| Foto: Alfonso Medeiros/Pexels
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Os ventos que sopram no Brasil não andam muito favoráveis ao setor de energia eólica, que este ano já acumula prejuízos da ordem de R$600-700 milhões, podendo chegar a R$1 bilhão até o final de dezembro.

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A advertência foi feita pelo diretor técnico da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Francisco Silva, durante o 2º Fórum Latino-Americano de Economia Verde, em São Paulo, na semana passada. Ele explica: “Temos visto um certo desmantelamento do setor eólico, porque não há demanda por energia nova e porque não temos toda a infraestrutura necessária... A transmissão é um problema enorme, é um gargalo (Exame, 02/10/2024).”

De acordo com ele, o setor aguarda a aprovação pelo Congresso Nacional de um marco regulatório para o desenvolvimento das usinas eólicas offshore (marítimas), que contam com 270 gigawatts (GW) de projetos à espera de serem “desbloqueados”.

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Ora, o problema maior do setor eólico não é propriamente a falta de infraestrutura, mas, como observa o próprio Sr. Silva, o fato de haver uma oferta excessiva de eletricidade das fontes eólicas (e também das solares). Isto contrasta com o fato de que mais de 90% dos projetos energéticos previstos para até o final da década serem de tais fontes intermitentes, que, ademais, acarretam problemas de estabilidade nas linhas de transmissão existentes, exigindo custosos equipamentos de integração a elas. 

Portanto, para evitar problemas de sobrecarga e instabilidade nas redes, como o que causou o apagão de 15 de agosto de 2023, o Operador Nacional do Sistema (ONS) restringe a contribuição das eólicas e solares no Sistema Integrado Nacional (SIN), principalmente, as do Nordeste.

Nesse contexto, não se vislumbra qualquer necessidade de uma ampliação ainda maior da oferta de fontes eólicas com projetos offshore, cujos números citados pelo Sr. Silva já superam por larga margem a atual capacidade de geração instalada no País, de 202 GW.

Aliás, um exame do desempenho do segmento no exterior ajuda a colocar a situação em uma perspectiva mais ampla.

Nos EUA, em 2023, apesar do acréscimo de 6,2 gigawatts (GW) de novos aerogeradores, a eletricidade gerada pelas usinas eólicas caiu pela primeira vez desde meados da década de 1990, 2,1% menos que no ano anterior, segundo a Agência de Informações de Energia (EIA, 30/04/2024). 

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Em novembro último, a dinamarquesa Oersted, a norueguesa Equinor e a britânica BP anunciaram uma depreciação para baixo de US$ 5 bilhões nos seus projetos eólicos offshore em desenvolvimento nos EUA, em parte, pela incapacidade de cobrir os custos de financiamento e construção dos projetos com os contratos de vendas de energia existentes.

Em setembro deste ano, a BP anunciou a venda de todos os seus negócios com energia eólica no país, com a intenção de concentrar-se na exploração de petróleo e gás natural, justificando a decisão pelo retorno abaixo do esperado das chamadas fontes renováveis.

E as más notícias para o setor não cessam. Em julho, uma das pás de uma turbina de 13 MW do projeto eólico offshore Vineyard 1, ao largo da ilha de Nantucket, Massachusetts, se rompeu e caiu no mar, espalhando pedaços e materiais diversos no mar, levando as autoridades a fechar as praias da ilha em pleno verão e preocupando os pescadores da área com a possibilidade de danos às suas embarcações.

O acidente levou as autoridades federais a determinar restrições sobre a construção e lançou uma série de dúvidas sobre o projeto de US$ 4 bilhões, de propriedade de um consórcio entre a empresa de investimentos dinamarquesa Copenhagen Infrastructure Partners e a Avangrid, subsidiária estadunidense da espanhola Iberdrola. 

No momento, estão impedidas a instalação de novas pás e a operação de turbinas completas, deixando o projeto praticamente paralisado.

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Dois acidentes semelhantes ocorreram em maio e agosto, com a quebra de pás de turbinas do projeto offshore de Dogger Bank, no Reino Unido, a maior fazenda eólica do mundo (3 GW). Juntamente com o de Vineyard 1, os três tiveram em comum o fato de as turbinas serem do mesmo fabricante, a GE Vernova, líder do setor nos EUA, resultante da fusão de duas subsidiárias da GE, a GE Power e a GE Renewable Energy.

Anteriormente, a empresa já havia suspendido o desenvolvimento de uma nova turbina, devido ao cancelamento de três projetos offshore do estado de Nova York. E, dificilmente, o seu setor offshore escapará de prejuízos este ano, levando a empresa a anunciar um plano de demissão de até 900 funcionários em suas fábricas nos EUA e na França (Master Resource, 03/10/2024).

Esses exemplos ressaltam os já conhecidos riscos e altos custos dos projetos offshore, os quais acabam sendo arcados pelos consumidores com tarifas mais altas e pelos governos com subsídios, sem os quais tais empreendimentos são notoriamente inviáveis

Andrew Kaplowitz, analista do Citigroup, comenta o óbvio: “Acho que é preciso haver uma reinicialização em termos de como esses projetos offshore são pensados e do risco inerente a esses projetos (O Estado de S. Paulo, 13/09/2024).”

Em sua coluna de 17 de setembro no portal Poder 360, Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), é categórico: “Conclui-se que a expansão acelerada das fontes intermitentes, amparada em subsídios que não se justificam em termos econômicos e especialmente sociais, desencadeia riscos ao sistema elétrico e ônus aos consumidores finais, especialmente os mais pobres.”

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Por conseguinte, é de todo conveniente que o Brasil comece a cair na real sobre os rumos mais adequados para o seu setor elétrico – e que não se deixe levar pelos ventos.