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De onde virão os minerais para a “transição energética”?
| Foto: Ionel Ceban/Pexels

A agenda da “transição energética”, como apresentada atualmente, tem muito mais a ver com ideologia e a busca de lucros a curto prazo do que com critérios científicos, tecnológicos e econômicos.

Sob qualquer combinação destes últimos, o pretendido objetivo da “descarbonização” da economia mundial, atingir emissões de carbono “zero líquidas” (Net Zero) em meados do século, se mostra simplesmente inatingível. E para demonstrá-lo basta atentar para um fator virtualmente ausente na grande maioria das discussões sobre o tema: a indisponibilidade dos recursos minerais necessários à fabricação em grande escala dos materiais e equipamentos utilizados na construção de aerogeradores, painéis solares e veículos elétricos, para ficar apenas nestes.

A omissão desse detalhe crucial é uma constante nas proposições do vasto aparato de interesses estabelecido em torno da alardeada emergência climática, que já configura uma verdadeira indústria de alcance global, inclusive, em estudos elaborados com a pretensão de proporcionar uma chancela técnica e econômica à meta utópica do “zero líquido”.

Um relatório de 2022 da Agência Internacional de Energia (AIE) – ironicamente, uma das principais propagandistas da “descarbonização” – admite:

“(...) Um esforço concertado para se alcançarem os objetivos do Acordo de Paris (estabilização do clima a um aumento ‘bem inferior a 2°C da temperatura global’, como no Cenário de Desenvolvimento Sustentável [SDS] da AIE), significaria uma quadruplicação da produção mineral para tecnologias de energia limpa até 2040. Uma transição ainda mais rápida, para atingir o nível de emissões líquidas zero em âmbito mundial até 2050, exigiria seis vezes mais insumos minerais em 2040 do que hoje. De que setores vêm esses aumentos? Em cenários motivados pelo clima, a demanda de minerais para utilização em veículos elétricos e no armazenamento em baterias é uma força importante, crescendo pelo menos 30 vezes até 2040. O lítio registra o crescimento mais rápido, com a demanda no SDS crescendo mais de 40 vezes até 2040, seguido pelo grafite, cobalto e níquel (cerca de 20-25 vezes). A expansão das redes elétricas significa que a procura de cobre para as linhas de transmissão mais que duplica no mesmo período [grifos nossos].”

Não é necessário qualquer conhecimento maior de geologia, engenharia de minas ou economia mineral, para se discernir que aumentos da produção mineral nas proporções citadas são absolutamente inatingíveis em três, quatro ou mesmo algumas décadas mais

Além de não existirem jazidas comerciais conhecidas suficientes para atender sequer a uma fração significativa de tais demandas, a entrada em operação de novas jazidas pode levar dez anos ou mais, e ainda haveria o sério problema ambiental da disposição dos rejeitos de tamanha expansão das atividades de mineração, sem falar nos custos colossais de todo esse esforço hipotético.

Um estudo publicado no ano anterior pelo Serviço Geológico da Finlândia, de autoria do cientista-chefe da agência, Simon P. Michaux, apresenta números irrefutáveis sobre a inexequibilidade dos aumentos de oferta de minerais estratégicos na escala necessária para a eletrificação, que estende ao setor energético em geral. E faz uma advertência sombria: 

“Em essência, a substituição do sistema existente alimentado a combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão), utilizando tecnologias renováveis, como painéis solares ou turbinas eólicas, não será possível para toda a população humana global. Simplesmente, não há tempo nem recursos suficientes para se fazer isso, de acordo com a atual meta estabelecida pelas nações mais influentes do mundo. Portanto, o que pode ser necessário é uma redução significativa da procura social de todos os recursos, de todos os tipos. Isto implica em um contrato social muito diferente e um sistema de governo radicalmente diferente do que existe hoje. Inevitavelmente, isso leva à conclusão de que os setores de energias renováveis existentes e os sistemas tecnológicos de VE [veículos elétricos] são apenas degraus para outra coisa, e não a solução final. Recomenda-se que se pense um pouco sobre isso e sobre o que essa outra coisa poderia ser [grifos nossos].”

Em outras palavras, o que Michaux está sugerindo, com a honestidade intelectual de um cientista de primeira linha e a cautela implícita de um alto funcionário do governo de um país da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), é que a imposição da “transição energética” a qualquer custo apenas poderá ser possível com uma virtual marcha à ré nos regimes democráticos e nas perspectivas de bem-estar da grande maioria das sociedades do planeta. Ou seja, a agenda em pauta não é necessariamente a da “proteção do clima”.

Conteúdo editado por:Aline Menezes
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