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Na semana passada, espectadores de todo o mundo ficaram grudados diante de aparelhos de televisão e monitores de computadores para assistir ao advento do que era anunciado como um “apocalipse climático” ou algo parecido, com a passagem do furacão Milton pelo estado da Flórida, nos EUA.
Os temores não eram de todo descabidos, pois, duas semanas antes, o furacão Helene havia devastado o Sudeste dos EUA, deixando mais de 400 pessoas mortas ou desaparecidas e causando prejuízos estimados em US$40 bilhões. Todavia, sem qualquer menosprezo para com a destruição de vidas humanas e os danos materiais causados pelo novo furacão, o episódio proporcionou mais um estudo de caso sobre o catastrofismo que tem prevalecido em relação a praticamente quaisquer temas referentes aos fenômenos meteorológicos e climáticos.
O furacão começou a formar-se na Baía de Campeche, no Golfo do México, no dia 5 de outubro e, enquanto se deslocava para o leste e o nordeste, atingiu a categoria 5, a máxima da Escala Saffir-Simpson de intensidade de furacões, com ventos de até 295 km/h (o Helene chegou à categoria 4, ventos de 209-251 km/h).
Daí, soaram as trombetas do apocalipse, com jornalistas, ativistas ambientais e até meteorologistas sucedendo-se nos meios de comunicação para anunciar a calamidade iminente, com prognósticos de que poderia ser o furacão mais forte já registrado, que exigiria até mesmo a criação de uma “categoria 6” para classificá-lo. Evidentemente, tudo atribuído à conta das “mudanças climáticas”.
Um veterano meteorologista da rede NBC, John Morales, viralizou nas redes sociais com sentidos soluços ao anunciar a chegada do monstro: “É um furacão incrível, incrível, incrível. Ele caiu... ele caiu 50 milibares em dez horas (sinal seguro de intensificação dos ventos)... Me desculpem. Isso é simplesmente horrível”.
Na noite do dia 9, redes de televisão, de todo o mundo, estavam a postos para transmitir ao vivo o apocalipse abatendo-se sobre a Flórida, inclusive brasileiras, com os respectivos apresentadores empenhando-se em manter o clima sensacionalista (sem trocadilho).
Na Globonews, uma profissional geralmente competente chegou a dizer que várias regiões do estado poderiam “ficar inabitáveis”, afirmativa de envergonhar um bom estudante da oitava série do Ensino Fundamental.
E o Milton chegou à Flórida, já reduzido à categoria 3 (ventos de 178-208 km/h), caindo para a 2 (ventos de 154-177 km/h), decaindo para tempestade no dia 10 e extinguindo-se dois dias depois.
Os danos não foram poucos: 26 pessoas mortas (mais três no México) e prejuízos materiais superiores a US$30 bilhões.
Indiscutivelmente trágico para os afetados, mas nada anormal em comparação a dezenas de outros fenômenos semelhantes ocorridos anteriormente
Em grande medida, os impactos foram mitigados devido às medidas preventivas determinadas pelo governador da Flórida, Ron DeSantis, que incluíram, entre outras, a evacuação de quase 6 milhões de pessoas, a abertura de abrigos de emergência, a mobilização da Guarda Nacional (uma das maiores da história do estado), abastecimento emergencial de combustíveis, orientações sobre o uso de geradores e acidentes com linhas elétricas e orientações sobre cuidados após a passagem do furacão.
Sem surpresa, mesmo sem que o apocalipse antecipado não tenha se concretizado, a mídia engajada na promoção do catastrofismo não perdeu tempo em manter a máquina de desinformação a todo vapor. O Milwaukee Journal Sentinel qualificou assim a “mensagem transmitida pela temporada de furacões deste ano”:
“(...) As mudanças climáticas estão aqui, não há refúgios e elas são mortais e dispendiosas... A ciência é direta e incontestável (sic). As mudanças climáticas são causadas pelas atividades humanas, primariamente, o uso de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás. Os combustíveis fósseis respondem por 75% das emissões de gases de efeito estufa que prendem o calor e aquecem o planeta”.
