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Em uma conversa recente com o geólogo Luiz Hercílio Farias, professor aposentado da Universidade Federal do Pará (UFPA), ouvi dele uma forte crítica à realização da Conferência Climática das Nações Unidas, a COP-30, em Belém (PA), em novembro de 2025.
Para ele, não há qualquer sentido em um evento para a discussão de alegados problemas ambientais que passam longe da realidade local e da Amazônia, em geral, ainda mais, considerando-se o visível esvaziamento da agenda ambiental global.
Em suas palavras, para a maioria dos participantes, será uma oportunidade para não mais que fazer turismo, uma espécie de “COP Tur”, e numa cidade sem condições de infraestrutura para receber dezenas de milhares de visitantes de uma vez.
Luiz Hercílio é um raro cientista amazônida que não receia confrontar o catastrofismo prevalecente nas discussões sobre a Amazônia. Anos atrás, desmentiu a farsa da multinacional verde Greenpeace sobre a existência de recifes de coral na foz do rio Amazonas. A qual, lamentavelmente, ainda serve como uma justificativa para a recusa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de conceder à Petrobras uma licença para a perfuração de poços exploratórios no litoral do Amapá.
No início de novembro, em um evento na Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (FAEPA), ele envolveu-se em outra polêmica ao desqualificar a suposta importância vital da Floresta Amazônica para o clima global, que mereceu várias réplicas enfezadas de cientistas engajados nas campanhas catastrofistas.
Quanto às suas observações sobre a infraestrutura da capital paraense, elas são totalmente procedentes.
Para sediar o convescote climático, Belém está recebendo um “banho de loja”, uma série de obras feitas a toque de caixa para receber dezenas de milhares de participantes. No total, o governo federal deverá gastar cerca de R$ 5 bilhões na revitalização de parques e da orla fluvial, na ampliação do terminal hidroviário, num sistema de BRT, no sistema de saneamento e em outras obras emergenciais.
As dificuldades começam pela rede hoteleira, que não terá condições de receber tantos visitantes estrangeiros simultaneamente. Como solução tapa-buraco, há a proposta do aluguel de navios de cruzeiro que ficariam ancorados no rio Guamá, mas, no momento em que este artigo era escrito, o problema ainda não havia sido resolvido.
Talvez, os organizadores da conferência pudessem considerar alojar parte das delegações, principalmente, representantes de ONGs ambientalistas/indigenistas, em malocas indígenas e comunidades ribeirinhas situadas nas proximidades da cidade. Algo que, inclusive, poderia proporcionar-lhes uma experiência direta da realidade vivida pela grande maioria da população local.
A realização de uma COP em Belém é um símbolo irônico das prioridades equivocadas que motivam a grande campanha de “descarbonização” da economia mundial a pretexto de uma ameaça climática inexistente
Os maiores problemas ambientais do planeta não têm nada a ver com o clima ou o desmatamento da Amazônia, a despeito do catastrofismo em moda. Para o Brasil e a maioria dos países do mundo, situam-se nas deficiências da infraestrutura de saneamento e disposição de lixo e na ocupação irregular de áreas de risco.
A maior fonte de poluição hídrica do mundo, além de numerosas doenças e outros problemas que causam grandes impactos de saúde e socioeconômicos, é o lançamento de esgotos sem tratamento nos cursos d’água.
A solução para este problema não exige quaisquer tecnologias novas ou futuristas a fim de uma hipotética “transição sanitária”, mas apenas uma vontade política ausente das agendas partidárias e dos ambientalistas empenhados em perseguir ameaças irreais.
Neste quesito, a capital do Pará é emblemática. Dos seus 1,3 milhão de habitantes, mais de 80% deles não têm acesso a redes de esgoto e só 13% contam com tratamento de esgoto, sendo o restante lançado in natura no rio Guamá.
Os índices podem aumentar um pouco com os investimentos que estão sendo feitos, mas o problema continuará distante de uma solução adequada para a população local.
Sem dúvida alguma, os R$ 5 bilhões investidos numa conferência de duas semanas para discussões vazias sobre uma agenda que se encaminha a um beco sem saída poderiam ser muito melhor empregados no enfrentamento do problema real do saneamento básico.
Com esse dinheiro, seria possível construir pelo menos quatro novas estações de tratamento de esgoto (Belém só tem duas, que atendem a menos de 200 mil pessoas) e ampliar a rede de esgoto para cobrir praticamente toda a cidade em um prazo de poucos anos. Benefícios reais para a população da cidade.
Mas, além do “ecoturismo”, a preocupação geral é: para o aparato ambientalista, dar uma sobrevida à agenda da “emergência climática”; para o governo brasileiro, faturar com a propaganda da “potência verde” e o mecanismo de créditos de carbono. O meio ambiente? Ah, sim, as preocupações são o clima de 2050 e o nível do mar de 2100...