Em 2003, quando Israel atravessava uma grave crise econômica, com acentuada queda do PIB, déficit nas contas públicas e altos índices de inflação e desemprego, Benjamin Netanyahu foi chamado para ocupar o cargo de ministro das Finanças. Seu desafio era apresentar, em um prazo de três semanas, um plano econômico que tirasse o país do buraco.
Ele sabia qual era o caminho para superar a crise: um Estado mais leve e um mercado mais forte. Mas sabia também que esta era uma mensagem de difícil assimilação para a sociedade israelense, habituada a um modelo econômico altamente centralizado e estatista, semi-socialista em alguns aspectos.
Netanyahu acreditava firmemente na supremacia do livre mercado, mas também sabia que, como esta supremacia não era algo “auto-evidente” para a maioria das pessoas, cabia aos líderes da nação não somente fazer as escolhas certas e tomar as melhores decisões, mas também comunicá-las de forma eficaz à população.
Elaborado o plano, ao cabo das três semanas previstas Netanyahu deu uma entrevista coletiva que ficou famosa, na qual contou um episódio de sua juventude.
Durante o serviço militar obrigatório (que em Israel é realmente obrigatório, vale lembrar: dois anos e meio para homens e dois anos para mulheres), o sargento colocou os recrutas em uma fila aleatória, para participar de uma corrida peculiar. As regras eram: cada soldado teria que carregar nos ombros o colega ao seu lado.
Duas duplas se destacaram na corrida: a de um recruta magrinho que teve que levar nas costas o recruta mais gordo do pelotão; e a de um recruta robusto, que deu a sorte de carregar nos ombros um colega franzino.
Como era previsível, o recruta magrinho colapsou no meio do caminho e sequer completou a prova – vencida, com folga, pelo recruta com a carga mais leve.
Quando a carga tributária de um país cresce a ponto de penalizar o trabalho e o investimento privado, ocorre perda de arrecadação
Em todas as economias modernas, explicou Netanyahu na entrevista, acontece uma corrida na qual o setor público está montado nas costas do setor privado: “No nosso caso, o setor público se tornou grande demais, gordo demais, e o país está a ponto de colapsar. Precisamos colocar o homem gordo em uma dieta severa, precisamos fortalecer o homem magro e precisamos remover os obstáculos do trajeto, as barreiras que prejudicam a competição”.
A história ficou famosa em todo o país como a parábola do homem gordo e do homem magro. Assunto de conversa de bar e de taxistas, a história se tornou a necessária narrativa popular que ajudou a entender as medidas adotadas pelo ministro: limitar o papel do setor público e dos sindicatos, aumentar a liberdade econômica, reduzir os gastos públicos e o tamanho do Estado, reformar a Previdência, encorajar a inovação e o empreendedorismo, investir em infraestrutura e reduzir a carga tributária (em mais de 20 pontos percentuais, tanto para pessoas físicas quanto para empresas).
Fizeram tudo isso, e funcionou. Como consequência das reformas implementadas por Netanyahu, os investimentos privados, inclusive estrangeiros, aumentaram barbaramente, ensejando um crescimento médio de 5% ao ano na década seguinte (mesmo com o fraco desempenho de 2008, em função da crise global daquele ano).
Netanyahu conhecia bem a curva de Laffer, citada no meu artigo “Números contra narrativas”, e entendia que, quando a carga tributária de um país cresce a ponto de punir o trabalho e o investimento privado, ela acaba provocando uma diminuição da arrecadação.
O raciocínio é simples: por que trabalhar e investir mais, gerando empregos, se o Estado vai abocanhar uma parte cada vez maior do que eu produzo?
A parábola do homem gordo e do homem magro também se aplica ao Brasil, mas tudo indica que ela será solenemente ignorada
Mas não se tratava apenas disso. Netanyahu sabia que o mundo é competitivo, que as nações competem entre si e que, se o líder de uma nação não proteger os interesses do seu povo, o país rapidamente ficará para trás.
(Hipótese a ser desenvolvida: o que pode estar em curso no planeta neste exato momento, com a propaganda maciça em torno da agenda ESG, é um ambicioso e deliberado projeto de congelamento do poder global, cujo resultado prático será restringir o potencial de crescimento do nosso país e condenar o Brasil – ainda que com argumentos muito bonitos, como o da proteção ao meio-ambiente – a um papel periférico no concerto das nações.)
Por óbvio, a parábola do homem gordo e do homem magro também se aplica ao Brasil. Mas tudo indica que ela será solenemente ignorada, a julgar pelos movimentos dos primeiros 60 dias do novo governo.
Os sinais são claros: os reiterados ataques ao teto de gastos; a criação e aumento (ou “recomposição”) de impostos; a perpetuação do discurso de palanque eleitoral; as críticas à independência do Banco Central; as possíveis restrições à liberdade econômica (com a proposta, por exemplo, de regulamentar o Uber); a política externa ideologicamente orientada; e, não menos importante, a retomada com força do discurso do “nós contra eles”, que tanto mal já fez a este país.
É uma receita que já deu errado em diversas ocasiões, em países vizinhos e aqui mesmo no Brasil, resultando em inflação, desemprego, desaceleração da economia e aumento da pobreza.
Como diz a frase erroneamente atribuída a Albert Einstein, “insanidade é fazer a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Se a atribuição de autoria é equivocada, nem por isso a tese é menos verdadeira.
Mas desta vez vai dar certinho, confia.
[Disclaimer: nos tempos estranhos que vivemos, por via das dúvidas, talvez seja necessário enfatizar que as palavras “gordo” e “magro” foram empregadas, ao longo deste artigo, sem qualquer conotação gordofóbica ou magrofóbica.]
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