A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, parece habitar um universo paralelo, com sua rejeição obsessiva aos combustíveis fósseis e a ilusão de que o Brasil se consolide como uma “potência verde” ou “líder ambiental”.
Enquanto grande parte do mundo abre os olhos para a realidade da inviabilidade tecnológica e econômica da substituição acelerada do carvão mineral, petróleo e gás natural, ela contrapropõe um “mapa do caminho” para se acabar com eles.
Foi o que ela disse na semana passada, em entrevista a várias rádios brasileiras, no programa “Bom dia, Ministra!”, uma coprodução da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República e da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
“Vamos ter que fazer o mapa do caminho. Um mapa do caminho para o fim do combustível fóssil, para o fim do desmatamento. E, ao mesmo tempo, trabalharmos para fortalecer a ação conjunta, a cooperação, mesmo em situação adversa”, disse ela.
Por situação adversa, a ministra se refere à guinada aplicada por Donald Trump à agenda da “descarbonização” da economia dos EUA, com o virtual desmantelamento do arcabouço regulatório e fiscal restritivo dos combustíveis fósseis e favorável às chamadas energias limpas, com ênfase especial nas fontes eólicas e solares.
“Ele criou uma força gravitacional muito negativa para a vida no planeta, com várias empresas e articulações abandonando a agenda ESG (ambiental, social e governança)”, admitiu.
Mas, para manter um ar de coragem e desafio, emendou: “É um prejuízo muito grande, mas o multilateralismo começa na agenda climática sem os EUA e, agora, terá de aprender a ser forte... No setor privado, aquelas empresas que estavam sendo beneficiadas com quase U$$ 500 bilhões do plano de combate à inflação – que, na verdade, era um disfarce para implementar uma agenda de ação climática do governo Biden –, não vão querer abrir mão desses recursos. Então, elas vão pressionar para que o governo negacionista de Trump mantenha essas medidas e ações.”
Talvez, Marina Silva devesse ir além do seu wishful thinking e informar-se melhor sobre o ânimo dos representantes do big business estadunidense, começando pelos megafundos de gestão de ativos como o BlackRock, Vanguard, State Street e outros, que estão reduzindo os seus investimentos “verdes” e ampliando em empresas ligadas aos combustíveis fósseis.
Recentemente, os três dividiram a maior parte das ações que a saudita Aramco, maior petroleira do mundo, colocou à disposição de investidores estrangeiros (0,64% do total).
Ou sobre as majors petroleiras – ExxonMobil, Chevron, Shell, BP, Equinor, etc. –, que estão engavetando sem grande alarde os seus planos de “carbono zero” anteriores, com a redução de investimentos em fontes energéticas renováveis e o aumento na exploração de petróleo e gás natural.
Enquanto isso, no país onde a ministra dá as cartas sobre o licenciamento de atividades produtivas, a Petrobras espera há anos pela licença para um poço exploratório no litoral do Amapá
Algo fanaticamente negado pelos militantes ambientalistas que dão expediente como técnicos no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
E Marina Silva não deve ignorar que o governo Trump suspendeu todas as restrições à exploração de hidrocarbonetos e à construção de oleodutos, gasodutos e outras infraestruturas afins. Inclusive, também, no Alasca, estado ao qual os ambientalistas estadunidenses, empoderados pelo governo anterior, devotam o mesmo zelo fundamentalista que as suas contrapartes brasileiras à Amazônia, em geral.
Na entrevista, a ministra voltou a manifestar a sua alienação diante da nova realidade do esgotamento e recuo da agenda “descarbonizadora”, ressaltando que a conferência climática COP-30, em Belém (PA), em novembro, terá que ser uma “conferência de implementação” dos compromissos assumidos pelos países nas últimas edições do convescote climático das Nações Unidas. Para ela:
“Não há mais o que protelar. São 33 anos debatendo. Agora só tem um caminho: implementar. É fim de combustível fóssil, de desmatamento, e isso precisa se refletir, porque quando você fala em fim do desmatamento, tem que entender que é um grande investimento.”
Alguma alma caridosa deveria informar a Marina Silva que a ponte da “descarbonização” caiu e que o caminho assinalado no seu mapa leva direto a um abismo.
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