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Luciano Trigo

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Dia da Mulher

A desigualdade salarial entre homens e mulheres, segundo Thomas Sowell

(Foto: Reprodução Instagram)

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Entra ano, sai ano, sempre que chega o Dia da Mulher a grande mídia faz reportagens sobre a absurda desigualdade salarial entre homens e mulheres, como esta: “Mesmo mais escolarizadas, mulheres ganham 21% menos que homens; desigualdade maior é na ciência, aponta IBGE”.

O tema merece atenção, é claro, mas não é tão simples quanto parece. Ainda mais em um tempo no qual as narrativas pesam mais que os fatos, é importante buscar interpretações alternativas do fenômeno, para não ficarmos reféns de um pensamento único que interdita o debate.

Nos Estados Unidos, essa discussão já é bem mais antiga – e está longe de chegar a um consenso. Lá como cá, existe a percepção generalizada de que as relações de trabalho são contaminadas pela discriminação sexual, o que se reflete nos diferentes salários recebidos por homens e mulheres por trabalhos semelhantes.

Mas, segundo o economista Thomas Sowell, autor de Os intelectuais e a sociedade (É Realizações, 2011) e Fatos e falácias da economia (Record, 2017), entre muitos outros livros, a desigualdade salarial entre homens e mulheres é um mito. Foi em um dos capítulos de Fatos e falácias da economia que Sowell se dedicou a investigar o tema, chegando a conclusões surpreendentes.

O primeiro argumento de Sowell é estatístico: tudo depende de como se analisam os números. Pelo menos na sociedade americana, as pesquisas que indicam que mulheres recebem menos que os homens misturam universos muito diferentes. Quando o recorte é o mesmo e as variáveis são neutralizadas, analisando-se homens e mulheres com as mesmas características, formação, currículo etc, a diferença cai drasticamente.

Ignorar essas variáveis, afirma Sowell, equivale a afirmar que existe discriminação etária contra os jovens em todas as empresas, já que eles recebem uma remuneração menor que os profissionais mais velhos – sem levar em conta o fato óbvio de que os jovens estão no começo da carreira, e os mais velhos incluem os gestores dessas empresas.

A solução para tal "discriminação" seria nivelar o salário de todos, independentemente da competência e da experiência acumulada? Claro que não, nem deve ser este um objetivo a ser perseguido. Por óbvio, toda discriminação precisa ser combatida, mas nem toda diferença salarial pode ser atribuída à discriminação.

O economista americano Thomas Sowell

Sempre segundo Sowell, o que as pesquisas que fundamentam a tese da discriminação fazem é calcular uma média: elas não comparam homens e mulheres considerando seus perfis individuais, e sim agregados de dezenas de milhões de indivíduos com escolaridades, experiências e currículos os mais diversos.

Se a comparação for feita entre homens e mulheres com a mesma formação, os mesmos títulos acadêmicos, os mesmos anos de experiência profissional etc, os salários são equivalentes.

Mas Sowell vai além: mesmo entre grupos de homens e mulheres com as mesmas qualificações, existem explicações econômicas para eventuais divergências salariais. Por exemplo, a tendência das mulheres, no agregado, a escolher trabalhar em áreas que pagam menos no mercado.

Sowell elenca outros fatores: mulheres passam em média mais anos estudando e por isso começam a trabalhar mais tarde; interrompem a carreira com mais frequência que os homens, por causa da gravidez, do tempo dedicado à criação dos filhos etc; demonstram menos disposição para negociar aumentos, uma vez empregadas; e evitam ocupações de maior risco, nas quais a remuneração também tende a ser maior.

Tudo isso tem impacto nos números, bem como outro fator: o que Sowell chama de "assimetria matrimonial". Sempre falando do contexto americano, e levando em conta que comportamentos culturalmente arraigados não se transformam de um ano para o outro, os números mostram que as mulheres casadas tendem a ganhar menos que o resto da população (incluindo homens em geral e mulheres solteiras).

Isso porque mulheres casadas passam boa parte de sua vida economicamente ativa cuidando de seus filhos, enquanto homens casados podem dedicar mais tempo à carreira. Isso pode ser uma escolha para muitas mulheres, mas, no agregado e na média, faz com que elas fiquem para trás em termos de rendimentos.

Sowell não está fazendo um juízo de valor sobre a opção de um grupo de mulheres por se dedicar mais a família que à vida profissional. Ele está apenas descrevendo uma realidade: por outro lado, mulheres americanas que nunca se casaram ganham, em média, até mais que os homens americanos que nunca se casaram. (É claro que a desvantagem das mulheres casadas diminuiria se os homens dividissem o trabalho doméstico com as mulheres.)

Perpetuar o mito de que as mulheres são vítimas prejudica as mulheres, fazendo com que elas se sintam fracas, e isto as distrai do aprendizado de maneiras inteligentes de aumentar seus rendimentos

O argumento final de Sowell é que, em um mercado de trabalho com regras flexíveis de contratação e demissão, é economicamente irracional que exista discrepância de salário em função de discriminação de gênero – pelo simples fato de que, sendo possível pagar menos pelo mesmo trabalho e pelos mesmos resultados, se as mulheres ganhassem menos qualquer empregador minimamente inteligente só contrataria mulheres, pois isso diminuiria seus gastos com pessoal e aumentaria seus lucros.

Segundo este argumento, empresas discriminatórias, que colocam o machismo à frente do lucro, seriam naturalmente expelidas do mercado. No médio prazo, a concorrência entre os empregadores por profissionais mulheres provocaria o aumento do seu salário, eliminando qualquer desigualdade.

Mas esse raciocínio, é claro, só faz sentido em uma sociedade onde existe estímulo à concorrência, e onde a intervenção do Estado nas relações de trabalho é mínima.

Resumindo, segundo Thomas Sowell:

  • A desigualdade salarial entre homens e mulheres, quando existe, é muito menor do que se imagina, pois depende da forma como se interpretam os números;
  • Quando essa desigualdade existe, ela não pode ser integralmente atribuída à discriminação, mas a fatores puramente econômicos.

De qualquer forma, este é um debate que precisa ser conduzido com mais racionalidade e menos lacração: o risco é, ao se lutar por uma legislação voltada à promoção da igualdade, o resultado seja prejudicar as empresas, comprometendo, no final das contas, sua capacidade de gerar emprego e renda - o que prejudicaria a todos, homens e mulheres. Coisas assim acontecem quando narrativas prevalecem sobre princípios básicos da economia de mercado.

Corrobora a análise de Sowell uma declaração da diretora-executiva do Independent Women’s Forum, Sabrina Schaeffer: “Perpetuar o mito de que as mulheres são vítimas prejudica as mulheres, fazendo com que elas se sintam fracas, e isto as distrai do aprendizado de maneiras inteligentes de aumentar seus rendimentos e aumentar sua influência no ambiente de trabalho.”

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