Nunca é demais repetir: somente em ditaduras a plataforma X/Twitter foi impedida de funcionar. Em todos os casos, por motivos relacionados à censura governamental e ao controle da informação, para manter na ignorância e/ou intimidar a população e perseguir adversários políticos, garantindo-se assim a perpetuação de um projeto de poder.
Na China, por exemplo, o Twitter está bloqueado desde 2009. O governo chinês faz um controle severo da internet e das redes sociais para impedir a disseminação de conteúdos considerados subversivos, ou “desinformação”.
No Irã, a plataforma foi bloqueada depois de ter sido amplamente utilizada durante os protestos pós-eleitorais, também em 2009. O governo iraniano fez isso para silenciar e perseguir adversários e reprimir toda e qualquer dissidência.
A Coreia do Norte dispensa comentários.
Bloqueios temporários do X/Twitter já foram realizados na Turquia, na Nigéria e em Myanmar, como resposta a protestos ou críticas ao governo, ou mesmo por “razões de segurança nacional”, “defesa da democracia” e “controle de desinformação”.
Os pretextos são sempre os mesmos. E em todos esses casos, é necessário que se diga, os bloqueios foram “legais”, uma vez que foram autorizados pelos respectivos poderes Judiciários.
De forma similar, a reeleição de Maduro também pode ser considerada “legal”, já que assim o afirma a Justiça da Venezuela, um país soberano. O problema é que todo mundo sabe que a eleição foi uma fraude. Ou seja, algo pode ser ao mesmo tempo “legal” e fraudado, criminoso, portanto, legal e ilegal ao mesmo tempo. Diante de paradoxos assim, a população perde o respeito pelas instituições.
Nas ditaduras, as instituições estão a serviço do controle da informação, indispensável ferramenta de prevenção à disseminação de ideias que podem desafiar a autoridade dos ditadores. Em regimes assim, imperam o medo e a lei do silêncio. Quem ousa discordar do governo sabe que corre risco de prisão, ou coisa pior.
Não existe no planeta democracia digna do nome na qual o X/Twitter esteja bloqueado. Por que somente a democracia brasileira estaria ameaçada?
Atualmente o X/Twitter tem cerca de 20 milhões de usuários ativos no Brasil. O país é um dos maiores mercados para a plataforma, com uma base significativa de usuários engajados que utilizam a rede social para discutir temas como política, entretenimento, esportes e atualidades. É uma ilha de liberdade de expressão.
Além do acesso a informações independentes – em uma época na qual a credibilidade da grande mídia e das fontes tradicionais de informação está no fundo do poço – o Twitter exerce um papel fundamental para a saúde da nossa democracia. É claro que ele também facilita a organização de protestos e a disseminação de críticas ao governo, mas isso deveria ser considerado normal e saudável.
O Twitter é hoje a principal arena do debate público na internet brasileira, com informações independentes fluindo livremente, da extrema esquerda à extrema direita. Seu banimento representaria um apagão informacional sem precedentes, bem como uma interdição maciça e radical do embate livre e democrático de ideias. Uma medida assim teria consequências que são até difíceis de imaginar.
Sempre será possível encontrar pretextos e justificativas legais para medidas extremas como o bloqueio do Twitter, sempre será possível tentar satanizar Elon Musk afirmando que ele representa uma ameaça à democracia. Mas o fato é que não existe no planeta democracia digna do nome na qual o Twitter esteja bloqueado. Por que somente a democracia brasileira estaria ameaçada?
Mas a escalada da insanidade não se limita ao X/Twitter. A Starlink, empresa de internet via satélite da qual Elon Musk é sócio majoritário, também entrou no radar da sanha punitiva e persecutória.
A Starlink tem 215 mil antenas no Brasil. Se for prolongado, o bloqueio das contas da empresa colocará em risco a oferta de internet nas áreas rurais e nas regiões mais remotas do país, onde a infraestrutura convencional de telecomunicações não está disponível, ou é insuficiente. Centenas de milhares de brasileiros correrão o risco de ficar sem acesso à internet. Isso inclui escolas e hospitais públicos.
Mas não é só isso. A eventual saída da Starlink do país acarretaria na diminuição da competição no setor de telecomunicações, o que fatalmente levaria a um aumento nos preços e à redução na qualidade dos serviços ofertados, especialmente nas regiões mais carentes. O povo brasileiro, como sempre, será o principal prejudicado.
O Brasil está vivendo momentos muito tristes, com instituições desacreditadas e boa parte da população desesperançada e com medo. Nada de bom pode vir daí.
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