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Eleição de Trump detona “agenda verde”, começando pela embaixada em Brasília
| Foto: Jeffrey Phelps/EFE/EPA

O triunfo eleitoral de Donald Trump deflagrou ondas de choque em todo o aparato internacional estabelecido em torno da exploração política, econômica e, principalmente, financeira, da suposta emergência climática, estrutura na qual a monetização dos ditos “serviços ambientais”, baseados na preservação dos biomas brasileiros, ocupa lugar de destaque.

Por isso, sem surpresa, assim que a sua vitória foi confirmada, tiveram início as lamentações e os posicionamentos pautados pelo que os compatriotas de Trump chamam de “brave face” ou cara de coragem diante de uma situação adversa.

Este foi o caso da ex-presidente da Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (UNFCCC), Christiana Figueres, para quem o resultado “foi um grande golpe na ação climática global, mas ele não pode e não irá interromper as mudanças em curso para descarbonizar a economia e atingir os objetivos do Acordo de Paris” (Climate Home News, 06/11/2024).

Na Organização das Nações Unidas (ONU), um ativo lobby vinha trabalhando para fazer da costarriquenha Christiana Figueres a sucessora de António Guterres na Secretaria-Geral da entidade em 2025, com o objetivo de reforçar a agenda da “governança climática” global – iniciativa que fica bastante prejudicada com a volta de Trump à Casa Branca.

Ben Jealous, diretor-executivo do Sierra Club, a mais antiga ONG ambientalista dos EUA e do mundo, lamentou: “Este é um dia sombrio. Donald Trump foi um desastre para o progresso climático durante o seu primeiro mandato, e tudo o que disse e fez desde então sugere que causará ainda mais danos desta vez” (Grist, 06/11/2024).

No Brasil, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva não criticou Trump diretamente, mas afirmou que os outros países “precisarão trabalhar dobrado” por conta da omissão dos EUA: “Estamos trabalhando com todo afinco e, obviamente, o mundo vai buscar que nenhum país promova qualquer tipo de retrocesso, qualquer retorno ao passado, daquilo que nós já avançamos em relação aos compromissos e à governança climática global” (CNN Brasil, 06/11/2024).

No jornal O Globo de 9 de novembro, um editorial afirma que “a volta de Donald Trump à Casa Branca representa retrocesso inequívoco no combate às mudanças climáticas”.

Em linhas gerais, os “descarbonizadores” da economia mundial receiam que Trump:

- volte a retirar os EUA do Acordo de Paris, como fez no seu primeiro mandato, medida depois revertida por seu sucessor Joe Biden;

- reabra à exploração de petróleo e gás natural o Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico, um dos principais “pontos de honra” do aparato ambientalista estadunidense, equivalente local da campanha contra a exploração da Margem Equatorial Brasileira;

- promova fortes incentivos à exploração de hidrocarbonetos em geral;

- elimine grande parte dos incentivos da Lei de Redução de Inflação (IRA), um trilionário pacote de incentivos fiscais direcionado a empreendimentos “amigáveis ao clima”, como redes de recarga de veículos elétricos, centrais solares e eólicas e outras;

- dificulte bastante e enfraqueça as negociações climáticas internacionais (lembrando que a conferência climática COP-29, em Baku, Azerbaijão, começa esta semana).

A inclinação “antiverde” de Trump tende a atuar em sinergia com o já inocultável esvaziamento da agenda ESG (ambiental, social e governança) entre os investidores estadunidenses e, em menor escala, europeus

Além do discreto abandono das metas de “neutralidade de carbono” por algumas das grandes empresas petrolíferas, casos da BP, Royal Dutch Shell, ExxonMobil e outras. Sem deixar de mencionar os choques de realidade envolvendo custos, ineficiência, inadequação e até impactos ambientais, que vêm afetando negativamente as iniciativas de transição energética baseadas em fontes eólicas e solares, o chamado hidrogênio verde, armazenamento em baterias e, não menos, a eletrificação veicular.