Ora, as medições de satélites feitas desde a década de 1960 demonstram que a frequência dos furacões está em declínio nos últimos 35 anos, dando continuidade a uma tendência que remonta a mais de um século.
E ninguém menos que o próprio governador da Flórida, Ron DeSantis, tratou de colocar os fatos na devida perspectiva, em resposta a um repórter que o interrogou, precisamente, a respeito do suposto efeito das mudanças climáticas sobre o Milton.
Como visto em um vídeo viral, ele esclareceu o motivo profissional da desinformação: “Tornados? Eu acho que você pode olhar para trás e, seguramente, encontrar tornados por toda a história humana. Especialmente, na Flórida, você tem essas tempestades... em termos de história, eu acho que (Milton) chegou à terra com uma pressão barométrica de 950 milibares (mb). Se você voltar a 1851, provavelmente, houve 27 furacões com pressões barométricas menores que o Milton quando chegaram à terra, quanto mais baixa a pressão barométrica, mais fortes eles são. Desses, acho que 17 ocorreram antes de 1960. E o furacão mais forte já registrado no estado da Flórida desde a década de 1850 ocorreu na década de 1930, o furacão do Dia do Trabalho (29 de agosto-10 de setembro de 1935), a pressão barométrica foi de 982 mb (na verdade, 892 mb), que varreu totalmente as Keys (arquipélago ao sul do estado), nunca vimos nada parecido, e ele permanece acima de qualquer outro furacão que já tivemos no estado da Flórida. O furacão mais mortífero que já tivemos foi em 1928, o Okeechobee, que matou 4 mil pessoas; felizmente, não vamos ter nada sequer parecido com este furacão atual. (...)
“Então, eu acho que as pessoas deveriam colocar isso em perspectiva. Elas tentam pegar coisas diferentes que acontecem com a meteorologia tropical, não há nada de novo sob o Sol. Você sabe, isso é algo com que o estado tem lidado em toda a sua história e é algo com que continuaremos a lidar . Eu acho que o que muda é que, com 23 milhões de pessoas no estado, uma tempestade, provavelmente, atinge mais pessoas e propriedades do que há 100 anos. Ou seja, o potencial de prejuízos aumenta, mas o que também muda é a nossa capacidade de fazer a prevenção, por exemplo, pré-posicionando os ativos, quero dizer, nós nunca fizemos um pré-posicionamento de ativos de energia antes que eu me tornei governador, agora, as pessoas podem esperar isso. Isso nunca foi feito no passado e é por isso que as pessoas ficavam até três semanas sem energia quando tínhamos furacões... (O mesmo) com diferentes equipes de busca e resgate, a guarda estadual; todas essas coisas estão trazendo ferramentas diferentes para o combate e nos permitem responder com mais eficiência. Então, se só tivéssemos as ferramentas que tínhamos em 1928 para combater isso, não há dúvida de que teríamos um número de mortes maior. (...)”
Com conhecimento de causa, bom senso e vontade política, o governador, que já demonstrou em outras oportunidades a disposição para enfrentar a “indústria” do catastrofismo climático, oferece ensinamentos úteis a outras autoridades com responsabilidades públicas que envolvem a crucial questão das políticas ambientais e climáticas, infelizmente, infectadas com o vírus do alarmismo inconsequente.
Em tempo: no Brasil, o catastrofismo climático – galopante no país – já está servido até como pretexto para a inépcia e o descaso de empresas mais preocupadas com a distribuição de lucros e dividendos do que com a qualidade dos seus serviços.
Em São Paulo (SP), no dia 11, uma tempestade muito menos intensa do que os furacões que assolam a América do Norte deixou mais de 2 milhões de imóveis às escuras.
No momento em que este artigo era escrito, mais de 72 horas após o ocorrido, ainda havia mais de 400 mil deles sem eletricidade e sem previsão de normalização. Inquirida a respeito, a concessionária Enel respondeu por meio de sua assessoria de imprensa: “Estamos sugerindo aos jornalistas ouvirem especialistas em mudanças climáticas... as cidades não foram preparadas para resistir a fenômenos desta magnitude”.
Pano rápido.
Conteúdo editado por: Aline Menezes