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Luciano Trigo

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Tudo é relativo

A loucura segundo Einstein (ou não)

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Segundo uma citação erroneamente atribuída a Albert Einstein, loucura é esperar resultados diferentes fazendo tudo exatamente igual. A frase pode não ser do gênio da Física, mas nem por isso deixa de ser verdadeira. (Outra citação erroneamente atribuída a Einstein diz respeito a juros compostos, mas esta fica para outro artigo).

De que estamos vivendo tempos muito loucos, não resta a menor dúvida. A cada dia novos limites do bom senso são rompidos, dando razão mais uma vez ao criador da Teoria da Relatividade, que também disse (ou não disse, sei lá se foi ele mesmo): “Duas coisas são infinitas: a estupidez humana e o universo; e não estou tão certo em relação à última.”.

Mas tem coisas que fica difícil entender.

Pouquíssimo tempo depois da divulgação do resultado das eleições de 2022, ficou claro que a promessa de pacificação do país era mesmo apenas isso: uma promessa.

Na prática, nos 16 meses seguintes o que se viu – todos os dias, 24 horas por dia, sete dias por semana – foi um esforço coordenado e sem descanso para destruir politicamente o candidato derrotado (por uma margem mínima, diga-se de passagem).

Até aí, tudo bem, foi uma escolha, um cálculo político, um plano que até poderia dar certo. Mas uma coisa a manifestação de domingo na Paulista deixou clara: esse plano fracassou miseravelmente.

E não é apenas a manifestação, seguramente uma das maiores e mais pacíficas da História republicana (negar isso é apenas ridículo, não passem vergonha), que leva a essa conclusão: periodicamente, pesquisas demonstram que, apesar do massacre implacável, Bolsonaro continua, no mínimo, tão popular quanto era em outubro de 2022. Talvez até mais. O mesmo não se pode dizer, infelizmente, de algumas instituições.

Qualquer estrategista político minimamente conectado com a realidade já teria feito uma correção de rumo. Porque a pancadaria diária não funcionou. A perseguição incessante não funcionou. As denúncias (não vou nem entrar no mérito) não convenceram. Já passou da hora de alguém se levantar e falar: “Gente, vamos pensar em um plano B, porque está na cara que o plano A fracassou”.

Mas não. Ao que tudo indica, continuarão (o “continuarão” inclui o Judiciário e a grande mídia) fazendo a mesma coisa, na expectativa de que o resultado seja diferente. Loucura?

Em seu discurso na Paulista, o pastor Silas Malafaia disse, dirigindo-se a Bolsonaro: “Se eles te prenderem, não vai ser para a sua destruição, mas para a destruição deles.” Soou profético.

Aliás, outra citação relacionada à loucura, esta atribuída a Eurípedes, poeta trágico grego do século 5 a.C., diz o seguinte: “Os deuses primeiro enlouquecem aqueles a quem querem destruir” (“Quos volunt di perdere, dementant prius”). Estariam os deuses em ação?

Em seu discurso na Paulista, o pastor Silas Malafaia disse o seguinte, dirigindo-se a Bolsonaro: “Se eles te prenderem, não vai ser pra sua destruição, mas para a destruição deles.” Não sinto particular simpatia por Malafaia, mas soou profético.

Daqui a menos de oito meses teremos eleições municipais. Em um ano que promete dificuldades crescentes na economia, teimar na polarização e na divisão do país não parece uma estratégia inteligente.

O povo está cansado, a vida não está melhorando. Em alguns aspectos, como na percepção da violência e da censura, está piorando. Há um clima geral de desânimo e apreensão no país. As pessoas comuns não aguentam mais ser divididas em “nós” e “eles”, nem querem ter medo de dar sua opinião.

Em uma democracia, pacificação é o convívio civilizado entre diferentes. Pacificação não se conquista perseguindo opositores, nem desqualificando quem pensa de forma diferente – nem, aliás, regulando as redes sociais.

Até por esperteza, seria mais prudente parar de negar o direito à existência de metade da população brasileira e, como sugeriu Bolsonaro na manifestação, passar a borracha no passado, para que o país retorne à normalidade e os brasileiros possam voltar a viver minimamente em harmonia.

Mas, aparentemente, a estratégia adotada será a oposta: transformar 2024 no terceiro turno de 2022. Já escrevi a respeito. É uma aposta de alto risco, até porque o histórico do PT em eleições municipais não é bom.

Na verdade, vem piorando a cada eleição. Basta dizer que em 2020, pela primeira vez desde a redemocratização do país, o partido não elegeu prefeitos em nenhuma capital.

Se esta tendência for confirmada nas eleições deste ano – com derrotas nas capitais e, principalmente, em São Paulo, onde todas as fichas serão depositadas em um candidato com alto índice de rejeição – a segunda metade do Governo pode ficar bem mais difícil.

Mas, como (não) disse Einstein, tudo é relativo. No Brasil, até o passado é imprevisível.

P.S. Popó declarou voto em Bolsonaro. Ele simboliza uma ameaça à democracia? Não sei em quem Kleber Bambam votou, mas é ele quem simboliza a democracia? Fiquei confuso.

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