Ouça este conteúdo
Um choque de realidade é o que proporciona a terceira edição da pesquisa Cartografias da Violência na Amazônia, recém-divulgada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e o Instituto Mãe Crioula de Belém (PA).
A pesquisa revela que 260 dos 772 municípios da Amazônia Legal têm a presença de facções criminosas como o Comando Vermelho (CV) do Rio de Janeiro e o Primeiro Comando da Capital (PCC) paulista. E o mais alarmante é a rápida expansão das facções, 46% desde o ano passado. O CV domina a metade dos municípios, 130, com o PCC em segundo, com 28, e os demais sendo divididos entre grupos criminosos menores.
O presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima, pinta um quadro verdadeiramente assustador. Em entrevista ao jornal O Globo de 12 de dezembro, ele afirmou que “boa parte do dinheiro que circula na região hoje é do crime... o crime organizado é o principal empregador na região amazônica”.
De acordo com ele, o ponto central é o controle territorial:
“As organizações passaram a explorar todo e qualquer produto que gere retornos muito altos, que tenham como fundamento a questão do controle do território. Para ter essa força, elas precisam ter controle do território, seja na comunidade do Rio de Janeiro, seja na quebrada de São Paulo, seja na selva. No caso da Amazônia, é preciso ter o controle da rota toda da droga. Com esse controle da rota, começam a explorar o uso da terra, a abrir pasto para atividades de loteamentos clandestinos, trazer gado, explorar o ouro. O eixo estruturador é o território.”
A pesquisa revela que a disputa por territórios e pelo uso do solo é o principal indutor da violência na Amazônia Legal, cuja taxa de homicídios é a mais alta do país, com 32,3 mortes para cada 100 mil habitantes, 41,5% superior à média nacional.
A rápida expansão do controle territorial pelo crime organizado na Amazônia contrasta com as restrições cada vez maiores impostas pela draconiana legislação ambiental brasileira a todo tipo de atividades produtivas e de desenvolvimento na região.
O ex-deputado federal e ex-ministro Aldo Rebelo tem ressaltado essa situação esdrúxula, afirmando que o domínio da Amazônia é disputado por três Estados, o oficial, o das ONGs, estreitamente vinculado ao aparato ambientalista-indigenista internacional, e o do crime organizado em ascensão.
Dos três, enfatiza ele, o Estado oficial é o mais débil, e a pesquisa citada corrobora a sua constatação de que o crime organizado já é um dos principais empregadores em uma região carente de atividades econômicas e de infraestrutura moderna.
Ademais, a precária situação fundiária da região facilita o controle territorial pela criminalidade. Veterano de duas passagens pelos governos do PT, o ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Roberto Mangabeira Unger, identificou a regularização fundiária como a primeira ação necessária para proporcionar uma proteção ambiental efetiva na Amazônia, para contrariedade das ONGs ambientalistas/indigenistas e de setores políticos de esquerda, que preferem enfocar na interdição das atividades produtivas.
A Amazônia tem sido enormemente prejudicada no aproveitamento dos seus vastos potenciais de desenvolvimento socioeconômico. Isso através da adoção passiva da campanha ambientalista-indigenista internacional e sua forte influência nas políticas ambientais e de desenvolvimento nacionais, cujo objetivo explícito é “preservar” os biomas da região como uma espécie de santuário vedado a toda sorte de atividades produtivas. Também, inclusive, a implantação de infraestruturas modernas, apesar da precariedade da sua disponibilidade na região mais empobrecida e subdesenvolvida do país.
Tomando de empréstimo a feliz expressão do agrônomo Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental, a agenda do aparato internacional dedicado à instrumentalização política das causas ambientais para a Amazônia é a do “subdesenvolvimento sustentável”.
Por ironia, a rápida expansão do crime organizado na região ocorre à margem do rigor da aplicação da legislação ambiental e indígena às atividades legítimas
Em sua grande maioria, os amazônidas aspiram aos mesmos níveis de vida que os das demais regiões brasileiras, como observou em entrevista ao Globo de 18 de novembro o CEO da rede de departamentos Bemol, Denis Milev:
“Sabe o que foi discutido aqui nas últimas eleições? O mesmo que em São Paulo: saúde, educação, renda, transporte. Meio ambiente não é um tema que os amazônicos acham relevante. Acho que os paulistas até têm consciência da importância da Mata Atlântica, mas ninguém vota por causa da Mata Atlântica. Nem em São Paulo, nem em Nova York ou Londres.”
Todavia, a preocupação maior do governo Lula é o compromisso com um “desmatamento zero” no bioma Amazônia até 2030, parte da agenda ilusória de posicionar o Brasil como uma “potência verde” prestadora de “serviços ambientais” ao mundo, em troca dos questionáveis esquemas de créditos de carbono e afins.
Trocando em miúdos, enquanto o crime organizado aumenta o seu domínio, a Amazônia é mantida subjugada pela agenda anti nacional, anti progresso e misantrópica do ambientalismo-indigenismo.
Ou seja, está tudo dominado.
Conteúdo editado por: Aline Menezes