Porém, por ironia, o primeiro golpe da chegada de Trump se deu na própria embaixada dos EUA em Brasília, onde a embaixadora Elizabeth Bagley anunciou de imediato a intenção de deixar o posto antes da posse do novo presidente, em 20 de janeiro. 

No gesto, há mais do que a tradição de os titulares das embaixadas estadunidenses pedirem demissão formal com um novo governo. De fato, a saída de Bagley tem implicações para o relacionamento EUA-Brasil na área da política ambiental, pois ela tem atuado como uma espécie de garante do apoio de Washington ao governo Lula para a delirante e insidiosa agenda da “potência verde”, com a qual Lula e companhia pretendem assegurar um protagonismo global para o país.

Já na audiência no Senado para a sua confirmação no cargo, em maio de 2022, ela antecipou que, “se confirmada, uma de minhas maiores prioridades será incentivar esforços para aumentar a ambição climática (sic), reduzir dramaticamente o desmatamento, proteger os defensores da floresta e punir crimes ambientais e atos de violência correlatos” (Poder360, 18/05/2022).

Na ocasião, ela acusou o então presidente Jair Bolsonaro de não estar trabalhando para atingir os compromissos de desmatamento anunciados na conferência climática COP-26 (Glasgow), além de criar ruídos com suas desconfianças sobre o sistema eleitoral brasileiro. 

A sua saída, seguramente, acrescentará uma preocupação adicional para um governo com a perspectiva de que a oposição de Trump à agenda “verde” venha a prejudicar o protagonismo esperado para a conferência climática COP-30, marcada para Belém (PA), no próximo ano. 

Além de debilitar a posição de Marina Silva, sob fortes pressões, inclusive dentro do governo, pelo radicalismo de suas posições antidesenvolvimentistas.

Bagley não é diplomata de carreira. É empresária no Arizona, uma das herdeiras da gigante R.J. Reynolds Tobacco Company e uma das principais arrecadadoras de fundos do Partido Democrata, além de amiga íntima das famílias Clinton, Biden e Obama. 

É também uma veterana de mais de três décadas de atuação no Instituto Nacional Democrata para Assuntos Internacionais (NDI), um dos órgãos integrantes da Fundação Nacional para a Democracia (NED), criada em 1983 para funcionar como uma fachada “legal” para um esporte favorito do Establishment estadunidense, antes prerrogativa da CIA: intervenções na política interna de países-alvo da agenda hegemônica de Washington. 

Atualmente, opera em mais de 100 países, com apêndices partidários, sindicais, empresariais e do “terceiro setor”, sempre com a mesma agenda: promover “quinta-colunas” locais que apoiem os interesses de Washington. 

A sua indicação para a embaixada em Brasília, às vésperas dos 70 anos, ocorreu no âmbito de uma sequência de pressões políticas de Washington contra o presidente Jair Bolsonaro, que motivou o apoio ostensivo do governo de Joe Biden à candidatura de Lula (reciprocada com o apoio público deste a Kamala Harris).

Uma evidência das aflições reinantes com a troca de guarda na Casa Branca foi a bizarra entrevista de Lula à correspondente da CNN Internacional, Christiane Amanpour, na qual pediu que Trump pense “como um habitante do planeta Terra”. O seu “apelo”: “Todos nós temos que nos responsabilizar pela manutenção do planeta Terra. Nós precisamos garantir que o planeta não sofra com um aquecimento maior do que 1,6 graus... Eu acredito que o presidente Trump, ele tem que pensar que é um habitante do planeta Terra. E se ele pensa como o comandante do mais importante e rico país do mundo, o mais importante, que tem a maior tecnologia e que está melhor preparado do ponto de vista das armas, ele tem de ter a noção de que os Estados Unidos estão no mesmo planeta que eu estou, e que uma ilha de 300 mil habitantes existe (sic). Todos nós temos que tomar responsabilidade pela manutenção deste planeta” (CNN Brasil, 07/11/2024).

E ainda faltam nove semanas para 20 de janeiro.

Conteúdo editado por:Aline Menezes
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