pelos recebimentos das operações de comércio exterior.

Quando o ministro França telefona para o secretário de Estado dos Estados Unidos e pede para os americanos aliviarem para os iranianos, ele não está trabalhando para facilitar as operações de fertilizantes. Está, ainda que inconscientemente, engrossando o coro dos aiatolás pelo fim das sanções. Um tipo de lobby que leva o selo do governo brasileiro.

O resultado para liberação de operações de crédito ou de empresas de transporte que os iranianos flagrantemente usam para alimentar seu programa nuclear clandestino ou financiar o terror, sob o pretexto de garantir o mercado de fertilizantes, não é razoável e na verdade é bem esquisito. Erros que estão levando o Brasil a se posicionar em um eixo de arrepiar os cabelos.