Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Lorenzo Carrasco

Lorenzo Carrasco

Agenda falaciosa

As COPs e o declínio da “descarbonização”

Para a ativista Greta Thunberg, a COP-29 foi " um desastre completo" e uma "sentença de morte". (Foto: Sergey Dolzhenko/Anatoly Maltsev/EFE/EPA)

Ouça este conteúdo

A recém-finda conferência climática COP-29, realizada em Baku, Azerbaijão, foi considerada desastrosa pelos ambientalistas, o que significa que foi positiva para a grande maioria da humanidade. De fato, os seus resultados reforçam a indisfarçável tendência de esvaziamento da insidiosa agenda da descarbonização da economia mundial, já visível nas duas edições anteriores do convescote anual da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (UNFCCC), em Sharm el-Sheikh (2022) e Dubai (2023).

Vejamos a avaliação da notória ex-matadora de aulas sueca Greta Thunberg, hoje ativista profissional de causas múltiplas (uma de suas últimas aparições foi em manifestações contra o governo da Geórgia em Tbilisi). Para ela, foi: “(...) Um desastre completo. As pessoas no poder estão mais uma vez prestes a concordar com uma sentença de morte para as inúmeras pessoas cujas vidas foram e serão arruinadas pela crise climática. O texto está cheio de falsas soluções e promessas vazias.”

O alvo principal das queixas foi a não concretização do mega pacote de financiamento climático, denominação enganosa que abarca mecanismos financeiros envolvendo o comércio de créditos de carbono. Como também, aos pretendidos – e raramente concretizados – desembolsos a fundo perdido aos países em desenvolvimento para implementar a agenda da “transição energética”, baseada no abandono dos combustíveis fósseis, fundamentalmente, em troca das ineficientes fontes eólicas e solares.

Em Baku, os cruzados do “combate às mudanças climáticas” apresentaram aos países desenvolvidos uma conta anual de nada menos que US$ 1,3 trilhão

Depois de quase duas semanas de deliberações, para evitar o fracasso completo da conferência, a declaração final da conferência fixou uma quantia de US$ 300 bilhões até 2035, oriundos “de uma grande variedade de fontes, públicas e privadas, bilaterais e multilaterais, incluindo fontes alternativas”.

Claudio Angelo, diretor do Observatório do Clima, uma das ONGs mais ricas do Brasil, lamentou: “O acordo de financiamento fechado em Baku distorce a UNFCCC e subverte qualquer conceito de justiça. Com a ajuda de uma presidência incompetente, os países desenvolvidos conseguiram mais uma vez abandonar suas obrigações e fazer os países em desenvolvimento literalmente pagarem a conta.”

Com ele fez coro Tracy Carty, do Greenpeace International: “(...) É uma amarga decepção. US$ 300 bilhões (anuais) até 2035 é muito pouco, muito tarde. Os países desenvolvidos chegaram em Baku com os bolsos vazios e vergonhosamente pressionaram os países em desenvolvimento a concordar. Mas essa meta de financiamento não vem com nenhuma garantia de que não será entregue por meio de empréstimos ou financiamento privado, em vez do financiamento público baseado em subsídios os quais os países em desenvolvimento precisam desesperadamente.”

De fato, a maior parte dos recursos desembolsados como financiamento climático até agora, em montantes, são muito inferiores aos propostos no marco do Acordo de Paris de 2015 (COP-21), que se enquadra como empréstimos de instituições privadas ou multilaterais que precisarão ser pagos pelos países recebedores. 

O esvaziamento da agenda da “descarbonização” também se evidencia em uma carta aberta enviada pelo Clube de Roma ao secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell, e ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Nela, a entidade que é uma das idealizadoras da ideologia ambientalista, diz sem rodeios que os COPs não atendem mais aos propósitos pretendidos: “28 COPs nos entregaram o arcabouço político para se atingir essa meta [a redução das emissões de carbono]. Porém, a sua estrutura atual simplesmente não pode entregar as mudanças em velocidade e escala exponencial, que são essenciais para assegurar uma aterrissagem climática segura à humanidade. Isto é o que compele o nosso apelo para uma reformulação fundamental da COP. Precisamos de uma mudança das negociações para a implementação, permitindo que a COP entregue os compromissos acordados e assegure a urgente transição energética e a eliminação da energia fóssil.”

Entre os signatários, alinham-se vários personagens de destaque na promoção do cenário catastrofista do clima, inclusive dois brasileiros: o conhecido climatologista Carlos Nobre, membro dos Guardiões Planetários e do comitê diretor do Conselho Econômico sobre Saúde Planetária da Fundação Rockefeller, e Ilona Szabó de Carvalho, cofundadora e presidente do Instituto Igarapé.

Como afirma a ONG Climainfo, o aparato ambientalista internacional está apostando as fichas na COP-30, em Belém, em novembro de 2025: “A desconfiança entre os países em relação ao próprio sistema multilateral será um desafio a mais para o Brasil na presidência da próxima COP-30, que acontecerá daqui a um ano em Belém (PA). Caberá aos negociadores brasileiros restaurar a confiança entre os diferentes grupos de países e no diálogo multilateral.”

O diretor-executivo do WWF-Brasil, Maurício Voivodic, reforça a percepção: “Como presidente da próxima COP, é fundamental que o Brasil se coloque como protagonista da viabilidade do 1,5oC [de limite de aquecimento], cobrando o aumento da ambição dos demais países em todas as áreas de negociação e dando o exemplo.” 

Apesar das expectativas, a inocultável perda de impulso da agenda “descarbonizadora” sugere que o convescote “verde” de Belém, cuja organização já enfrenta enormes problemas, poderá proporcionar mais um proverbial prego no caixão do alarmismo climático.

Conteúdo editado por: Aline Menezes

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.