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Tudo indica que em breve será proibido expressar qualquer dúvida sobre a agenda ambiental que está tomando conta do planeta. Este será o próximo grande consenso e o cidadão que ousar desconfiar da sua viabilidade econômica dessa agenda ou insinuar, por exemplo, que há interesses secretos envolvidos estará sujeito a ser cancelado pelos parentes e amigos, a ter suas contas sumariamente suspensas nas redes sociais e, se bobear, a acordar com agentes da Polícia Federal batendo na porta, em uma operação de busca e apreensão.
Escrevam: a agenda ambiental será o novo “fique em casa”, a nova inviolabilidade das urnas. Em defesa da democracia, o sistema já mandou avisar: “se tiver alguém contra o que a ONU falar, a gente censura, persegue, esfola, prende e arrebenta”.
Bem feito para essa gente que ainda não entendeu como a coisa funciona. Pela última vez: todo mundo que defende a democracia está de um lado só; quem estiver de outro lado, qualquer outro lado, é fascista e merece ser excluído da sociedade, sem dó.
“Ora, é assim no mundo inteiro, você não acompanha o noticiário internacional? Até o Joe Biden falou estes dias que a democracia americana estará em risco, caso seu partido seja derrotado nas eleições.”
“Mas e a liberdade de expressão?”
“Jesus, dai-me paciência! É a mesma coisa, seu burro: liberdade de expressão só vale para quem estiver do lado certo. Quem estiver de outro lado, qualquer outro lado, tem mais é que ser sumariamente censurado mesmo, sem direito a defesa, nem contraditório, para aprender a não espalhar mentiras e fake news. Porque mentiras e fake news geram desordem informacional e colocam a democracia em risco.”
“Mas quem decide o que é mentira e fake news?”
“Mas você é burro mesmo, hein? Obviamente, quem decide é o lado certo, auxiliado pelo consórcio e pelas agências de checagem. Entendeu agora? Ou precisa desenhar?”
Enquanto governantes e celebridades posam para fotos na COP 27, presos políticos podem estar sendo torturados no Egito
Pois bem, quem acompanha o noticiário internacional deve estar com a sensação de que a COP 27, a conferência climática que está sendo realizada pela ONU em Sharm El Sheikh, no Egito, é um congresso de anjos, ursinhos carinhosos e super-heróis determinados a salvar o planeta dos malvadões que teimam em queimar as florestas e usar combustíveis fósseis.
Mais ainda: eles – os governantes, os cientistas, os grupos ambientalistas, os jornalistas e as celebridades reunidas no Egito – estão todos de acordo e sabem exatamente o que fazer para salvar a natureza! Não se vê um contraponto, um questionamento, uma alternativa, uma análise minimamente profunda dos impactos econômicos dessa agenda, nada.
Ficou algo tão chato e previsível que nem a Greta Thunberg, figurinha fácil nesses eventos, aguentou participar da COP este ano, alegando que as COPs estão sendo usadas por líderes e pessoas no poder que só querem aparecer posando de virtuosos. Cuidado, Greta! Você vai acabar sendo cancelada pela mesma turma que inventou você!
Parece que a COP 27 é uma espécie de Supremo Tribunal do Clima que não admite opiniões dissidentes: com apoio do consórcio e das agências de checagem, ela tem poder absoluto sobre a verdade e a mentira. Tem também o poder de determinar que ações cada país deve adotar para enfrentar o aquecimento global. Tudo em defesa do meio-ambiente e da democracia.
Opa! Alguém falou em democracia?
Lendo os grandes jornais nem dá para imaginar, mas você sabia que o Egito, que sedia a COP 27, vive uma ditadura? Pois é. Em 2013, o atual presidente, Abdel Fatah Al-Sisi, ex-comandante do Exército, deu um golpe de Estado em nome da democracia e não saiu mais do poder.
Estima-se que somente na repressão aos protestos contra o golpe morreram mais de 1.400 pessoas – aí incluídos cidadãos condenados à pena de morte e executados pelos crimes de incitação á violência e, vejam só, “obstrução de via pública em manifestação ilegal”, segundo reportagem da época do insuspeito “El Pais”.
Você sabia que, neste exato momento, há no Egito milhares de presos políticos, um deles em greve de fome, correndo risco real de morrer? Trata-se do blogueiro Alaa Abd el-Fattah, condenado a 5 anos de prisão sob a acusação de disseminar notícias falsas.
Esta reportagem descreve Al-Sisi como “o pior ditador do Egito moderno” – e olha que não faltaram ditadores no Egito. Ela cita tortura de crianças e desaparecimento misterioso de adversários políticos. Um trecho diz que “500 mídias online foram fechadas e cerca de 30 jornalistas, e até blogueiros, estão atualmente atrás das grades. Sem dúvida, se ele for afastado do poder, Sisi poderá ser acusado de crimes contra a humanidade. Nesse ínterim, os militares estão instalando uma ditadura cada vez mais violenta, apoiada por seus muitos parceiros internacionais”.
Esta outra reportagem revela que, desde 2014, Al-Sisi leva uma vida nababesca e já construiu ao menos três novos palácios presidenciais e mais dez casas de campo para uso pessoal. Esta outra afirma que ele impede atendimento médico a prisioneiros políticos, no que vem sendo denunciado como uma série de assassinatos silenciosos de adversários. Esta outra informa que a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch já denunciou o uso generalizado de tortura no Egito, incluindo espancamentos, choques elétricos e violações sexuais.
Curiosamente, nada disso parece afetar ou incomodar a boa consciência da turma do bem que apoia a natureza e a democracia. Estão todos lá, tirando fotos e pedindo justiça climática, enquanto a poucos quilômetros da sede da COP 27 presos políticos podem estar sendo barbaramente torturados.
Particularmente representativo da forma como a agenda ambiental está fazendo líderes ocidentais passarem pano para ditadores foi o encontro na COP 27 entre o presidente da França, Emmanuel Lacron, digo, Macron, e o ditador venezuelano Nicolás Maduro.
Os dois se cumprimentaram efusivamente, e o francês disse: "Meu amigo Alberto Fernández me falou muito de você, muito bem". Maduro respondeu: “Ele me disse, temos bons amigos em comum".
Ninguém parece dar a menor importância ao fato de que, menos de um mês atrás, um relatório da própria ONU acusou a Venezuela de crimes contra a humanidade, incluindo a prática de torturas físicas e psicológicas e violência sexual. Qual a importância disso diante da defesa das florestas, não é mesmo?
Aos olhos dos ambientalistas, parece que está tudo bem: Macron e Maduro se cumprimentam e posam como verdadeiros heróis, irmanados na luta pela defesa do meio-ambiente e da democracia.
Opa! Alguém falou em democracia?
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Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima