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Lorenzo Carrasco

Lorenzo Carrasco

“Retratação”

Por que a pressa para encerrar o imbróglio Carrefour?

Para os brasileiros, o “affair Carrefour” é uma oportunidade para examinarem a falácia da agenda “climática”. (Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo)

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Muitos não entenderam a pressa do governo brasileiro, nas figuras do ministro da Agricultura Carlos Fávaro e do chanceler Mauro Vieira, em aceitar o pedido de desculpas (um tanto esfarrapado) do executivo-chefe do Carrefour, Alexandre Bompard, sobre a sua bravata de que a rede francesa não compraria mais carne do Mercosul. Pressa, aliás, compartilhada pelos cartéis de grãos internacionais que operam no Brasil.

Como se sabe, Bompard originou o imbróglio com a divulgação de uma carta enviada à Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores (ENSEA), na qual se apresentou como “protetor” dos produtores franceses.

“Em toda a França, ouvimos o desespero e a indignação dos agricultores diante do projeto de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, e o risco de inundação do mercado francês com carne que não atende às suas exigências e normas”, escreveu em suas redes sociais, no dia 20 de novembro.

Todavia, o boquirroto CEO viu-se forçado a recuar, diante da reação imediata de representantes dos produtores e de parlamentares brasileiros, além de um ensaio de boicote de vendas e da ameaça de boicote popular às redes Carrefour e Atacadão, controladas pelo grupo no Brasil (de onde saem 23% do seu faturamento geral), que não puderam ser ignorados pelo governo brasileiro.

A “retratação”, divulgada em 26 de novembro, dizia: “Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas.” 

Mais que depressa, os citados representantes do governo Lula se manifestaram no sentido de se virar a página. Mas lideranças políticas e representantes dos produtores consideraram, corretamente, que o questionamento de Bompard à qualidade da produção nacional e a sugestão sobre um desrespeito a normas ambientais rigorosas pelos brasileiros mereciam uma resposta mais contundente. 

Na Câmara dos Deputados, o presidente da casa, Arthur Lira (PP-AL), fez um requerimento de urgência para o projeto de “reciprocidade ambiental” do deputado Tião Medeiros (PP-PR), cujo texto proíbe o País de “participar, patrocinar, aceitar, propor, ser signatário, anuir, assinar, normatizar ou de qualquer forma vincular-se a compromissos, tratados, acordos, termos, memorandos, protocolos, contratos ou instrumentos internacionais nos âmbitos bilateral, regional ou multilateral que possam representar restrições às exportações brasileiras e ao livre comércio, quando os outros países ou blocos de países signatários não adotarem em seu marco legal e regulatório instrumentos equivalentes”.

Apesar de restrito à questão comercial, o projeto de lei é um oportuno dispositivo para reduzir a passividade com que o Brasil tem se submetido à agenda ambientalista-indigenista internacional desde o final da década de 1980. 

Ao contrário do que pensam muitos no Brasil, o problema envolve aspectos que transcendem uma questão meramente comercial ou uma discussão sobre o protecionismo europeu

Na França, há tempos, o Carrefour privilegia as compras dos produtores locais, em uma correta atitude no sentido de apoiar o conceito de segurança alimentar tão caro aos europeus, o qual vai além de considerações simplistas sobre eficiência, produtividade e subsídios. Assim, a explicação para a provocativa declaração do executivo deve ser buscada em outra área. 

No caso, trata-se da agenda da “descarbonização” da economia mundial, na qual as grandes redes varejistas e os cartéis de alimentos estão envolvidos até o teto dos seus armazéns, mas que encontra sob questionamentos crescentes pelos seus altos custos e limitações tecnológicas.

O próprio Carrefour é integrante da Ambição Net Zero da Organização das Nações Unidas (ONU), que apoia empresas para cumprirem os respectivos compromissos de redução das suas emissões de carbono. As metas da rede são 50% até 2030 e 70% até 2040. A filial brasileira também integra a infausta Moratória da Soja, acordo assinado entre ONGs ambientalistas e os cartéis internacionais de alimentos, o qual veda compras de produtos oriundos de áreas desmatadas após 2008, contrariando os dispositivos do próprio Código Florestal de 2012.

Mas Bompard não estava pensando na proteção dos produtores franceses, que têm protestado fortemente contra os excessos da legislação ambiental da própria União Europeia, o chamado Pacto Verde, cuja meta geral é reduzir as emissões de carbono do setor agropecuário em 30% até 2030, em consonância com a Agenda 2030 da ONU. 

O seu cálculo, que se revelou bastante equivocado, foi combinar um aceno aos produtores franceses com um reforço à agenda ambiental no Brasil, país-chave para a preservação da agenda “descarbonizadora”, num momento em que os seus excessos começam a ser questionados pelos brasileiros, haja vista as leis contrárias à Moratória da Soja recentemente aprovadas pelas assembleias legislativas de Rondônia e Mato Grosso.

Possivelmente, Monsieur Bompard considerou que não seria difícil levar o Brasil a ceder à chantagem, com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionado pela necessidade de sucesso da vindoura conferência climática COP-30. Mantendo-se, assim, virtualmente refém do “gabinete verde” encabeçado pela poderosa ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e considerando o presidente francês Emmanuel Macron como um “parceiro” para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. 

Salta aos olhos que a conferência de Belém corre um sério risco de esvaziamento, não só por conta do “efeito Trump”, com sua notória rejeição à agenda da “descarbonização”, mas pelos questionamentos cada vez maiores que têm sido feitos a ela, devido aos seus altos custos e limitações tecnológicas. 

Sem os EUA, sobra em cena a União Europeia, onde a agenda também está sendo questionada e golpeada, principalmente, pelos setores produtivos agropecuários e industriais, e as próximas eleições em países-chave como a Alemanha (onde os Verdes estão cada vez mais desmoralizados) podem reforçar o efeito. 

A COP-30 é o que resta para salvar as fantasias de Lula e do governador paraense Helder Barbalho, respectivamente, de que a conferência poderá ser um palco para as suas pretensões de estadismo global e para grandes negócios com instrumentos de “financiamento climático”, como os créditos de carbono. Para ambos, a França de Emmanuel Macron surge como uma forte aliada para a conferência. 

Fantasias à parte, para os brasileiros, em geral, e os produtores nacionais, em particular, o “affair Carrefour” é uma oportunidade pedagógica para se examinarem melhor os falaciosos pressupostos da agenda “climática”.

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Conteúdo editado por: Aline Menezes

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