Em pomposa cerimônia no Palácio de Planalto, em 21 de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o chamado Pacto pela Transformação Ecológica. Na companhia dos líderes do Legislativo e do Judiciário, ele reforçou o seu compromisso com a agenda ambiental da “descarbonização” da economia, como forma de pagamento pelo enorme apoio recebido das forças globalistas internacionais que endossaram ostensivamente o seu retorno à Presidência do Brasil. A nomeação de Marina Silva, de notórios vínculos com tal aparato intervencionista, para o renomado Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, é a garantia da sua intenção de cumprir os compromissos assumidos.
De acordo com a nota da Presidência da República (21/08/2024): “O Pacto pela Transformação Ecológica surge como uma resposta coordenada dos Três Poderes para enfrentar os desafios ambientais, climáticos e sociais do Brasil, ao mesmo tempo que busca posicionar o país como um protagonista global em segurança ambiental, climática e alimentar. A iniciativa visa integrar a biodiversidade rica e os recursos naturais abundantes do Brasil em um novo paradigma de desenvolvimento sustentável.”
Entre as ações inseridas no Pacto, a nota destaca: “1) Ampliação do financiamento e redução do custo de crédito para práticas sustentáveis pelo Executivo; 2) priorização de projetos de lei no Legislativo, como o marco legal do mercado de carbono e a produção de energia eólica no mar; 3) agilização das demandas judiciais relacionadas a questões ambientais e climáticas pelo Judiciário; 4) integração de bancos de dados imobiliários e ambientais entre Executivo e Judiciário para garantir segurança jurídica sobre terras; 5) adoção de medidas de gestão sustentável pelos Três Poderes para reduzir impactos ambientais diretos.”
Reforçando a pauta, no dia 26 de agosto, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou a Política Nacional de Transição Energética, ocasião em que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ressaltou as expectativas do governo: “Vamos protagonizar, no mundo, a nova economia – a economia verde. São R$ 2 trilhões em investimentos, são 3 milhões de empregos para brasileiras e brasileiros. É energia eólica, solar, hídrica, biomassa, biodiesel, etanol, diesel verde, captura e estocagem de carbono, combustível sustentável de aviação, hidrogênio verde. É o renascimento da indústria do Brasil em bases sustentáveis.”
As lideranças brasileiras podem pensar que estão comprando um bilhete na primeira classe – mas o “Titanic verde” já bateu num iceberg do mundo real
Por trás de ambas as iniciativas, está o utópico conceito de “potência ambiental”, que é a monetização da proteção dos biomas nacionais e a oferta de energias “verdes” aos mercados internacionais. Isso independentemente dos seus enormes custos com subsídios (única forma de viabilizá-las), que se refletem diretamente nas contas avultadas das tarifas públicas, em particular, a de energia elétrica. Em outras palavras, é a colocação das fichas do desenvolvimento nacional na roleta de incertas e questionáveis demandas externas de commodities e serviços “verdes” e investimentos vinculados a elas, inclusive, no tocante aos planos para a reindustrialização nacional.
Todavia, o otimismo governamental vai na contramão de um visível recuo global da “agenda verde” (Green New Deal, ESG etc), na medida em que a realidade dos seus elevados custos se impõe e os investimentos “sustentáveis” veem os seus atrativos ficarem para trás.
Em janeiro, o megafundo gestor de ativos BlackRock, que detém ativos superiores a US$ 10 trilhões, divulgou os seus prognósticos para o ano, chamando a atenção para a necessidade das empresas implementarem a necessária “resiliência financeira” em suas estratégias, como resultado das mudanças macroeconômicas e geopolíticas em curso. Segundo o documento, quatro megatendências estruturais deverão configurar o novo regime econômico: disrupção digital e inteligência artificial (IA), fragmentação geopolítica/competição econômica, transição para a economia de baixo carbono e divergência demográfica (envelhecimento da população).
Apesar da referência à economia de baixo carbono, chamou a atenção no relatório a ausência de qualquer menção à expressão ESG (ambiental, social e governança corporativa), que vinha sendo uma das marcas registradas dos relatórios da BlackRock nos últimos anos. De fato, até o ano passado, o seu executivo-chefe, Larry Fink, foi um dos mais ativos propagandistas das “finanças verdes”. Aparentemente, o abandono da expressão, atribuído por ele a uma excessiva “politização” da mesma, se deve a uma avaliação mais realista da combinação de altos custos com resultados questionáveis da “descarbonização” da economia mundial, em especial, em algumas economias industrializadas, como os próprios EUA, a Alemanha e outras.
Como observou oportunamente o sítio brasileiro Neofeed (18/01/2024), a “resiliência financeira” substituiu a agenda ESG como tema dominante na estratégia da empresa de Fink e, consequentemente, nas orientações repassadas aos CEOs das empresas nas quais a BlackRock detém investimentos. Em 20 de fevereiro, o jornal O Globo republicou uma reportagem do espanhol El País sobre a saída de quatro gigantes financeiras estadunidenses – BlackRock, State Street, JP Morgan e Pimco – do grupo Climate Action 100+, que reúne grandes gestoras de investimentos e empresas comprometidas com a “descarbonização” da economia mundial. A reportagem reproduz um trecho do relatório anual da State Street, a terceira maior do mundo, à Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador do mercado acionário dos EUA: “As opiniões sobre sustentabilidade ou práticas de ESG, particularmente aquelas relacionadas a questões climáticas, tornaram-se questões políticas, o que pode ampliar os riscos à reputação.”
Outras passagens do documento reforçam a argumentação: “As expectativas gerais de nossas partes interessadas, incluindo reguladores e clientes, fora dos Estados Unidos, especialmente na Europa, com relação a questões de sustentabilidade ou ESG, podem ser nitidamente diferentes das expectativas nos EUA. Como conduzimos nossas atividades de gestão de ativos globalmente, expectativas globais conflitantes nos EUA e fora dele complicam a nossa capacidade de mitigar riscos. (...)”
Em síntese, as lideranças brasileiras podem pensar que estão comprando um bilhete na primeira classe – mas o “Titanic verde” já bateu num iceberg do mundo real.
A festa da direita brasileira com a vitória de Trump: o que esperar a partir do resultado nos EUA
Trump volta à Casa Branca
Com Musk na “eficiência governamental”: os nomes que devem compor o novo secretariado de Trump
“Media Matters”: a última tentativa de censura contra conservadores antes da vitória de Trump
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS