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Lorenzo Carrasco

Lorenzo Carrasco

Ideologia “verde”

O fracasso dos Verdes e a revanche da energia nuclear

O presidente da COP28 e Ministro da Indústria e Tecnologia Avançada dos Emirados Árabes Unidos, Sultão Ahmed Al Yaber, em sessão plenária na Conferência de Dubai sobre o acordo de combustíveis fósseis. (Foto: Martin Divisek/EFE/EPA)

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O Financial Times de Londres informou recentemente que um grupo de grandes bancos está articulando a viabilização de um vasto esquema de financiamento para projetos nucleares, com vistas ao cumprimento da meta de triplicar a oferta mundial de energia nuclear até 2050, estabelecida na conferência climática COP-28, em Dubai, em 2023.

A iniciativa envolve o governo dos EUA, por meio do enviado especial para o Clima da Presidência, John Podesta, e 14 dos maiores bancos e instituições financeiras do mundo: Bank of America, Barclays, BNP Paribas, Citigroup, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Abu Dhabi Commercial Bank, Ares Management, Brookfield, Crédit Agricole CIB, Guggenheim Securities, Rothschild & Co, Segra Capital Management e Société Générale.

Um representante do BNP Paribas disse ao jornal que não há qualquer cenário em que a “neutralidade de carbono” possa ser atingida no prazo estabelecido sem a energia nuclear. Outro, do Barclays, justificou o interesse do banco com a constatação das deficiências das fontes eólicas e solares, intermitentes e inconfiáveis para as grandes redes de transmissão.

Dias antes, a Constellation Energy Company, proprietária da usina nuclear de Three Mile Island, na Pensilvânia, anunciou a intenção de reativar até 2028 o reator 2 da usina, desativado desde o acidente de 1979, que provocou o seu derretimento parcial. A empresa pretende investir cerca de US$ 1,6 bilhão, com base em um contrato de 20 anos com a Microsoft para o fornecimento de eletricidade de custos e impactos ambientais reduzidos, para alimentar data centers regionais de inteligência artificial (IA), vorazes consumidores de eletricidade.

O renascimento da energia nuclear em todo o mundo decorre de uma percepção crescente sobre as grandes inadequações das principais fontes ditas “renováveis”, principalmente as eólicas e solares, para proporcionar uma segurança energética cada vez mais necessária. 

Além disso, trata-se de tecnologias consolidadas e ainda com grande potencial de evolução, tanto na variedade da fissão nuclear, que constitui a totalidade dos reatores existentes, como na fusão nuclear, o “Santo Graal” da geração de eletricidade. 

Os números são categóricos. Atualmente, existem 60 reatores nucleares em construção em dez países, dos quais 21 na China, além da Índia, Turquia, Coreia do Sul, Rússia, Reino Unido, EUA, Japão, Emirados Árabes Unidos, Bangladesh, Eslováquia, Irã, França e Argentina. 

Ademais, há cerca de 80 projetos de pequenos reatores modulares (SMR, na sigla em inglês) em desenvolvimento, inclusive, por empresas privadas de vários países, os quais oferecem uma alternativa de grande flexibilidade para o aumento da oferta de eletricidade “despachável” para as redes de base, que não podem depender de fontes intermitentes.

E sem mencionar os mais de 20 projetos de reatores de fusão nuclear em curso nos EUA, Europa, Rússia, China, Japão e Coreia do Sul, inclusive, por “startups” apoiadas por governos, fundos de investimentos e empresas petrolíferas.

Ao mesmo tempo, a retomada nuclear se dá em paralelo com a derrocada dos outrora influentes partidos “verdes” europeus e o ostensivo declínio da influência do catastrofismo ambiental militante, cujo radicalismo tende a confiná-lo em guetos ruidosos e autorreferenciados.

Por ironia, em nenhum lugar essa influência negativa foi tão grande como na Alemanha, o berço da energia nuclear e que, até o início deste século, tinha nela um dos pilares da sua eficiente matriz energética, gerando até 25% da eletricidade consumida no país, participação hoje reduzida a zero.

Esse cenário deplorável tem origem nas insidiosas campanhas do Partido Verde, fundado na década de 1980 como um braço auxiliar do esforço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para reduzir o papel da Alemanha como exportadora de tecnologia nuclear, em especial, para países em desenvolvimento como o Brasil e outros.

Após a reunificação alemã, a saída de cena da última geração de líderes nacionais que participou diretamente da Segunda Guerra Mundial e da reconstrução do pós-guerra, a do chanceler Helmut Kohl (1982-1998), a ideologia “verde” encontrou um campo fértil para a sua proliferação. 

O resultado foi o advento da desastrosa política da “transição energética” (Energiewende), incorporando um forte componente antinuclear e uma insana expansão da oferta de centrais eólicas e solares, cuja eficiência nos rigorosos invernos alemães se reduz a índices pífios, obrigando a importação de eletricidade da Polônia, Dinamarca, França e República Checa, boa parte dela gerada em – usinas nucleares.

Porém, antes tarde do que nunca, os alemães estão despertando da sua letargia em relação à percepção das desastrosas diretrizes dos “Verdes”, inclusive, no tocante ao apoio incondicional ao belicismo da OTAN, como ficou evidenciado nas recentes eleições regionais, aonde o partido foi quase varrido do mapa eleitoral, ficando abaixo da cláusula de barreira para a representação nos parlamentos estaduais na Turíngia e Brandemburgo, e mal passando dos 5% necessários na Saxônia.

O Brasil, cujos avanços nucleares muito devem à cooperação com a Alemanha, não pode ficar alheio a esse renascimento global

Embora o país esteja submetido a um garrote financeiro autoimposto, que virtualmente bloqueia qualquer interesse da iniciativa privada nacional no setor, uma empresa como a Petrobras pode – e deveria – investir nele uma parte dos seus recursos para a estratégia de conversão em empresa de energia, em vez de dilapidá-los com tecnologias caras e questionáveis como as centrais elétricas “offshore”. 

Uma possibilidade seria investir em reatores modulares, como o Carem-25 em desenvolvimento pela empresa argentina Invap, ou em pesquisas de energia de fusão, a exemplo do estão fazendo a ENI italiana, a Equinor norueguesa, a Chevron estadunidense e a britânica BP (que acaba de anunciar o abandono dos seus investimentos em eólicas e solares).

A hora é de pensar nas tecnologias do futuro próximo, não em outras que representam retrocessos tecnológicos, e abandonar de vez as pretensões de que o Brasil poderá apresentar-se ao mundo como uma ilusória “potência verde”.

Conteúdo editado por: Aline Menezes

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