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Luciano Trigo

Luciano Trigo

Eleição nos EUA

A coisa está feia para Joe Biden

(Foto: Reprodução Instagram)

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Em qualquer país onde haja o instituto da reeleição, mas especialmente nos Estados Unidos, os presidentes em exercício raramente abrem mão de disputar um novo mandato.

(No Brasil também é assim: desde a Emenda Constitucional que instituiu a reeleição em 1997, quatro presidentes disputaram a reeleição: Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro.)

Na América, a última vez que isso aconteceu foi em 1968, quando o presidente Lyndon Johnson, do Partido Democrata, era tão impopular que achou mais prudente ceder a vaga. A sociedade vivia tempos conturbados, em meio à Guerra do Vietnã e à explosão de movimentos de lutas por direitos civis.

E os Democratas estavam mesmo sem sorte: excluído Johnson da disputa, o herdeiro mais forte da candidatura, Robert Kennedy, foi assassinado em junho, em Los Angeles, com dois tiros na cabeça – dois meses depois de outro trágico assassinato, de Martin Luther King, em Memphis. Dois traumas que a sociedade americana continua regurgitando até hoje.

Ao final de uma Convenção Nacional Democrata marcada por confrontos violentos entre a polícia e manifestantes antiguerra (Norman Mailer escreveu um livro excelente sobre o episódio, "Miami e o cerco de Chicago"), o Partido Democrata acabou indicando como candidato um político inexpressivo, Hubert Humphrey, que não tinha vencido nenhuma primária.

Humphrey levou uma sova do candidato republicano, Richard Nixon, que se reelegeria em 1972 mas seria forçado a renunciar em 1974, após as complicações do escândalo de Watergate. Em 1968, a campanha de Nixon foi centrada na promessa de restaurar a lei e a ordem em um país assolado pela violência e por quebra-quebras nas ruas.

56 anos depois, ao Partido Democrata enfrenta novamente uma situação difícil. Além de impopular, o presidente e candidato à reeleição Joe Biden está com 81 anos e apresenta sinais claros de senilidade, mas teima em se candidatar à reeleição.

O problema não é só a teimosia de Biden: mesmo se ele desistir ou sofrer algum problema de saúde que o retire da campanha, o Partido Democrata não terá um nome competitivo para ocupar a vaga.

Kamala Harris, a vice-presidente e porta-voz das bandeiras identitárias, é hoje rejeitada por 64% dos americanos, e somente 23% acreditam que ela teria alguma chance de derrotar Donald Trump.

A coisa está tão feia que alguns estados, como a Flórida, simplesmente cancelaram as primárias democratas, alegando que só existe um candidato qualificado para a vaga.

O jeito é tentar ganhar a eleição no tapetão; daí os esforços recorrentes para tornar Donald Trump inelegível

A eleição está marcada para o dia 5 de novembro, mas a partir de janeiro já ocorrem as primárias que apontarão os candidatos dos dois partidos. Será, seguramente, o acontecimento político mais importante da década, com impactos em todo o planeta – no Brasil, inclusive.

Mesmo as pesquisas, historicamente enviesadas a favor dos Democratas, estão dando uma vantagem consistente para Trump – inclusive em todos os seis estados que costumam decidir a eleição, por não serem claramente Democratas nem Republicanos: Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin.

Pior ainda, Biden está perdendo pontos preciosos em dois nichos caros aos Democratas: os eleitores latinos e os eleitores afrodescendentes. Segundo a maioria das pesquisas, Biden só consegue manter a popularidade na elite branca e com diploma universitário.

Uma dessas pesquisas, feita em dezembro pelo portal YouGov para a revista The Economist, afirma que 55% dos americanos acham que a saúde e a idade de Biden “limitam severamente sua capacidade de realizar o trabalho” de presidente, incluindo 25% dos eleitores democratas.

Somente 24% dos americanos querem que Biden concorra novamente à presidência. A mesma pesquisa mostra uma elevada insatisfação da maioria dos americanos com o desemprego e a inflação.

Outra pesquisa, publicada pelo USA Today em parceria com a Suffolk University, aponta que Biden está em queda livre também no nicho dos eleitores jovens – entre 18 e 29 anos. “Uma coalizão em desgaste: eleitores negros, hispânicos e jovens abandonam Biden no início do ano eleitoral”, afirmou o jornal.

É uma mudança radical em relação a 2020, quando Biden derrotou Trump com folga entre esses eleitores. Desde Ronald Reagan, nenhum candidato republicano teve a maioria dos votos entre eleitores jovens.

Por fim, a narrativa de que a reeleição de Biden representaria uma vitória da democracia e que a volta de Trump seria o triunfo do fascismo não está colando mais. A recente demissão de duas reitoras que relativizaram o antissemitismo nos campi sinaliza que a sociedade americana está reagindo ao constrangimento e à intimidação da agenda progressista. Tomara que essa onda chegue logo ao Brasil.

Nesse contexto, o jeito é tentar ganhar no tapetão. Daí os esforços recorrentes para tornar Donald Trump inelegível. Aos 77 anos, Trump também não é nenhum garoto, é claro, mas parece estar em condições físicas e mentais bastante superiores às de Biden.

Mas ainda que a candidatura de Trump seja barrada na Justiça, o partido Republicano conta com outros nomes perfeitamente capazes de derrotar o atual presidente geriátrico, começando pelo governador da Flórida, Ron DeSantis.

O empresário Vivek Ramaswamy, filho de imigrantes indianos, e Nikki Halley, ex-governadora da Carolina do Sul, também teriam potencial para vencer – e jantariam Biden nos debates. Os três candidatos citados são bastante jovens, o que demonstra a renovação de lideranças entre os Republicanos – o que não aconteceu no Partido Democrata.

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